A recomendação é deixada no relatório “Plantar a Alimentação do Futuro”, no âmbito do projeto Proteína Verde da Associação Vegetariana Portuguesa em parceira com a associação ambientalista Zero, o projeto LeguCon e o laboratório colaborativo Food4Sustainability.

A iniciativa pretende promover a transição gradual para uma agricultura e sistema alimentar assente sobretudo na proteína vegetal e uma das conclusões do documento divulgado hoje, véspera do Dia da Sobrecarga da Terra, é que os passos dados por Portugal nesse sentido ainda são curtos.

“As atuais políticas públicas de Portugal, de apoio à produção de leguminosas ou, de um modo geral, à produção de proteína vegetal, são insuficientes, sendo que carecem de mais apoio e investimento por parte do Estado Português”, refere o documento.

Para as associações, a transição para uma alimentação de base vegetal tem benefícios não só em termos de saúde, mas sobretudo para a redução da pegada ecológica e para a mitigação dos impactos das alterações climáticos.

“Uma maior proporção de proteína vegetal na nossa alimentação (…) é também um contributo muito significativo para a neutralidade climática, para a diminuição da desflorestação inerente às importações de mercadorias contidas na alimentação animal e para a diminuição de pressões sobre os recursos hídricos, solo e biodiversidade”, refere Pedro Horta do grupo de trabalho de agricultura, floresta e biodiversidade da Zero.

Em comunicado, a mesma associação ambientalista sublinha que o consumo alimentar em Portugal representa 32% da pegada ecológica nacional, com um peso particularmente significativo da produção intensiva de proteína animal.

A produção de um quilograma de bife de vaca, por exemplo, contribui 80 vezes mais para a emissão de gases com efeito de estufa em comparação com a produção de um quilograma de feijão.

Por isso, e considerando a alegada insuficiência das atuais políticas públicas, o relatório recomenda um conjunto de 15 medidas que, no seu conjunto, pretendem reforçar os incentivos à transição para uma alimentação de base vegetal.

Uma das propostas passa por ter em conta os impactos ambientais negativos decorrentes da criação de animais para consumo na atribuição de apoios à agropecuária, o que se traduziria na redução e desfasamento gradual desses apoios.

Com o objetivo de reduzir a produção de proteína animal, é também recomendada a criação de um plano de incentivos para o encerramento gradual da atividade pecuária intensiva e conversão dos terrenos atualmente destinados à pecuária em unidades agrícolas de produção de base vegetal.

Por outro lado, propõe-se o reforço da estratégia de desenvolvimento da produção de proteína vegetal e da bioeconomia sustentável, a criação de mais incentivos à investigação e inovação e de um apoio a pequenas e médias empresas que desenvolvem atividade de transformação de leguminosas.

O relatório defende ainda a criação de programas específicos para o cultivo de leguminosas, com apoios a fundo perdido, direcionados a jovens agricultores com projetos de instalação iniciais de cultivo de leguminosas e produção de “proteína verde”, e a criação de mecanismos prioritários de aquisição de terras para produção de proteína vegetal.

Do ponto de vista formativo, é apontada a necessidade de capacitar os profissionais das cantinas públicas para a disponibilização de refeições de base vegetal e dos agricultores para as boas práticas do cultivo de proteína vegetal.

As associações propõem também que se crie uma rotulagem de pegada ecológica dos alimentos, um alívio fiscal para frutas, vegetais e leguminosas e que as diretrizes alimentares nacionais oficiais sejam alteradas.