Tive nota máxima, hoje ao pequeno almoço.
- Excelente, mãe! Tens nota máxima neste pequeno almoço!
E tudo porque preparei ao João um copo de leite fresco e uma torrada com fiambre.
O gato roçou-se nas minhas botas e miou. Não me deu nota máxima porque deixei acabar as latinhas e teve que comer ração.
Dei uma dentada na minha torrada e regressei à questão da manhã: "Porque é que o Oscar me acordou antes do despertador tocar?" Acordei com o cérebro a sussurrar Wilde... Wilde... Oscar Wilde. "Ou seria wild? Não. Era Wilde, Oscar Wilde. Bolas, logo hoje que eu queria escrever a crónica sobre a frase de Enrique Morente!"
"Bem, Ana, vais ter que conciliar o escritor irlandês com o músico espanhol, não te resta outra opção!" concluí, enquanto guiava atrás de um trator sem me aperceber que o podia ultrapassar se quisesse.
"A liberdade é a arte de viver" escreveu Morente.
"Cada um de nós passa a vida buscando o segredo dela. Pois bem, o segredo da vida é a arte" escreveu Wilde.
"Será a arte a derradeira sublimação da liberdade humana?" pensei eu.
"Um homem que não tem pensamentos individuais é um homem que não pensa": Wilde de novo. Eu sorri. Porque penso. De facto. E muito.
Penso a liberdade a ponto de a sentir e viver. Sou livre por pensar apenas por mim, sem formatações nem cedências. E vivo a arte. Ohh sim, vivo-a ao minuto, com a intensidade de quem sente tudo o que cria.
"Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe": Wilde outra vez. "Realmente..." pensei, "realmente para existir basta respirar. Mas para de facto viver? Para isso é necessário ter a arte de pensar. E a liberdade de sentir... a arte e a vida!"
Termino a meia de leite a sentir-me feliz e viva. Entre pensamentos livres e arte sentida. O segredo da vida consiste na liberdade de pensar e sentir a felicidade ao receber a nota máxima com uma torrada de fiambre. E sim, é esta a "wild" arte de viver!
Ana Amorim Dias
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