Sim ou não? Ao receber um pedido de ajuda no trabalho, escolher a resposta positiva parece ser a opção certa. Afinal, ao mostrar-se disponível, o profissional fica aberto a novas oportunidades e mantém um bom relacionamento com os seus colegas.

Mas esta é sempre a melhor resposta? Para os especialistas, quando a qualidade do seu trabalho e da sua saúde podem ser prejudicadas, chegou a hora de dizer não.

O “sim” é um perigo quando os novos pedidos entram no caminho das responsabilidades principais do profissional.
Para Breno Paquelet, especialista em negociação e professor de gestão de conflitos, é importante manter um equilíbrio, respeitando o seu limite sem se fechar a novos pedidos.

“Quando o profissional não consegue realizar as tarefas solicitadas, acaba por ficar frustrado e pode bloquear o avanço na carreira”, explica. O acumular de tarefas, além de prejudicar a qualidade do trabalho, pode ter consequências físicas, como o aumento do stress, doenças e exaustão.

Para Renata Abreu, coach executiva e especialista em psicologia positiva, é importante observar o que leva o profissional a só dizer sim.

“A pessoa pode querer evitar conflitos e parecer educada, mas também pode ser um sinal de baixa confiança ou autoestima”, diz.

A especialista destaca que as mulheres têm uma maior dificuldade para dizer “não”, seja por se quererem sentir mais valorizadas no trabalho ou porque acreditam que ficarão mal vistas pelos colegas.

Renata Abreu justifica essa percepção com a propagação do estereótipo feminino que pressupõe uma comunicação menos assertiva e um comportamento mais caridoso.

O não positivo

Negar um pedido exige alguma preparação para que o “não” seja efectivo. Antes de qualquer coisa, é essencial fazer uma auto avaliação para entender as suas prioridades e metas. Assim, quando receber um novo pedido, poderá avaliar o impacto sobre as suas responsabilidades.

“A negativa pode vir de uma questão ética, pessoal ou até mesmo da falta de critério na altura de delegar tarefas. Temos que saber explicar racionalmente as nossas razões e que consequências o pedido tem em compromissos anteriores”, afirma Renata.

O professor Breno Paquelet sugere começar o dia a criar uma uma lista de prioridades, em vez de abrir os e-mails, prática comum no início do expediente. “Ao ler as mensagens primeiro, o dia inicia-se sem foco, colocando os pedidos novos com prioridade sobre o que necessita de fazer", explica.

Ter uma clareza do que é prioritário torna a decisão mais racional e ajuda a justificar a negação. Também é necessário negociar o que fica melhor para as duas partes e o objectivo mais amplo da equipa.

“Se é mais importante, a nova tarefa pode substituir uma outra prioridade. Talvez seja necessário combinar um novo prazo e alcançar um equilíbrio”, diz o professor.

Para os dois especialistas, a forma como o “não” é dito suaviza o impacto que a resposta pode ter no ambiente de trabalho. Estar atento à linguagem e o seu interlocutor é o caminho para não errar.

“Às vezes importa mais onde e como se diz. A resposta deve ser assertiva e racional, porém adaptada ao seu histórico com a pessoa e sua posição na equipa em relação.”, explica Abreu.

Para Paquelet, o “não” pode ser positivo se o profissional mostrar que ainda poderá estar disponível no futuro, através do seu posicionamento sobre a questão, a negociação e a linguagem.