O calendário da organização dedicada à sustentabilidade, divulgado pela associação ambientalista portuguesa Zero, salienta que este ano se começa “a usar o cartão de crédito ambiental" três semanas mais tarde do que no ano passado, mas sublinha que tal se deve apenas à pandemia de COVID-19 e não a planeamento e mudanças estruturais.
A Zero lembra, em comunicado, que a resposta mundial à COVID-19 levou à redução da pegada ecológica da humanidade em quase 10% e ao adiamento do Dia da Sobrecarga do Planeta, mas que ainda assim se esgotaram agora os recursos existentes para o ano inteiro, pelo que vão ser usados em 2020 os recursos naturais equivalentes a 1,6 planetas Terra.
Devido à pandemia, a redução da pegada ecológica permitiu ver “o mundo que podemos ter se agirmos no sentido de criar um futuro sustentável”, mas é preciso agora construir “um futuro onde todos possam prosperar dentro dos limites do planeta”, refere a Zero.
E esse futuro constrói-se, adianta a organização, com mudanças na forma como se produzem e consomem alimentos, na quantidade de bens que se consome, na forma de mobilidade ou nas fontes de energia utilizada.
De acordo com o comunicado, a redução da pegada de carbono para metade iria fazer com que o “cartão de crédito ambiental” só começasse a ser usado no fim de novembro (93 dias mais tarde).
E reduzir para metade a pegada ligada à mobilidade, com mais quilómetros andados a pé ou de bicicleta, faria com que o cartão só fosse acionado em setembro. O mesmo acontecendo com uma redução para metade do consumo de carne, ou a redução também para metade do desperdício alimentar.
“O défice ecológico global começou no início da década de 1970. Agora, a dívida ecológica acumulada resultante é equivalente a 18 anos terrestres. Por outras palavras, o planeta necessitaria de 18 anos de regeneração para inverter os danos decorrentes do uso excessivo dos recursos naturais, assumindo que o uso excessivo seria totalmente reversível”, salienta a Zero, acrescentando que seria possível antes de 2050 consumir os recursos do ano sem ir buscar recursos futuros se em cada ano se reduzisse o défice em cinco dias.
No comunicado a associação alerta ainda para as emergências que a humanidade vive, que combinam alterações climáticas, perda de biodiversidade e pandemias de saúde humana e diz que ciência é clara quando alerta que clima, biodiversidade e saúde humana “estão totalmente integrados e interdependentes”.
E a propósito lembra que o Clube de Roma, que alerta para a gestão sustentável do sistema terrestre, apresentou no ano passado um Plano de Emergência para o Planeta, que esta semana reformulou face à pandemia de COVID-19, vista como uma manifestação de a ação humana ter colocado em “rota de colisão” os sistemas humanos e os sistemas naturais.
O novo plano do Clube de Roma identifica 10 ações que os países devem tomar na escala de uma década, como sejam, até 2030, a declaração dos ecossistemas críticos e das áreas protegidas como bens comuns mundiais e até 2050 a aprovação de uma moratória que pare a desflorestação.
E apresenta ainda outras 10 ações para os próximos 12 meses, que incluem por exemplo uma nova forma de tributação, taxando fortemente o que não é favorável para o planeta e reduzindo tributação ou não taxando o que é favorável.
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