Desde o início do ano, a Amazónia, conhecida como sendo o maior "pulmão verde" do planeta Terra, tem sofrido com os mais de 72 mil incêndios deflagrados, tudo devido a uma deflorestação acelerada devido às queimadas provocadas pelos proprietários dos terrenos.

Foi preciso que o céu de São Paulo, principal centro financeiro do Brasil, ficasse coberto de fumo negro – provocado pelos incêndios – para começar a encontrar culpados para esta situação.

#Hashtags não são suficientes. Como pode (realmente) ajudar a floresta da Amazónia
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Na imagem abaixo, proveniente da NASA, desde a sua plataforma Fire Information for Resource Management System (FIRMS), os pontos vermelhos indicam os incêndios ativos no Brasil. Os prejuízos desta calamidade a nível de terreno - que tem chamado a atenção das pessoas, principalmente nas redes sociais – só poderão ser analisados no final do ano com uma comparação com as imagens do ano passado. Estimativas apontam para que milhares de hectares do terreno da Amazónia estejam já queimados.

Imagem da NASA que mostra os incêndios ativos no Brasil
Imagem da NASA que mostra os incêndios ativos no Brasil créditos: © Fire Information for Resource Management System (FIRMS)

O que se sabe, com certeza, é que a deflorestação aumentou no mês de julho um 88%, referente ao mesmo mês do ano passado, tendo o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, apontado o dedo às ONGs.

“Já durante a campanha eleitoral, Bolsonaro disse que queria por fim à proteção de algumas áreas da Amazónia e que os povos indígenas tinham demasiado privilégios sobre estes terrenos. Um discurso a favor do partido Bancada Ruralista, que atua em defesa dos interesses dos proprietários rurais”, diz Miguel Ángel Soto, responsável do Greenpeace Brasil para temas relacionados com a Amazónia.

Resumindo, esta frente parlamentar tem como objetivo priorizar a exportação de carne, soja e etanol, mesmo que para isso tenham de passar por cima da ‘saúde’ do ecossistema da floresta amazónica.

“Estas queimadas de terra dispararam porque Bolsonaro gerou um cenário permissivo sem multas. Podes passar por cima da lei florestal com total impunidade. Ele [Bolsonaro] omitiu que houve anos em que a taxa de desflorestação no Brasil diminuiu e as exportações aumentaram. O melhor uso da terra permitia produzir mais quantidade, exportar mais produtos e desflorestar menos. Antes de Bolsonaro, o Brasil tinha superado a dicotomia entre desenvolvimento e desflorestação”, continua Soto.

Miguel Angelo dá um exemplo do que poderia acontecer se a União Europeia agisse como deveria: “Se o Brasil assinasse um acordo com a União Europeia para vender carne, soja e etanol, deveria exigir que esses produtos chegassem sem qualquer vínculo com a desflorestação atual. As empresas europeias estariam proibidas de comprar estes produtos cujas origens são desconhecidas. Além disso, as grandes cadeias internacionais deveriam recusar comprar soja oriunda da desflorestação da Amazónia”.

Organizações como a Amazon Watch explicam que há duas coisas que podemos fazer para ajudar a combater este problema, mesmo estando longe: uma é apoiar organizações que tenham como objetivo apoiar os povos indígenas e o habitat natural da Amazónia; a segunda é deixar de comprar os produtos dos agronegócios envolvidos na destruição desta floresta brasileira.

O Greenpeace Brasil vai mais longe e refere que todos nós temos, em parte, culpa pelo que está a acontecer, mas que também podemos fazer parte da solução.

“Há algumas semanas, o IPCC [Grupo intergovernamental sobre as alterações climáticas] afirmou que tem de haver uma mudança radical na forma como se come nos países ocidentais, argumentando que um menor consumo de carne significaria menos importações de soja. Para que a proteína que se produz noutros países não seja a proteína que nós comemos”.

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Em suma, defendem que um apoio à agricultura de proximidade poderia evitar males maiores, como os incêndios: “As vacas, porcos ou ovelhas que comemos na Europa não deviam alimentar-se da soja que chega da Argentina, Paraguai, Bolívia ou Brasil. Mais, reduzir a ingestão de carne proveniente das grandes fábricas industriais e optar pelas pequenas empresas que ajam conforme a sustentabilidade do meio ambiente. Não estamos a exigir que as pessoas sejam vegetarianas ou veganas, mas que reduzam a ingestão de carne e aumentem a quantidade de legumes, cereais, vegetais e frutas de proximidade. É algo que os nutricionistas também recomendam”.

O que está claro para os especialistas em alterações climáticas é que, se um dia a Amazónia chegar a um ponto irreversível, esta floresta tropical pode tornar-se numa savana seca. Se esta floresta amazónica, com uma área de 5 milhões e meio de quilómetros quadrados, deixar de ser uma fonte de oxigénio para emitir carbono, ela seria o principal motor para as alterações climáticas.