Ana Barbas tem 35 anos. Doutorada em Biologia pela Universidade Nova de Lisboa, trabalha como investigadora do Instituto de Biologia Experimental e Tecnológica, desenvolvendo trabalho de pesquisa na área do tratamento do cancro da mama. Um trabalho que já lhe valeu uma distinção no prémio Medalhas de Honra L'Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência por uma investigação complexa.
A comunicação celular é necessária para uma grande maioria dos processos biológicos e um dos sistemas que é utilizado por grande parte dos organismos eucariotas é a via de sinalização Notch. O incremento de atividade desta proteína humana e dos seu ligandos, detetada em diversos tipos de cancro da mama, comprovam que esta via tem um papel fundamental na patogénese deste tipo de cancro. A criação de anticorpos contra o recetor Notch 1 (ou contra um dos seus ligandos) pode representar uma abordagem terapêutica inovadora no tratamento do cancro da mama metastático.
O objetivo principal deste projeto visa a criação de anticorpos com função de bloqueio contra um dos ligandos da proteína humana Notch1 (a Jagged2), recorrendo à tecnologia de Phage Display. Isto permitirá estudar o papel dessa proteína na via de sinalização Notch1, com o intuito de determinar a função exata dos anticorpos com função de bloqueio anti-Jagged2 em alguns modelos do cancro da mama.
A criação de anticorpos específicos anti-Jagged2 permite pressupor que será inibida a ligação dessa proteína ao seu recetor Notch1 e, como consequência, será suspensa a libertação de duas proteínas sinalizadoras, a interleucina 6 (IL6) e o fator de crescimento do endotélio vascular (VEGF). A interrupção da secreção destas proteínas terá como efeito imediato a diminuição da angiogénese (processo de crescimento extensivo e ramificado de pequenos capilares sanguíneos) e levará a uma redução do tumor no paciente.
O cancro é uma doença complexa que envolve ativação e inativação de genes nas células. Pensa-se que esteja relacionado com uma alteração na comunicação celular. A sinalização celular faz parte de um rico sistema de comunicação que comanda e coordena todas as atividades e funções celulares.
Quando ocorrem erros no processamento de informação celular, há alteração na comunicação entre células. Estas alterações podem conduzir à perda das funções normais das células levando ao seu anormal crescimento e divisão. Os enormes avanços científicos registados nesta área nos últimos anos têm permitido que os tratamentos se tornem cada vez mais específicos para os diferentes tipos cancro.
Os anticorpos foram as primeiras moléculas biológicas a serem utilizadas como agentes terapêuticos, e são um poderoso arsenal nos processos de tratamento do cancro. A tecnologia de Phage Display possibilita uma abordagem muito segura quanto ao isolamento de anticorpos humanos. Esta técnica também já mostrou ser um método fiável para a identificação e validação de novos alvos relacionados com o cancro.
Embora já exista uma extensa investigação básica e clínica visando compreender e controlar o cancro da mama, esta doença representa ainda uma enorme ameaça a nível mundial. Em Portugal, de acordo com os estudos do IPO, é uma das maiores e mais comuns causas de cancro nas mulheres. Cerca de um terço dos casos patológicos (32%) são de cancro da mama.
O objetivo principal deste projeto visa o desenvolvimento de fármacos suscetíveis de parar e/ou atrasar a progressão daquele tipo de cancro, pela geração de anticorpos de função de bloqueio da via de sinalização celular Notch. Tal será concretizado através do estudo do papel específico da proteína Jagged2, pois o bloqueio da formação deste complexo decerto atuará com um potencial terapêutico no tratamento da doença.
A confirmação desta descoberta contribuirá para uma melhor compreensão dos mecanismos envolvidos na patologia do cancro da mama, permitindo uma regressão tumoral e, logo, será uma contribuição que enriquecerá a variedade de tratamentos existentes.
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