"Foi ele que me ensinou tudo o que eu sei sobre o vinho", afirma Filipa nesta entrevista com a doçura e a elegância que a caracteriza.
Mãe de quatro filhas entre os 30 e os 40 anos, tem 12 netos entre os 18 anos e os 8 meses, e, no final de Abril, nasce mais uma neta para sua grande alegria. A filha mais nova é a que trabalha mais na quinta sobretudo na parte da comercialização, enquanto as outras lhe dão o apoio moral que lhe sabe muito bem.
A Quinta da Bica situa-se numa das saídas de Seia. Terá sido um convento no séc. XVI, adquirido pela família Sacadura Botte no séc. XVII. É uma grande responsabilidade dar continuidade a esta marca familiar?
É, sem duvida, uma grande responsabilidade dar continuidade a tudo o que foi feito pelos que nos antecederam.
A Quinta lançou-se na produção e engarrafamento de vinho com marca própria em 1989, embora tudo tenha começado no séc. XVII. Quem era esse antepassado considerado um dos vitivinicultores mais esclarecidos da época?
O seu nome era João de Sande de Sacadura Botte que morreu em Julho de 1888. Era oitavo neto de Miguel de Sacadura Albarado, administrador dos vínculos instituídos em Cidade Rodrigo por Hernan Botte Pacheco, de quem foi sexto neto; também administrou o padroado real de Legas, em Espanha, Senhor do Prazo da Silva, terceiro Morgado da Aguieira, foi o vitivinicultor mais esclarecido do seu tempo, tendo os seus vinhos dado renome à região do Dão, vindo citado nos trabalhos dos enólogos da época
Apesar de a produção ser relativamente pequena, 15 hectares, já ultrapasou fronteiras e hoje exporta para a Polónia, EUA, Bélgica, Noruega, Brasil, Suiça e Angola. A qualidade é o segredo do sucesso?
Um país pequeno como o nosso só pode apostar em produtos de qualidade. Só assim seremos conhecidos nos outros países.
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Os prémios são uma grande responsabilidade que nos obriga a ser cada vez melhor.
Recentemente a Quinta da Bica abriu as suas portas e recebe visitas convidando-as para provas de vinho, e também para conhecer os jardins, capela adegas e vinhos. As visitas são acompanhadas por si?
Sim. Nas visitas à quinta normalmente sou eu que acompanho as pessoas.
Os seus vinhos provém das castas Touriga Nacional, Alfrocheiro, Tinta Roriz e Jaen. Quem a ajuda na parte técnica?
Quem me ajuda na parte técnica é o engenheiro Paulo Nunes que é enólogo e é ele o responsável pelos vinhos que se fazem nesta casa.
É uma apreciadora de vinho? Costuma acompanhar as refeições com um copo de vinho?
Gosto muito de bom vinho e normalmente acompanho as refeições com um pouco de vinho tinto.
Tem quatro filhas e 13 netos que exigem seguramente muitas horas de atenção e disponibilidade. Consegue conciliar a sua atividade empresarial com a família?
A partir do momento em que decidi viver sempre na quinta estou menos com as minhas filhas e netos, mas falo com elas todos os dias.
É um motivo de orgulho ter a sua filha mais nova a trabalhar na empresa?
Sem dúvida nenhuma é a continuação.
Toda a família se envolve nas vindimas, até os netos?
Conforme as disponibilidades de cada um.
O que é mais gratificante na sua atividade empresarial?
Ver os resultados no fim de cada campanha, e ver que o vinho da Quinta da Bica já é uma referência no nosso País mas também no estrangeiro.
O negócio dos vinhos está culturalmente ligado aos homens. Tem sentido alguma dificuldade pelo facto de ser mulher?
Hoje em dia não há negócios de homens e mulheres gosto muito do que faço mas eu tenho 62 anos, sou da opinião de que as mulheres mais novas e com filhos são muito mais úteis à sociedade se estiverem em casa a educar os filhos dando-lhes princípios e valores etc., mas isso hoje em dia perdeu-se pois as pessoas tornaram-se muito exigentes e materialistas por isso os filhos muitas vezes passam para segundo plano.
O que a distrai nos tempos livres?
Gosto de ouvir música ler e pensar.
Qual é o seu maior sonho?
Se sonhos existem, gostaria de morrer com a consciência de que fiz tudo o que Deus pôs no meu caminho bem feito... mas isso só Ele!
Texto: Palmira Correia
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