Os bancos estão a pagar para emprestar ao banco central

Nos últimos anos o Banco Central foi levado a estimular os mercados e a economia através da sua política monetária. Estes estímulos traduziram-se na redução expressiva das taxas de juro, numa primeira fase, mas não tiveram os resultados esperados. Assim, o Banco Central Europeu (BCE) foi forçado a cobrar aos bancos para receber o seu dinheiro. Assim, hoje em dia, os bancos pagam ao BCE para guardar o seu dinheiro em segurança.

Para contornar esta situação, os bancos têm como solução começar a emprestar dinheiro às famílias e às empresas bem como reduzir as taxas de juro dos depósitos a prazo. Como empresas viáveis com bons projetos de investimento em Portugal não abundam… voltam-se para as famílias com garantias.

Porque é que o crédito habitação está de volta?

Os bancos estão de novo a “atacar” as famílias e querem começar pelos créditos que têm associadas maiores garantias. Do rol de créditos possíveis o crédito para compra de habitação é o mais seguro uma vez que tem a garantia de um ativo real, neste caso um bem imóvel. Assim, temos assistido na Reorganiza (com alguma curiosidade) a comportamentos que nos recordam a época louca da guerra dos spreads de 2007-2008.

Para além da segurança dos contratos, o crédito para compra de habitação serve de produto âncora. Se reparar, tendo em conta o custo a que os bancos portugueses se financiam, os bancos mesmo assim perdem dinheiro com vários destes contratos. No entanto, procuram com o crédito habitação fidelizar os seus clientes e “agarrá-los” a um conjunto vasto de produtos que lhes trazem outras margens (cartões de crédito, seguros, produtos de aforro, entre outros).

Como poupar dinheiro neste contexto?

A maior agressividade comercial dos bancos pode ser benéfica em três contextos distintos que analisaremos de seguida:

  • Aquisição – Se está à procura de nova habitação é possível poupar dinheiro com o crédito habitação, se bem que alertamos sempre para a necessidade de comparar os custos entre a compra e o arrendamento. Temos recebido muitos pedidos de simulação para aquisição e as poupanças acabam por compensar, mas cada caso é um caso.
  • Transferência de Crédito Habitação – Se contraiu um crédito habitação nos últimos 5-6 anos é bem possível poupar muito dinheiro com a transferência do seu crédito para outro banco. Como é sabido, os últimos anos foram marcados por spreads bem acima de 5%-6%. Sendo possível hoje em dia contratar novo crédito com taxas perto de 1.5%...
  • Consolidar créditos – Se tiver uma casa que possa servir de hipoteca a um crédito habitação poderá utilizar esta garantia para consolidar todos os seus créditos. No entanto, salientamos a necessidade de fazer contas. A poupança mensal pode ser grande mas poderá pagar muito mais juros ao longo do contrato (ao alargar os prazos).

A guerra dos spreads no crédito habitação está para ficar. Atualmente não pensamos que os spreads possam descer para os níveis do passado (muito perto de zero) mas vemos que ainda há espaço para reduzirem um pouco. Assim, dizem as regras da inteligência financeira que devemos simular as possibilidades de poupança de modo a tomar decisões financeiras inteligentes e informadas.

João Morais Barbosa