É importante olharmos do exterior para o seu interior, tentarmos empatizar com as suas necessidades e mudanças. Os adultos, aqui estou a referir-me aos pais continuam a olhar para aquele ser, como a criança que sempre existiu naquela casa. Às vezes a dificuldade de compreender que eles, adolescentes, estão em constante alteração, movimento, dinâmica, que estão a aproximar-se de ser mais semelhantes ao adulto do que à criança que já foram, é razão suficiente para que a relação entre pais e filhos seja muito difícil.

Nem sempre a adolescência é difícil. Alguns adolescentes vivem com tranquilidade esta etapa e por isso esta fase pode ser encantadora para todos os intervenientes desta vivência.

Porque será que para outros não é tão encantadora?

Nesta etapa, o adolescente pode manifestar insegurança nas suas tomadas de decisão (que na vida adulta são guiadas peaos experiências anteriores), o que muitas vezes gerar frustração no próprio e/ou incompreensão nos outros.

O processo de evolução da infância para a vida adulta, repleto de inconstâncias, precisa ser compreendido pelos adultos próximos, principalmente pelos pais, como um comportamento normal que merece respeito e apoio constante. Mas o adolescente só permite o apoio de pessoas em quem confia, respeita e admira, por isso a importância vital de um vínculo de afeto e compreensão.

Importa refletir que na maioria das vezes o comportamento do adolescente é resultado daquilo que o ambiente lhe fornece e não apenas porque chegou àquela fase, a Adolescência.

Tudo na adolescência é muito intenso. Este momento é crucial para que as relações sejam asseguradas com muita qualidade e tempo afetivo. Os relacionamentos familiares devem ser fortalecidos, passando mais tempo entre família tendo em conta os interesses dos adolescentes e não apenas fazendo o que os adultos preferem ou já estão habituados.

O olhar de fora para dentro permite-nos enquadrar o seu comportamento com as suas relações e assim a análise será mais real e completa. Se entendermos as suas ações que consideramos menos aceitáveis numa perspetiva mais abrangente, a adolescência poderá acontecer com mais levez e alegria.

A compreensão das relações do jovem nos contextos família e escola são imprescindíveis, dado que são dois meios onde diariamente exercem as suas dinâmicas. Assim, o diálogo constante entre pais e escola, pais e adolescente é a melhor prescrição para um. crescimento saudável. Os pais devem ser participativos na vida do jovem, conhecer os seus amigos (sempre que possível, convidá-los para casa), entender os relacionamentos, procurar conhecer a dinâmica escolar, assim como os locais frequentados pelos seus filhos.

Mas, a questão pode permanecer: o que é encantador na adolescência?

  • Estar atento aos sentimentos do adolescente e poder vivê-los em conjunto;
  • Perceber que na maior parte das vezes as dúvidas e os medos dos jovens são tão semelhantes aqueles que já foram vividos pelos adultos;
  • Compreender que surgiu o primeiro amor da vida do jovem pois o rosto altera-se quando se diz aquele nome;
  • Ouvir gargalhadas porque o filho é feliz com os amigos que cativa;
  • Sentir que se o diálogo entre família é verdadeiro, nas aflições as pessoas que são procuradas são os pais;
  • Saber que são “quase” adultos, mas continuam a recorrer ao seu colo;
  • Refletir que saber escutar o seu filho nesta fase da vida é um elemento grandioso para todos se sentirem mais saudáveis psicologicamente atualmente e no futuro.

Texto: Sandra Helena - Psicóloga e psicoterapeuta infanto-juvenil

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