Em entrevista à Lusa na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque, Guterres observou que os países se devem preocupar mais com o clima, porque é a segurança dos mesmo que está em causa.
“O clima, as alterações climáticas, são um dos piores perigos para a nossa segurança coletiva. Se continuarmos nesta situação, nós teremos vastas zonas do mundo em que as secas obrigam populações a mover-se aos milhões, criando uma enorme instabilidade. Nós vamos ter zonas costeiras completamente destruídas, uma vez mais, criando enorme instabilidade nos países”, disse.
“A disputa pela água é já hoje um fator de guerra em vários pontos do mundo, nomeadamente em África. No Sahel, um dos problemas essenciais da crise de segurança, do desenvolvimento do terrorismo, é o progresso da desertificação, as alterações climáticas e, por isso, combater as alterações climáticas, defender uma economia verde, é defender a nossa segurança coletiva. As energias renováveis são hoje um projeto de paz”, frisou Guterres, que tem nas questões ambientais uma das prioridades do seu mandato.
Tal como destacou o secretário-geral nas Nações Unidas, as catástrofes relacionadas com o clima agravaram consideravelmente nos últimos anos o deslocamento forçado de populações em África, que já é massivo devido à violência e aos conflitos, afirmou o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) em maio último.
De acordo com esse órgão da ONU, o continente africano está atualmente a enfrentar desastres naturais e conflitos que estão a causar o deslocamento de população de “uma magnitude sem precedentes”.
Em 2021, de acordo com um relatório do Centro de Monitorização de Deslocados Internos (IDMC, em inglês ‘Internal Displacement Monitoring Center’), 22,3 milhões de pessoas foram deslocadas internamente devido a desastres relacionados com o clima em todo o mundo, em comparação com 14,4 milhões desalojados por conflitos e violência.
As inundações e secas estão a tornar-se “mais frequentes e intensas e afetam gravemente países como Etiópia, Quénia, Somália e Sudão do Sul”, indicou o alto comissariado, referindo que as catástrofes relacionadas com às alterações climáticas arriscam não apenas agravar a pobreza, a fome e o acesso a recursos naturais como a água, mas também a aumentar a instabilidade e a violência.
A região do Sahel está na linha de frente da crise climática, com temperaturas a subir 1,5 vezes mais rápido do que a média global, o que só agrava os conflitos por recursos limitados, tornando a vida ainda mais difícil para aqueles que foram forçados a fugir das suas casas.
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