Antes de percebermos o que faz, ou não, uma floresta e porque tratamos aqui de grandes números, façamos um breve exercício de comparação para que tenha o leitor uma ideia das áreas em questão.

Partamos do nosso jardim luso. Tem Portugal 92 212 quilómetros quadrados (dados da Direcção-Geral do Território). Agora, multiplique-se esta área por 130 vezes. Ou seja, o nosso Portugal estendido no globo, ocupando uma área equivalente a mais de 11 milhões de quilómetros quadrados. Para a nossa população, estimada em perto de dez milhões de habitantes, teríamos, aproximadamente, um habitante por cada quilómetro quadrado. O mesmo é dizer que o risco de quezílias entre vizinhos diminuiria drasticamente.

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Minudencias à parte, multiplicando o nosso país pelo número atrás citado e com o resultado apresentado, estaríamos ainda aquém, da área ocupada pela maior floresta do mundo. E, não, não estamos a falar da Amazónia. A maior área de floresta à face do nosso planeta é a Taiga, como é denominada pelos Russos, ou Floresta Boreal, como lhe preferem chamar os norte-americanos e canadianos.

Entre os pesos-pesados do mundo dos reinos vegetais, sua majestade é a Floresta Boreal que ocupa mais de 12 milhões de quilómetros quadrados, estendendo-se da Sibéria à Escandinávia, sul da Gronelândia, Canadá, Alasca e Japão. Uma cintura em torno de todo o Hemisfério Norte só interrompida por águas oceânicas. Por si só, a Taiga ocupa perto de 30% do coberto florestal do planeta, maioritariamente composta por árvores coníferas. Tomemos como exemplo, o nosso pinheiro bravo, para se perceber quais são os seus parentes do Norte.

O que define uma floresta?

Aqui chegados e antes de comparações entre estas florestas do Norte e a outra cintura florestal de grande porte, a tropical, façamos uma travagem. Vamos perceber que o conceito de floresta é muito mais complexo do que a mera definição de “um conjunto de árvores de porte simpático, amigo do ambiente”.

Entre os pesos-pesados do mundo dos reinos vegetais, sua majestade é a Floresta Boreal que ocupa mais de 12 milhões de quilómetros quadrados

A FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) dá-nos uma definição: Uma floresta é “como uma área ocupada por uma cobertura de copa de mais de 10% e com uma dimensão de mais de 0,5 hectares [um hectare equivale aproximadamente a um campo de futebol]. As árvores devem ser capazes de chegar a uma altura mínima de cinco metros (m) na maturidade in situ”. Também a FAO nos deixa o seu relatório anual (dados de 2018) sobre a saúde das florestas à escala mundial.

Poderíamos ficar satisfeitos com esta definição que nos é dada pela FAO. O problema é que, no mundo, existem mais de 800 definições de floresta. Na prática vários países adotam, simultaneamente, múltiplas destas definições, o que não facilita sequer a gestão destas áreas e políticas comuns para a sua exploração e preservação.

Há, ainda, quem encontre na definição da FAO uma lacuna, ao referir-se somente às árvores, esquecendo toda a rede de interações complexas que existem sob e nas copas, assim como no subsolo. As florestas são lar para inúmeras plantas e animais, bem como populações humanas, que delas dependem.

A Taiga, o maior reservatório de CO2 do mundo

Se, sobre a Amazónia pendem as ameaças que as últimas semanas têm posto a nu, sobre a Taiga não pesam ameaças menores. Isso mesmo podemos ler no relatório anual “Trends in Ecology and Evolution”, que identifica os perigos à saúde da floresta Boreal (e às florestas em geral), nomeadamente a defesa dos territórios contra a indústria madeireira (entre 10% a 20% da área total), a ocupação humana, em expansão, com práticas agrícolas associadas e desflorestação, assim como os incêndios crescentes decorrentes da pressão humana sobre os territórios e alterações climáticas.

Refira-se que o potencial de captura de CO2 pela cobertura vegetal da Floresta Boreal é mais baixo do que o da congénere tropical. Contudo, o solo do bioma (ecossistemas, habitats ou comunidades biológicas), tem um enorme potencial de reter CO2. Este facto torna a Floresta Boreal o maior reservatório de CO2 à escala global. Os números falam por si: Se incluirmos no mesmo saco todas as florestas tropicais do planeta, estas acumulam a capacidade para armazenar 428 gigatoneladas de carbono. A Floresta Boreal tem a capacidade de retirar da atmosfera 559 gigatoneladas de carbono.

Finalmente, quais são os outros gigantes do mundo das florestas?

Com perto de sete milhões de quilómetros quadrados a Floresta Amazónica reina sobre todas as outras florestas da cintura tropical. A sua área ccupa sete estados brasileiros e parte de nove países da América do Sul. Um gigante que inclui diferentes habitats, com cerrados e campos rupestres, campinas, matas secas, manguezais, ilhas, praias fluviais e uma fauna e flora estimada em mais de 30 milhões de espécies. Abriga, ainda, perto de 20% dos recursos hídricos de todo o planeta, influenciando diretamente o equilíbrio climático da Terra.

Ainda nesta tabela de pesos-pesados, de referir a Floresta do Congo, na África Central, com 1.725.221 quilómetros quadrados, a segunda maior floresta tropical do mundo. Abrange sete países africanos: Camarões, República Centro Africana, República do Congo, Angola, República Democrática do Congo, Guiné Equatorial e Gabão.

Na quarta posição, figura a Floresta Temperada Valdiviana, entre a Argentina e o Chile, com 300.000 quilómetros quadrados, seguindo-se a Floresta Nacional Tongass, no Alasca (Estados Unidos da América), com uma área de 69.000 quilómetros quadrados.

Para um mapa detalhado com a percentagem de áreas com floresta, por país, encontra informação no site do Banco Mundial.