É uma lutadora. Fala-se com ela e percebe-se a energia, o gosto e a paixão que tem pelas suas camisas.

Inspira-se em Paris, mas produz tudo em Portugal. Agora a crise está a afectar-lhe o negócio mas baixar os braços é posição que Esmeralda desconhece.

Vai virar-se para a exportação: crescer é a palavra mais repetida no seu dicionário.

A Chez Chemise tem 16 anos. Esta empresa começa por influência do seu marido que também está ligado ao negócio da roupa para homem?

Isto tudo começou com uma empresa familiar que me veio parar às mãos. Começou por ser um depósito da fábrica, mas, com a evolução das coisas, transformou-se numa empresa de pronto-a-vestir de mulher. Essa empresa ainda durou cerca de 10 anos. Foi aí que comecei a perceber que havia falta de camisas de algodão no mercado.

Aí decidiu colmatar essa falha criando as suas próprias camisas?

Quando comecei a ir às feiras internacionais a Paris, percebi que havia muitas lojas de camisas, e quis trazer para cá o conceito com um fit criado por mim.

O que é o fit?

São as medidas das blusas. A Chez Chemise tem sete tamanhos de camisas: desde XXS até XXL, que se adaptam a todos os tamanhos da mulher portuguesa.

Foi fácil arrancar com a produção em Portugal?

Não foi nada fácil porque as fábricas não estavam preparadas para fazer camisas de senhora com a minha etiqueta, os meus feitios e os meus moldes. Mas lá fui conseguindo vencer as resistências e pouco tempo depois já estava a abrir mais lojas.

Onde abriu a sua primeira loja?

Na Rua dos Fanqueiros, na sede da primeira empresa. Depois abri na Avenida de Roma, nas Caldas da Rainha, no Centro Comercial Saldanha Residence, na Rua Augusta, e tenho uma parceria em Aveiro.

Qual é a sua melhor loja?

A da Rua Augusta porque na Baixa há muitos turistas e 80 por cento dos meus clientes da Baixa são estrangeiros. Este tipo de loja vê-se muito lá fora e eles comparam os preços. Para os portugueses a Chez Chemise é cara mas para os europeus não é. Uma camisa com esta qualidade lá fora vende-se pelo dobro ou pelo triplo do preço.

Está a pensar crescer ainda mais?

Nesta altura só estou a pensar em conseguir aguentar as lojas. O sector moda está a ser um dos mais atingidos pela crise, sobretudo porque a maioria das minhas clientes sofreu um corte no vencimento. A Chez Chemise é uma marca vocacionada para a mulher executiva, da classe média alta, e essa está a receber menos. Pela primeira vez na história da minha empresa, as vendas caíram.

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Continua a ir todos os anos a Paris?

Vou quatro vezes por ano no Verão e no Inverno. Vou duas vezes comprar tecidos na Primière Vision, onde estão grande parte dos maiores fabricantes de tecidos do mundo, e duas vezes ver as colecções de moda. Neste momento já vi os tecidos que vão estar à venda para o próximo ano.

Inspira-se nos grandes criadores para conceber os seus modelos?

Tiro ideias mas nunca transporto para cá o que se usa lá fora porque a mulher portuguesa é completamente diferente. Por isso nunca copio peças, só tendências. Dou as dicas à minha designer e ela faz-me as fichas técnicas que levo para as fábricas para produzir.

As camisas Chez Chemise são todas feitas em Portugal?

Todas. Faço mais de 15 mil camisas por ano nas fábricas do Norte do País. Gasto centenas de milhares de botões e milhares de metros de tecido.

As suas lojas são todas pequenas para criar um ambiente mais acolhedor?

As clientes vêem a colecção toda ao mesmo tempo, envolvem-se com ela e, por outro lado, permite um atendimento mais personalizado.

A sua imagem de marca é a camisa branca?

Sem dúvida, apesar de já estar a introduzir alguns modelos nas camisas coloridas, o conceito foi feito a pensar nas camisas brancas.

Quanto custam as suas camisas?

Começam em 37.5€ até 120€ em seda natural. A empresa, para se adaptar às necessidades do mercado, vai-se reestruturar e, já a partir da próxima estação, vamos ter menos preços.

Quantas pessoas trabalham na Chez Chemise?

Nove vendedoras, uma economista, uma designer, uma vitrinista e eu, para além do empregado de armazém e dos meus filhos que também ajudam.
Assume-se empresária, mas passa por si todo o processo criativo.
Não me considero uma criadora porque, na minha opinião, os criadores fazem o que querem e eu não me posso dar a esse luxo: sou obrigada a fazer aquilo que se vende. Por isso costumo dizer que sou empresária.

No meio desta actividade empresarial criou dois filhos hoje com 30 anos. Deve ser muito gratificante tê-los no vosso negócio?

Eles já trabalharam noutras empresas, mas com esta situação acharam que mais valia estarem a trabalhar connosco a aprender e a dar sugestões, porque nós ouvimo-los em tudo, para nos ajudar a crescer. Fala-se muito que os jovens não têm emprego, mas, se eles têm mais formação, têm de criar emprego.

Na sua vida profissional o que colocou em primeiro lugar, a empresa ou a família?

Estão iguais. Nunca abdiquei da família pela empresa. Nunca quis ser aquilo tipo de empresária que se levanta às sete da manhã para ir para o trabalho e não pensa noutra coisa. Quando os meus filhos eram pequenos, era eu que os ia levar à escola todos os dias e sempre jantámos todos juntos.

Se calhar por isso eles hoje estão convosco?

Talvez. Sempre discutimos muito em família mas, assumidamente, nunca vivi só para o trabalho. Claro que é do trabalho que vem tudo e eles sabem isso.
Por isso são os dois trabalhadores.
São trabalhadores, empreendedores e muito responsáveis.

Valeu a pena esta jornada?

Acho que sim. Vai valer a pena. Temos esperança que as coisas melhorem, até porque temos alguns contactos para exportar o conceito.

(Texto: Palmira Correia)