- Meninos! Vão ao galinheiro buscar ovos se faz favor.
- Espera.
- Ok. Não faço os crepes, então!
E eles voaram, porta fora, com um torpedo nos pés.
Há uns quantos domingos, ao fim da tarde, fiz tantos crepes que acabou por ser isso o jantar. Com patê, com queijo fresco, fiambre, mel ou nutella, cada um comeu como quis e até querer. No fim, muito consolados, exclamaram que o jantar de domingo bem podia ser sempre aquele.
(Teoria número um: sem regras.)
- Ai Ana, que bons! Como os fazes?
Ora bem, como é que se explica o que se faz sem receita?
- Então, ponho leite, farinha...
- Em que quantidade?
Pronto, a pergunta mais tramada!
- Sei lá, um alguidar pequeno quando somos poucos e um alguidar maior quando há visitas, como hoje.
- E mais?
- Acrescento uns quantos ovos...
- Quantos?
Arre!!
- Uns quantos, já disse. E uma pitada de sal, um pouco de açúcar, de azeite e de canela. Acho que está tudo.
- Não sei como fazes as coisas sem respeitar quantidades.
Mas eu respeito as quantidades! Não sei é quais são! Além do mais não me parece boa ideia embarcar em qualquer tipo de criação (até a culinária) espartilhada por regras, medidas e pesos. Para onde iria o prazer e a criatividade? Deve ser por isso que nunca sigo receitas.
(Teoria número dois: aumentar o desafio) Mas há mais. Quando fazemos vinte, trinta, quarenta crepes, não nos safamos com uma frigideira apenas. Comecei por usar duas, ando a usar três e, estou em crer, brevemente passarei às quatro. É claro que os miúdos se riem quando me ouvem dizer: "E agora ainda mais perigoso, este número de circo!"
- Olha, pai, olha! A mãe parece uma malabarista!
No fundo as teorias do crepe resumem-se a uma só: diz-me como fazes crepes e dir-te-ei quem és!
Ana Amorim Dias
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