Há uma nova geração de pessoas com alma de empreendedores. Todos os dias dão provas de que as oportunidades estão aí. Quem pensa que as crises só trazem desgraça, engana-se. Quem pensa que não há solução para Portugal, também. A prova está numa série de negócios inovadores que têm vindo a aparecer numa altura em que o país está na moda, atrai turistas e investimento e até consegue que estrelas internacionais se fixem cá.

Basta estar com os cinco sentidos alerta para descobrir que ao seu lado, mais perto do que possa pensar, há alguém que acordou com uma boa ideia. Alguém que está a trabalhar num projeto que, mais tarde, se irá materializar num novo negócio. São ideias made in portugal, inteligentes, inovadoras mas também com aquele lado trendy que cativa novos públicos. Muitos projetos têm origem no empreendorismo jovem.

Micronegócios que se expandem

Nos últimos anos, não se tem ouvido falar de outra coisa a não ser de micronegócios criados por jovens com pouco mais do que 18 anos. Basta lembrar os menus de pequenos-almoços com a marca Bom dia Lisboa que foram notícia em 2013. Uma ideia de recém-licenciados, que acordam cedo para vender croissants com fiambre, pão de sementes com queijo, sumo e café em três estações do metropolitano da capital.

Esse é também o nome de um outro projeto original que reúne quatro pessoas de nacionalidades diferentes. À francesa Charlotte e ao norueguês David, que se encontraram em Lisboa, juntaram-se a portuguesa Helena e o holandês Maurice. Além de provas de vinho, organizam atividades de caça ao tesouro, passeios de vela, gastronomia, pintura de azulejos e aprendizagem de línguas para estrangeiros.

«Criámos este projeto porque queremos partilhar os tesouros de Lisboa», referem no site da empresa que criaram. A Over It do Martim, que mais não é do que um branding que pegou moda na linha de Cascais e que hoje já se vende em vários pontos em Portugal, mas também em Inglaterra ou na Suíça, é outro exemplo. O negócio? Impressão de logótipos em t-shirts, sweats e pólos.

Dificuldades que aguçam o engenho

Mas como criar um negócio se a austeridade condicionou o consumo privado e se os bancos já não emprestam dinheiro como antigamente? Como é que tal se consegue numa altura em que é tão difícil poupar? São aspetos reais que podem desmoralizar alguns mas, para outros, «as dificuldades servem para aguçar o engenho e, muitas vezes, as grandes oportunidades de negócio surgem em períodos de crise», explicava Manuel Lopes Teixeira à Saber Viver em 2013.

Se uma ideia de negócio «não é muito mais do que identificar um problema e encontrar uma solução para ele», como afirmou, na altura, o presidente da comissão executiva da Associação nacional de Jovens Empresários (ANJE), então é nestas alturas de conjunturas económica e socialmente complexas que as pessoas com alma de empreendedores «podem fazer a diferença», acredita o empreendedor.

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A necessidade de antecipar as necessidades do mercado

Quem está disposto a investir tempo e algum dinheiro tem de saber antecipar o que o mercado precisa, o que faz falta às pessoas. Há sempre espaço para negócios tendência ou de nicho, onde as redes sociais convivem tão bem. Mas até para esses é preciso fazer diferente e bem feito. Maria Galhardo vende colares na sua página do Facebook. Tem a cortesia de avisar as fãs quando tem nova coleção para mostrar.

Depois das fotografias serem lançadas, bastam três minutos para vender tudo. Também o projeto online My Farm se assumiu, no início da década de 2010 como uma versão realista do jogo online Farmville, porque o que lhe oferece é a possibilidade de controlar uma horta verdadeira através desta plataforma virtual. A que foi a primeira empresa social ligada à agricultura em Portugal gere e visualiza, em tempo real, 24 horas por dia, a sua horta.

E, quando a colheita é feita, só tem de abrir a porta e receber os seus produtos hortícolas em casa. Um projeto que nasceu de um desafio lançado aos alunos do Instituto Politécnico de Beja e que recebeu uma menção honrosa na área das startups no prémio Agricultura 2012, «Escolha portugal». Numa área distinta, mas também online, está a Nutriventures, a primeira marca de entretenimento infantil no mundo a promover a alimentação saudável.

Foi o maior projeto de animação infantil feito em Portugal, com um investimento de nove milhões de euros. Os miúdos ficam familiarizados com as mascotes da marca, aprendendo enquanto participam nas atividades online. E até há negócios que nasceram de uma brincadeira de Carnaval, como aconteceu a Filipa Carrêtas e Jorge Sá. Queriam mascarar-se de bonecos de Lego e começaram a fazer esse disfarce a partir de 18 placas de cartão canelado, desperdício de uma fábrica.

O resultado final foi «surpreendente e satisfatório», o que fez com que o projeto, que ganhou o nome Mo.ca, desse os primeiros passos. Hoje, os empreendedores criam mobiliário de cartão, objetos modulares, versáteis, leves e lúdicos, que mostram e promovem no Facebook. «Excelente ideia, pensada e executada por jovens com futuro», considera mesmo um dos visitantes da página.

Candeeiro

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Ideias que falam português

Nasceram em Portugal, mas podem ser vendidas em qualquer parte do mundo. É por isso que gostamos tanto delas:

- Latitid

Já ouviu falar na Latitid? Não? Então é melhor fixar este nome. É uma marca exclusivamente portuguesa de biquínis e fatos de banho. Coisa rara ou até agora inexistente em Portugal, um país de praia por excelência. Parece que há uma nova tendência a instalar-se num mercado dominado pelas marcas estrangeiras. Marta Fonseca, designer de moda, com vários prémios na área da moda, juntou-se a Inês Fonseca, com vasta experiência em empresas de grande consumo.

Um espaço onde a marca é a peça central do negócio. E depois há Fernanda Santos, production manager. As três empreendedoras arrancaram com o shopping online em maio de 2013, depois de terem pré-lançado a Latitid no Facebook e aberto os dois showrooms em abril de 2013. Num investimento inicial com recurso apenas a capitais próprios, a Latitid quer surpreender as portuguesas.

- Officina, Xperimental Shoes e Perks

Portugal sempre teve uma indústria forte de calçado. Mas a mão de obra especializada pode agora aliar-se aos novos designers de sapatos. Há novos e surpreendentes projetos nesta área. A Officina foi criada por duas empreendedoras de São João da Madeira que decidiram um dia lançar o negócio na internet. O facto é que Catarina e Isabel, entre tacões de madeira e sapatos rasos, viram que tinham fãs e que o projeto crescia.

Esta é uma marca muito exclusiva e para mulheres com atitude. Num estilo mais vanguardista, mas não menos interessante, surge a Xperimental Shoes. Célia e Ana Margarida adoram moda e comunicação. Centram o seu conceito na pesquisa e análise de tendências para se dedicarem a renovar os métodos de produção de calçado. Procuram diferentes e inovadores acabamentos de peles, aplicando-as também nas solas.

É um novo conceito de sapato que explora e desconstrói a moda. Além de terem os seus sapatos à venda em várias lojas do país também já estão em Barcelona, em Espanha. A dar cartas, cá dentro e lá fora, está também a Perks, a nova designação da marca Cohibas, que aposta no savoir faire e na experiência adquirida ao longo de gerações na fábrica dos proprietários para conquistar terreno no mercado internacional.

- Objetos misturados

Esta marca combina design, peças de autor, desenho e ilustração. As bonecas de pano, todas feitas à mão, dão vontade de recuar à infância para serem as nossas melhores amigas. Foram, aliás, estas bonecas que estiveram na origem da abertura da loja em Viana do Castelo. Este negócio, que nasceu em 2008, pela mão de Susana Jaques e Hélder Dias, preparava-se para abrir a loja online no verão de 2013.

Além das bonecas, a Objectos Misturados vende outros artigos, a maioria de autores portugueses, como as carteiras inspiradas nos lenços de Viana ou nas histórias dos livros da Anita.Quem não se lembra? Passe por lá ou descubra as novidades que a marca vai apresentando no Facebook. Além da loja, aproveite para conhecer o ateliê e a galeria que o projeto também integra.

Veja na página seguinte: Mais projetos e ideias que se distinguem

Fine & Candy

Simplesmente adorável e imprescindível. O quê? A marca de estacionário tradicional de luxo. São blocos de nota, agendas, lápis de grafite, afias, pisa papéis e caixas de papelaria. Com quatro coleções anuais, as propostas da Fine & Candy combinam com as estações do ano e têm também edições limitadas. Adoramos a produção nacional que junta novos desenhos a tradições com mais de cem anos.

Pode personalizar as peças, um bloco de notas com o seu nome, por exemplo. Também há cartas, envelopes, até convites de casamento ou de agradecimento. «O papel é um meio de expressão, um meio de poder riscar», justifica Artur Miranda, CEO da empresa. Se fizer uma encomenda de valor igual ou superior a 60 €, independentemente de onde resida em Portugal, os portes de envio são gratuitos.

- Camisola Amarela

Eles dizem que é possível andar de bicicleta em Lisboa e nós acreditamos. Até porque nas horas vagas o que mais gostam de fazer é downhill, BTT, escalada ou surf. Mas quando estão em Lisboa, ao serviço da Camisola Amarela, o que conta é pedalar pelas sete colinas se assim tiver que ser. É o primeiro serviço de estafetas de bicicleta em Lisboa. «Cerca de 25% das entregas nas cidades podem ser feitas desta forma», referem no site.

Documentos, livros e/ou pequenas encomendas, desde que caibam na mala dos Camisola Amarela, podem ser entregues, como eles dizem, em qualquer colina da cidade com 0% de emissão de carbono. Sob o slogan «Yes, we cycle», a empresa fundada em setembro de 2009 por Pedro Ventura oferece «soluções em torno da bicicleta a organizações e indíviduos em geral através de uma equipa com uma grande paixão pelas duas rodas».

- Da Joana

Vai ter um jantar de amigos e não sabe como decorar e preparar a sua sala? Quer planear uma semana de refeições para a família enquanto está fora? No Porto, Joana Vieira planeia, organiza e faz tudo isto sem que tenha de se preocupar e muito mais. Também prepara cestas de brunch, pequeno-almoços ou piqueniques para dias especiais. Ao lado dos scones, das compotas, do bolo caseiro, do sumo de laranja natural e do café, junta flores e uma mensagem personalizada.

Formada em marketing, a empreendedora decidiu tentar a sua sorte e a veia gastronómica herdada na cozinha da família, com a avó e a mãe. Assim nasceu o negócio Da Joana, em novembro de 2012. O espaço onde tudo é planeado e confecionado é a sua casa, embora o conceito seja promovido no Facebook, através da página Facebook.com/dajoanasegredo, onde partilha muitas das suas confeções.