Fez uma pós-graduação em trabalhos de vidro para arquitetura, na Saint Martin’s, em Londres, onde experimentou bonecos de maquetes, transparências no vidro e manipulação de luz.

Quando chegou a Portugal, Maria Landeau, de 38 anos, sentiu tantas dificuldades no trabalho do vidro, que optou pelo acrílico com uma dupla finalidade: fazer candeeiros com material reciclável, já que a base de trabalho são as caixas dos telemóveis que transforma com arte e talento em peças que contam histórias.

O que a fascina no vidro?
O trabalho bidimensional, grandes planos de vidros trabalhado com ácidos, jatos de areia, serigrafia, enfim, tudo o que é possível trabalhar no vidro para a arquitetura.


Qual é a sua formação de base?
Sou formada em design gráfico e sempre tive um gosto enorme por arte. Por isso optei por pôr em prática tudo o que aprendi a fazer candeeiros a partir das caixas acrílicas dos telemóveis.


Os seus candeeiros têm feito sucesso?

Tem corrido muito bem. Acabei de fazer uma exposição para Guimarães, Capital Europeia da Cultura, com dez peças sobre o tema Guimarães, em que cada um dos candeeiros contava uma história da cidade.


E utiliza as mesmas técnicas que aprendeu em Londres para trabalhar o vidro?

As técnicas são diferentes, mas continuo tal como no vidro a procurar manipulação de luz artificial e criação de ambientes que contam histórias. Para isso uso as caixas da Vodafone que vão para o lixo, com a vantagem de ser um trabalho de reciclagem. Inicialmente teve só um propósito criativo, em que contava as minhas histórias à volta de um cubo, e, de repente, começou a crescer...


E já chegou a Espanha?

É verdade. Estou a trabalhar com o museu Rainha Sofia, a fazer histórias sobre os artistas que passam pelo museu, e outras sobre o próprio museu. Mais recentemente fiz sobre os jardins de Serralves.


Também vende as suas peças em lojas?

No início vendia. Deixava umas peças à consignação em lojas, mas é muito difícil porque as lojas aplicam margens muito exageradas e torna-se quase impossível escoar as peças. Trabalhar assim é muito complicado porque se faz um investimento muito grande e pode ou não vender-se.

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Como é que faz para vender os seus candeeiros?

Não tem sido difícil: as pessoas passam a informação umas às outras e essa é a divulgação mais eficaz. O mais motivador é saber que se está a comprar uma peça praticamente única, na medida em que faço, no máximo, dez candeeiros de cada tema.


Só trabalha sobre as caixas da Vodafone?

Para já sim, mas estou a pensar noutro projeto que também tem a ver com reciclagem dentro do mesmo espírito do meu trabalho: transparências e manipulação de luz, mas com uma nova componente.


Acaba por não pôr em prática a sua formação de base, o design gráfico?

Continuo a fazer design gráfico, porque, como costumo dizer, ajuda a pagar a renda, mas o gozo maior são as histórias que eu conto nos candeeiros...


Este trabalho criativo ocupa quanto tempo do seu dia?

É por picos, mas não chego a trabalhar todos os dias. Agora tenho estado muito mais ocupada com os candeeiros por ser época do Natal. E o mais curioso é que são as pessoas que me contactam que pedem temas específicos.


Gostava que os seus candeeiros se vendessem fora do País?

Estou a tentar. Tenho o site em construção em duas línguas, português e inglês, e espero que, a partir de agora, a internacionalização do meu trabalho se concretize. Até porque tenho trabalhado com fundações artísticas de grande relevo.


Quando fala do Museu Rainha Sofia e da Fundação de Serralves, faz peças para serem vendidas nas lojas dos respetivos museus?

Exatamente. Desenvolvo peças sobre os museus que se vendem nas lojas desses museus. Também já trabalhei em Espanha para a fundação Mapfre, na altura em que fizerem uma retrospetiva de Ives Saint Laurent.

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Gostava que o seu futuro profissional fosse este?

Adorava. Pelo menos o feedback que tenho à minha volta é de grande incentivo para continuar. Daí queo meu grande objetivo imediato seja dedicar mais tempo às minhas peças.


Trabalha sozinha no seu atelier?

Inicialmente fazia tudo sozinha, desde lixar as placas até à eletrificação dos candeeiros. Com o crescimento, passei a ter fornecedores que me fazem algumas peças e eu trabalho só a parte artística.


Qual é o seu objetivo?

Continuar a trabalhar a parte artística das minhas peças e, de preferência, fora daqui.


Continua a ir a Londres?

Agora tenho ido menos.


Tem algum hobby?

Tiro muitas fotografias mas acaba por não ser um hobby porque os meus candeeiros são montagens feitas a partir das minhas fotografias.


Está sempre focada no seu trabalho?

De tal forma que já me aconteceu viajar sem levar a máquina fotográfica para me obrigar a desligar.


São os ambientes que lhe inspiram as histórias ou procura-as?

As duas coisas. Às vezes é um ambiente num fim de semana fora de Lisboa que me inspira, ou vou à procura de imagens para sustentar a história que já está na minha cabeça, ou então são as pessoas que me pedem determinado tema.


Como é a sua vida familiar?

Tenho uma filha com nove anos que adora ler e escrever mas também dá a sua opinião sobre o meu trabalho, e sigo muitas vezes as sugestões da minha filha.


Que programas faz com a sua filha?

Vamos a exposições e aos workshops da Gulbenkian para crianças.


É otimista? Tem uma boa relação com a esperança?

Sim, embora em certos momentos me sinta mais desanimada, tenho sempre em mim a sensação de que as coisas vão correr bem! E acredito que o trabalho ajuda a vencer tudo.


O que a diverte?

A minha filha e os meus amigos.


Qual é o seu maior sonho?

Ter um dia uma grande exposição do seu trabalho em qualquer lugar do Mundo.

 

Texto: Palmira Correia