"Hoje, ser-se egoísta é quase uma coisa boa - chega a ser elogiado como condição necessária - enquanto se vai tornando impossível ou, de qualquer modo, indecorosa, a maior das qualidades humanas, que é o altruísmo."

Miguel Esteves Cardoso

Toda a gente gosta de se sentir especial, é um facto. Gostamos de ser valorizados de forma privada e em público. Gostamos que reconheçam o nosso esforço, as nossas competências. Gostamos de terminar um dia de trabalho com a sensação de que fomos capazes, de que temos valor. Este tipo de valorização contribui para a nossa necessidade psicológica de autoestima e sabemos como os melhores gestores o sabem fazer na perfeição.

Agora há uma questão que se põe: tudo o que é demais enjoa, diz o povo. E quando pensamos na frequência e na intensidade de um ego particular numa organização, podemos encontrar um problema se este se tornar demasiado inflamado. Por exemplo, vivemos numa época onde as "selfies" ganharam um mediatismo tal que só consegui vislumbrar mais um sinal, infelizmente, negativo do rumo da humanidade. Parece que tudo o que fazemos agora deve ser transposto para as redes sociais, para o mundo virtual. Que mais do que o prazer que retiramos de uma atividade, o que conta agora é o número de gostos, de partilhas, de visualizações. De individualidade. E estamos dispostos a tudo para o conseguir, até mesmos sorrisos plásticos, apertos de mão forçados ou poses ridiculamente atléticas. A vida virtual deve complementar a vida real e não o contrário!

Se for assim vista, parece-me que traz consigo inúmeras vantagens para os particulares e para as empresas. Tenho visto um aumento desta forma de estar onde o que conta (mais) é a divulgação, a imagem e a impressão que se passa. Mesmo que a qualidade dos serviços seja duvidosa, hoje em dia, basta um bom designer para se conseguir, pelos menos durante algum tempo, convencer-se o público de que se pode confiar nesta organização.

Vivemos num mundo competitivo, sempre a correr, onde muitos não olham a meios para chegar a fins. E nesses meios, surgem infindáveis lutas de egos que só prejudicam a organização. Situação essa que muitos preferem ignorar dado que os seus temas pessoais aparecem como mais relevantes, naturalmente. Haverá sempre quem trabalhe mais, quem trabalhe melhor, quem seja mais criativo, quem seja mais inspirador, quem seja mais organizado, quem seja mais impulsivo, quem arrisque mais, quem prefira a segurança, quem seja mais persistente, quem aprenda melhor, quem seja mais capaz de realizar inúmeras tarefas, quem seja mais bem-humorado, quem lidere melhor e por aí fora. Haverá sempre, também, diferenças entre as pessoas e o segredo de muitas empresas e negócios é, precisamente, conseguir combinar cada perfil com os colegas, no timing certo e com as funções que lhe são atribuídas. Como se de uma orquestra se tratasse e onde cada um tem a sua importância para uma melodia bem afinada.

Quando os egos aumentam na ânsia de valorização, poder ou controlo, perde-se o caminho comum. Perde-se a visão e a partilha. Muitos colaboradores atingem uma melhoria acentuada na sua qualidade de vida e isso faz com que os seus egos expludam. E essa ausência de humildade conduz, invariavelmente, a nuvens negras e incertas. Em ambientes laborais tóxicos, são incentivadas políticas de competição entre as pessoas onde são valorizadas até ao limite e, num ápice, são vistas como dispensáveis e como não tão influentes como "em tempos". São criadas invejas como forma de motivar e controlar: dividindo para reinar.

A meu ver, os egos destroem as organizações se em excesso. Acredito que é precisa a aceitação de que não somos todos iguais, de que temos pontos fortes e pontos fracos, que temos muito que aprender, mesmo que sejamos uma referência. E nesta perspetiva, podemos e devemos pedir ajuda aos colegas. Partilhar dúvidas, tristezas mas também conquistas. Mesmo que sejamos o homem ou a mulher do momento.

Luis Gonçalves
Psicólogo clínico e psicoterapeuta
Psinove – Inovamos a Psicologia
www.psinove.com