Numa mensagem áudio dirigida à cerimónia de apresentação do prémio, o presidente do júri e ex-Presidente da República Jorge Sampaio salientou que a adolescente sueca “conseguiu mobilizar as gerações mais novas para a causa do clima”.
Através da fundação com o seu nome, Greta Thunberg vai aplicar o dinheiro do prémio em ações de combate às alterações climáticas, começando pela campanha SOS Amazonia, dedicado a ajudar as populações da Amazónia a enfrentarem a pandemia da COVID-19, com 100 mil euros.
Outros 100 mil euros vão ser encaminhados para a Stop Ecocide Foundation, que pretende criar a figura criminal do “ecocídio” no caso de atentados em massa contra o meio ambiente e a natureza.
Numa mensagem vídeo, Greta Thunberg, afirmou esperar que o prémio a ajude a “fazer mais pelo mundo”. “Um milhão de euros é mais dinheiro do que consigo imaginar”, admitiu, garantindo que irá todo para “diferentes projetos e organizações que lutam por um mundo sustentável e defendem a Natureza”.
O cientista Miguel Bastos Araújo, especialista em biogeografia e impacto das alterações climáticas na biodiversidade, que presidiu a um dos júris que decidiu a vencedora, afirmou aos jornalistas que a escolha de Greta Thunberg teve por trás três critérios: “mérito, impacto e inovação”.
“Não se trata de concordar com todas as coisas que disse”, afirmou, quando questionado sobre a dimensão polémica da ativista, atacada e desvalorizada por líderes mundiais como o norte-americano Donald Trump, salientando que o nome de Greta Thunberg foi “nomeado de forma independente por três entidades independentes e passou entre 136 candidatos”.
Salientou que nunca na história humana “uma pessoa com 16 anos conseguiu mobilizar tantas pessoas”, principalmente pelo seu uso inovador das redes sociais, que multiplicou pelo mundo inteiro o impacto do que “começou como um ato isolado”, quando Greta Thunberg começou em 2018 a faltar às aulas para ir para junto do parlamento sueco exigir aos decisores políticos ações concretas para combater as alterações climáticas.
O responsável da Gulbenkian para a Sustentabilidade e ex-comissário europeu Carlos Moedas, frisou que a atribuição do prémio “reflete o que a luta [contra as alterações climáticas] vai ser, porque se vai polarizar entre os que querem construir e os que querem destruir o sistema, pensando que estão a criar um melhor sistema”.
“Greta quer construir”, assegurou, baseando-se no manifesto que a ativista enviou aos líderes europeus e no qual afirma que um dos objetivos do movimento que criou, o Fridays for Future, é “proteger a democracia”.
A presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, Isabel Mota, afirmou que deverá ser o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a entregar o prémio à ativista, que terá que conjugar uma vinda a Portugal com o estado do mundo face à pandemia e com um período de férias escolares, o que poderá acontecer entre novembro e janeiro do próximo ano.
Quem é esta jovem?
Greta Thunberg é hoje uma das vozes mais conhecidas na defesa do ambiente e as greves climáticas que iniciou são agora seguidas por milhões de jovens do mundo inteiro.
Greta Thunberg, nascida na Suécia em 2003, conquistou já um lugar na história como ativista pelo clima, mobilizando milhares de pessoas em manifestações para exigir medidas aos governos e disseminando pelo mundo a greve dos estudantes.
Da greve às aulas, que decidiu iniciar sozinha para protestar frente ao parlamento sueco, depois das ondas de calor e incêndios que assolaram o país, no ano passado, a adolescente despertou consciências e inspirou ações em vários países, num percurso curto, mas intenso, que a levou à capa da revista Time este mês. “Agora estou a falar para o mundo inteiro”, escreveu a jovem ativista ao partilhar o artigo nas redes sociais.
Filha de uma cantora de ópera e de um ator, Greta Thunberg tem já biografia aprofundada publicada na Wikipédia, como ativista pelo clima, e a editora britânica Penguin prepara-se para editar, em junho, os discursos com que tem enfrentado vários públicos, na rua ou nas sedes de poder.
“No One is Too Small to Make a Difference” (ninguém é demasiado pequeno para fazer a diferença) terá 11 discursos chave de Greta Thunberg, incluindo o proferido no mês passado no parlamento britânico.
À semelhança das instâncias de outros países, o parlamento português aprovou um convite à jovem ativista para discursar na Assembleia da República, mas Greta Thunberg já avisou que os jovens não querem tirar “selfies” com os políticos, querem medidas em defesa do planeta.
Começou por pedir ao parlamento sueco que reduzisse as emissões de carbono, no âmbito do Acordo de Paris, e sentava-se então todos os dias frente àquela câmara, durante o horário escolar. Em agosto havia decidido não voltar às aulas até às eleições gerais na Suécia, em setembro.
A ação da ativista, nascida em Estocolmo, organizou os jovens da sua geração e transformou-se num movimento à escala global, que realiza habitualmente greve às aulas nas sextas-feiras, além de manifestações e vigílias, a que têm aderido pais e professores.
Na entrevista à Time, publicada na semana passada, Thunberg fala da síndrome de Asperger que lhe foi diagnosticada e da forma como decidiu usar a diferença: “Vejo as coisas de uma forma um pouco diferente das outras pessoas, mais a preto e branco. As alterações climáticas são preto e branco”. Quando crescer, afirma, quer poder olhar para trás e dizer que fez tudo o podia.
Para Greta Thunberg, é importante o movimento contra as alterações climáticas ser liderado pelos jovens, pois são os principais atingidos pela crise climática, cujas causas atribui sobretudo aos países e grandes empresas.
“Começámos agora a limpar agora a vossa confusão e não vamos parar até termos terminado”, disse num discurso proferido em Bruxelas em fevereiro, sob constantes disparos de objetivas fotográficas.
A popularidade surpreendeu-a, mas conhece bem os relatórios das organizações internacionais sobre o clima, cujas cifras usa com precisão para ilustrar o discurso em defesa da causa que está a liderar. “Se pensam que devíamos estar na escola, então tomem o nosso lugar nas ruas, fazendo greve no vosso trabalho”. Assim desafiou os críticos da atuação dos estudantes.
Participou em manifestações em várias cidades, que juntaram milhares de pessoas. Aos líderes da Cimeira do Clima das Nações Unidas (COP24), disse que apenas falam de economia verde por terem medo da impopularidade, mas que na realidade o fardo fica para os filhos.
O movimento que iniciou levou também a convites este ano para discursar no Fórum Económico e Social em Davos, na Suíça, no Parlamento Europeu, no Senado italiano e até se encontrou com o Papa Francisco, que a incentivou a continuar o protesto.
No perfil da ativista, a agência espanhola Efe destacou que foi eleita mulher do ano na Suécia, pelo tabloide Expressen, e uma das pessoas mais influentes do mundo pela revista Time.
A Time garante que o mundo está a ouvir o apelo de Greta Thunberg e cita estimativas dos organizadores de acordo com as quais 1,6 milhões de pessoas terão saído à rua a 15 de março, em 133 países, no âmbito da greve climática inspirada pela ambientalista sueca.
Greta Thunberg foi ainda indicada para o Prémio Nobel da Paz por três deputados noruegueses.
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