O sistema, apresentado esta semana, é o primeiro capaz de apontar a localização dos focos de incêndio, assim como a sua tipologia, como queimadas ligadas a desflorestação ou limpeza de pasto.
A ferramenta da agência espacial foi desenvolvida em parceria com a Universidade da Califórnia em Irvine, nos Estado Unidos, e com a Universidade Cardiff, no Reino Unido.
“Em julho, o Brasil anunciou uma proibição de 120 dias de incêndios na floresta Amazónia, que foi apresentada como um esforço para limitar os danos ecológicos dos incêndios este ano. No entanto, a análise de incêndios liderada pela NASA indica que tem havido uma proliferação de fogos em pontos-chave de desflorestação nos estados do Pará, Mato Grosso e Amazonas, no sul da Amazónia”, indicou a agência no seu ‘site’.
O cientista do Centro Goddard da Nasa Douglas Morton, um dos responsáveis pelo projeto, indicou que, ao colocar em prática a ferramenta, descobriu “que um grande número de incêndios nesses estados é claramente fruto da desflorestação, e não de incêndios agrícolas em pequena escala”.
De acordo com a NASA, os incêndios que derivam da desflorestação destacam-se por serem “significativamente maiores” e durarem mais do que os restantes fogos.
Para saber se um incêndio tem origem na desflorestação, o novo sistema analisa o comportamento do foco de radiação do fogo detetado pelo satélite ao longo de vários dias e compara-o com pontos encontrados ao redor, de forma a poder efetuar uma classificação do mesmo.
“Os incêndios de desflorestação, por exemplo, normalmente têm maior poder radioativo de fogo, uma medida baseada em satélite de quanta energia um incêndio liberta”, explicou a NASA.
Enquanto que o fogo fruto da agropecuária tende a ser circunstancial e isolado, durando cerca de um dia, o fogo da desflorestação costuma ser persistente e emitir uma grande quantidade de radiação, causando maiores danos florestais.
“Além da área desflorestada em 2020, temos mais de 4.000 quilómetros quadrados de áreas desflorestadas de 2019 que ainda não foram queimadas. Uma grande preocupação é que se uma seca severa se desenvolver e tornar as florestas tropicais mais inflamáveis, poderemos em breve ver um dos piores desastres ambientais na Amazónia durante o século XXI”, alertou o ecologista da Universidade da Califórnia Paulo Brando, que ajudou a desenvolver o sistema.
A destruição da Amazónia brasileira aumentou 34,5% em 12 meses, contados entre julho deste ano e o mesmo mês de 2019, segundo um relatório divulgado no mês passado pelo Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE).
O aumento dos alertas indicia que a desflorestação e os incêndios na Amazónia brasileira podem ser ainda mais graves nesta temporada do que no ano passado, quando a devastação daquela região alarmou o mundo.
“Parece que estamos a caminhar para uma situação comparável a 2019, ou ainda pior”, acrescentou Paulo Brando.
Contudo, e apesar dos alertas internacionais, o Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, negou, no mês passado, que a Amazónia esteja a arder e afirmou que o Brasil é atacado de maneira injusta em relação à sua política ambiental, que garante ser de “tolerância zero”.
A Amazónia é a maior floresta tropical do mundo e possui a maior biodiversidade registada numa área do planeta, com cerca de 5,5 milhões de quilómetros quadrados, e inclui territórios do Brasil, Peru, Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname e Guiana Francesa (pertencente à França).
Comentários