Num relatório divulgado pelo jornal científico Science nas últimas semanas, um grupo de 16 investigadores fez um ponto de situação, sintetizando o que já se conseguiu apurar sobre as fake news, também apelidadas de factos alternativos. "Informação fabricada que mimetiza conteúdos noticiosos dos media na sua forma mas não no seu processo organizacional ou na [sua] intenção", como a descrevem no trabalho que publicaram.
Nos últimos anos, foram muitas as notícias falsas que as redes sociais e até alguns meios de comunicação social espalharam, muitas delas acompanhadas por imagens e/ou por vídeos que nos faziam acreditar nelas. Uma situação que levou os cientistas a questionar o impacto social destas mentiras, refletindo sobre a influência que as fake news podem ter nas pessoas e sobre a capacidade das plataformas de internet as conseguirem identificar.
"Como poderemos ser bem sucedidos na criação e na perpetuação de uma cultura que valorize e promova a verdade?", questionam os autores do relatório. Separar o trigo do joio passa, assim, cada vez mais, pela valorização dos meios de comunicação com maior credibilidade e reputação, analisando atentamente a fonte da notícia para atestar da sua veracidade e não se deixar enganar, como sucedeu nos casos que se seguem.
1. Melania Trump recorre a uma sósia para se fazer representar
Foi uma das fake stories do ano passado. De um dia para o outro, surgiram notícias na internet que garantiam que, em muitos dos atos oficiais, não era Melania Trump que surgia ao lado do presidente dos EUA mas, sim, uma sósia. A notícia, alegadamente falsa, era acompanhada por vídeos nos quais Donald Trump proferia afirmações como "A minha mulher, Melania, que está aqui ao lado", que muitos diziam ser para disfarçar.
2. Francês usa um pão para assaltar uma mulher
As pessoas adoram histórias sensacionais e insólitas e esta fez correr muita tinta. Um site satírico escreveu que Louis Paul, um homem francês, teria usado uma baguete no lugar de uma arma para assaltar uma mulher, identificada como Ally Louia, que saía de uma joalharia, roubando-lhe cerca de 570 €. Nas redes sociais, a notícia espalhou-se rapidamente, mas descobriu-se posteriormente que não passava de uma invenção.
3. Henry Cavill morreu
Nos últimos anos, foram muitas as celebridades que a internet e que as redes sociais mataram. No caso de Henry Cavill, ator britânico que já vestiu a pele de Super-Homem no cinema, além das muitas notícias que começaram a surgir, houve uma situação que muitos acharam que poderia atestar a veracidade da informação. A enciclopédia digital Wikipedia atualizou a página do ator, dando-o como morto a 03 de março de 2018.
Nas redes sociais, Henry Cavill reagiu com sentido de humor. "Quando descobres que morreste há dois dias", escreveu na legenda de uma fotografia que publicou na rede social Instagram.
Os atores norte-americanos Sylvester Stallone e Mark Hamill são outros dos famosos que as plataformas digitais deram recentemente como mortos. "Não me apressem", afirmou o intérprete de Luke Skywalker nalguns dos filmes da saga cinematográfica "Guerra das estrelas".
4. The Washington Post pagou a mulheres para acusarem Roy Moore
Depois do candidato republicano Roy Moore anunciar a sua candidatura ao cargo de senador, nos EUA, surgiram notícias, algumas delas veículadas pelo conceituado jornal The Washington Post, que ligavam o político a um caso de abuso sexuais de menores. Pouco depois, começava a circular a informação que o seu acusador tinha sido preso por falsas declarações, mas as manobras de diversão não se ficaram por aqui.
O site pro-republicano The Gateway Pundit publicou um tweet [publicação na rede social Twitter] a acusar o jornal, que o ano passado inspirou um filme do realizador norte-americano Steven Spielberg, de ter pago a várias mulheres para acusarem Roy Moore de as ter molestado. O candidato a senador acabaria por perder a eleição. "Por pouco", como sublinha a jornalista da revista Vanity Fair Maya Kosoff, que também denunciou o caso.
5. Seth Rich colaborou com o WikiLeaks
Em julho de 2016, Seth Rich foi baleado mortalmente nas proximidades do apartamento onde residia em Washington, capital dos EUA. Pouco depois, começavam a surgir informações sobre uma alegada teoria da conspiração que garantia que o funcionário do partido democrata tinha sido assassinado pela sua alegada colaboração com a organização internacional WikiLeaks. Uma represália (e)levada ao extremo.
Mais uma vez, a veracidade da informação não se confirmou. "Fox News e Casa Branca terão combinado notícia falsa sobre morte de Seth Rich", noticiaria o jornal Público pouco depois, a 1 de agosto de 2017. "Antigo detetive, que revela ter-se reunido com Sean Spicer [diretor de comunicação de Donald Trump] na Casa Branca, acusa a Fox News de lhe ter atribuído afirmações falsas", escreveu o jornalista português Manuel Louro.
6. Scott Baio morreu em casa em circunstâncias trágicas
É outra das fake news que milhares de pessoas leram. Aparentemente, o ator e diretor de televisão Scott Baio teria sido encontrado morto, aos 57 anos, numa pequena divisão da sua casa pelo marido, o também ator Willie Aames, outra mentira. Além de não viver com outro homem, Scott Baio está casado, desde 2007, com Renee Sloan, uma loura de 45 anos que sofre de uma doença cerebral que lhe causa desequilíbrio e demência.
7. O Iraque tem armas químicas
É uma das mais famosas. O principal argumento que levou os EUA e a Grã-Bretanha a invadir o Iraque em 2003, o de que Saddam Hussein, presidente do país, possuía armas de destruição maciça, foi baseado em informações falsas divulgadas por dois espiões iraquianos. Numa altura em que a expressão fake news ainda estava longe de atingir o peso que tem hoje, foram muitos os órgãos de comunicação social que as replicaram.
Hoje, sabe-se que não era verdade, como confirmaria, 10 anos depois, o documentário resultante de uma investigação conduzida pelo programa de televisão "Panorama", produzido da BBC. "O que parecia ser ouro em termos de inteligência acabou se revelando ouro de tolo, porque parecia, mas não era", afirmaria então o general Mike Jackson, chefe do exército britânico à data da invasão iraquiana.
8. Justin Bieber disse que a indústria discográfica é gerida por pedófilos
Em agosto de 2017, as afirmações atribuídas ao ídolo pop Justin Bieber, que afirmava ter sido obrigado a abusar sexualmente de uma criança numa festa com a elite da indústria discográfica norte-americana, caíram como uma bomba. "Eu não o queria fazer, disseram que o miúdo estava drogado", teria dito o cantor, obrigado a interagir sexualmente com o menor num "rito de iniciação" para ter "benefícios comerciais na carreira".
"É a diferença entre [deixar de] ser milionário e [passar a ser um] multimilionário (...) Para pertencer a esse clube, tive de fazer coisas horríveis àquele miúdo", teria ainda justificado o polémico intérprete de êxitos globais como "Love yourself", "Sorry" e "What do you mean?" a uma plateia constituída por um grupo de estudiosos da bíblia num auditório de Los Angeles. Mais uma vez, não passava de um facto alternativo, como alguns lhes chamam.
9. Tomada de posse de Donald Trump teve mais gente do que a de Barack Obama
Convencer o mundo que a tomada de posse de Donald Trump como presidente dos EUA teve mais gente do que a de Barack Obama, o seu antecessor, foi um dos objetivos de Sean Spicer, na altura à frente da comunicação do atual inquilino da Casa Branca. "É a maior de sempre em todo o mundo", garantiu na altura. Apesar de alguns media o terem noticiado, uma análise mais atenta permitiu verificar que foi, afinal, bastante inferior.
10. Sam Hyde matou 59 pessoas num tiroteio
No início de outubro de 2017, Stephen Paddock matou 59 pessoas a tiro no recinto do festival de música Route 91 Harvest, em Los Angeles. Na altura, ao dar a notícia da tragédia, alguns órgãos de comunicação social avançaram com o nome e com a fotografia do comediante norte-americano Sam Hyde, acusando-o de ser o autor do atentado. Na altura, foram muitas as histórias falsas relacionadas com o ataque que circularam no ciberespaço.
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