Será que a bactéria Geobacter poderá gerar energia limpa e simultaneamente remover compostos tóxicos do ambiente?
Para a maioria, esta é uma dúvida filosófica mas, para Leonor Morgado, 29 anos, investigadora no REQUIMTE/CQFB do Departamento de Química da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, a pergunta
impõe-se naturalmente.
Essa é uma das questões a que pretende responder Leonor Morgado, doutorada em bioquímica pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, no âmbito de um projeto de investigação que pretende aprofundar o papel da bactéria Geobacter sulfurreducens nas áreas da bioremediação e da bioenergia. A bioquímica sabe que as bactérias da espécie Geobacter têm a capacidade de transferir eletrões para o seu exterior, uma particularidade que tem sido explorada em duas áreas específicas. Uma delas é na bioremediação, para desenvolver tecnologias sustentáveis para a remoção de compostos poluentes do meio ambiente.
A outra é na área da bioenergia, utilizando células de combustível microbianas nas quais os micro-organismos crescem produzindo corrente elétrica. Partindo deste conhecimento, a investigadora pretende compreender e otimizar a transferência extracelular de eletrões na bactéria Geobacter sulfurreducens, contribuindo para uma implementação mais eficiente destas tecnologias. Para tal, serão comparadas as eficiências da transferência eletrónica extracelular em bactérias contendo diferentes formas de proteínas fundamentais neste mecanismo.
A otimização dos processos de transferência eletrónica extracelular poderá conduzir à implementação de estratégias de bioremediação mais eficientes e de produção de uma forma de energia limpa e sustentável. Da mesma forma, se estes processos se revelarem eficientes, Leonor Morgado vai verificar se poderão ser acoplados, gerando-se energia limpa ao mesmo tempo que se removem compostos do ambiente, uma situação com vantagens reconhecidas.
Em entrevista à Saber Viver, a bioquímica, que no início de 2013 foi agraciada publicamente com uma
Medalha de Honra L'Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência, que pressupõe um prémio monetário no valor de 20.000 euros, explica como recebeu a notícia, fala das expetativas em relação à sua investigação e descreve como, em criança, já se interessava pela natureza e pela descoberta.
O que representa para si ganhar este prémio?
Este prémio representa o reconhecimento do trabalho que temos vindo a desenvolver no grupo de investigação liderado pelo professor Carlos A. Salgueiro no laboratório associado REQUIMTE na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa e irá permitir dar o passo em frente no trabalho que desenvolvi durante o meu doutoramento.
Qual é a maior inovação do projeto que acaba de ver distinguido e qual a aplicação prática que poderá vir a ter?
A dependência energética dos combustíveis fosseis é um problema que enfrentamos e é cada vez mais importante a procura de alternativas limpas e sustentáveis. O meu projeto de investigação tem como objetivo compreender e otimizar a transferência extracelular de eletrões na bactéria Geobacter sulfurreducens.
Esta bactéria tem a capacidade de transferir eletrões para o seu exterior e esta particularidade tem sido explorada para o desenvolvimento de tecnologias na área da bioremediação (nomeadamente na remoção de compostos poluentes do meio ambiente) e na área da bioenergia (utilizando células de combustível microbianas nas quais os micro-organismos crescem produzindo corrente elétrica).
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Pela primeira vez será comparada a eficiência destes processos em bactérias contendo diferentes formas de proteínas fundamentais para o seu mecanismo. No futuro, a otimização destes poderá conduzir à implementação de estratégias mais eficientes de bioremediação e de bioprodução de energia.
Fazer o que faz atualmente era um sonho de criança? Se não, como surgiu o gosto por estes temas?
Desde criança que tinha gosto pela natureza e pela descoberta e penso que a carreira na investigação acabou por surgir naturalmente pelo meu interesse em perceber o funcionamento das coisas.
É difícil ser investigadora e mulher num meio científico como o português?
Infelizmente, hoje em dia é difícil ser investigador em Portugal, independentemente de se ser homem ou mulher. Sendo mulher, a maior dificuldade será na conciliação com o início de uma vida familiar, uma vez que a carreira científica exige uma enorme dedicação.
Texto: Luis Batista Gonçalves
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