Sair da rotina e pôr de lado, durante alguns dias, os compromissos diários é fundamental para a nossa saúde física e mental. Descomprime-nos, promove o nosso bem-estar e recarrega as baterias que precisamos para enfrentar novos desafios. Numa palavra, reequilibra-nos. Num estudo divulgado pelo jornal britânico Daily Mail e realizado pela agência de viagens Expedia, cerca de 30 milhões de britânicos descreveram as mudanças que sentiram após o seu último período de férias.
Entre elas, destaca-se o aumento dos níveis de bem-estar e melhorias na saúde física, bem como, em áreas como as relações sociais, a qualidade do sono, a motivação e a autoconfiança, os níveis de produtividade, o aspeto da pele e a criatividade. Agora, imagine o que teríamos a ganhar, se incluíssemos algumas das experiências e sensações que vivemos durante o período de férias no nosso quotidiano. Três especialistas indicam estratégias:
- Faça coisas que lhe dão prazer
Durante o período de férias é habitual querermos fazer apenas aquilo que mais gostamos. «Quando nos envolvemos em atividades geradoras de prazer, ativamos a segregação de neurotransmissores importantes como a serotonina e a dopamina, essenciais para a manutenção de um bom humor e de níveis de energia saudáveis, que vão ajudar-nos a gerir melhor o stresse do dia a dia», refere Filipa Jardim da Silva, psicóloga clínica.
«Ao longo do ano, introduza nas suas rotinas pequenos momentos para relaxar e divertir-se. Pode ser a prática de exercício físico em família num sábado à tarde, a costura ou a pintura, enquanto os seus filhos fazem os trabalhos de casa ou até a culinária, aliando assim o prazer ao útil e necessário. De uma forma ou de outra, é muito positivo sentir que guardamos espaço para atividades lúdicas ou que tornamos mais lúdicas as nossas tarefas do dia a dia», afirma Filipa Jardim da Silva.
- Alcance o estado de fluxo
Este estado ocorre quando estamos de tal maneira envolvidos numa determinada tarefa que nem damos conta do tempo a passar. «O número de experiências que temos em tempo de férias que permitem criar este estado de fluxo é substancialmente mais elevado», refere Vítor Viegas Cotovio, psiquiatra e psicoterapeuta. A pergunta que se coloca é «Porque motivo não conseguimos atingir este estado nas tarefas do dia a dia?», adverte.
«É preciso saborear sensorialmente as experiências que vivemos diariamente. Ficar totalmente imerso numa determinada tarefa ajuda-nos a desligar da rotina e permite recarregar baterias, de forma a que fiquemos novamente sintonizados. Podemos ter menos disponibilidade, mas ainda assim é possível entregarmo-nos a algo de que gostamos muito, sem ficarmos reféns de compromissos», afirma o especialista.
Por vezes, tendemos a pensar que, uma vez que não é possível dedicarmo-nos a uma determinada atividade a 100 por cento, mais vale não perdermos tempo a tentar realizá-la de outra forma. Um pensamento que está errado, segundo Vítor Viegas Cotovio. «Se tem menos tempo no dia a dia para se dedicar ao que mais gosta, procure usufruir dessa experiência, mesmo que durante menos tempo ou opte por reduzir o número de atividades extra trabalho, dedicando-se apenas às suas preferidas», aconselha.
«As atividades que à partida já sabe que adora podem funcionar como canais diretos para o tal estado de fluxo. As práticas meditativas que se aprendem nos vários tipos de meditação (transcendental, zen e/ou budista, por exemplo), no mindfulness, no yoga ou no tai-chi, podem ajudá-lo a desligar-se da sua rotina e a entregar-se totalmente aos momentos que vão trazer uma lufada de ar fresco ao seu dia», refere.
Veja na página seguinte: Por que deve adotar a política do descanso ativo
- Aposte no descanso ativo
Há quem ocupe todo o tempo disponível fora do horário de trabalho para se dedicar às tarefas do quotidiano que têm de ser feitas. Este é o chamado descanso passivo. Para fomentar o descanso ativo, deve dedicar-se, quando não está a trabalhar, a atividades que potenciem o equilíbrio entre o corpo e a mente, sugere um dos três especialistas que contactámos.
«Por várias razões, seja pela aceleração do tempo, pelas tarefas agendadas ou pelos projetos que temos de terminar, tendemos a desprezar, no nosso dia a dia, as experiências que desenvolvem o nosso lado psicoafetivo», comenta Vítor Viegas Cotovio. «Vá ao ginásio mas não deixe de dançar, pintar, costurar, ir ao cinema, visitar exposições de arte, ir ao teatro... Estas atividades de componente mais artística ajudam-nos a potenciar o nosso equilíbrio de uma forma harmoniosa», sublinha.
- Foque-se no agora
O agora é que importa… agora! «Durante as férias conseguimos estar menos reféns dos relógios, menos atentos aos alarmes dos e-mails e às mensagens do telemóvel, por consequência estamos mais disponíveis para ativar os sentidos e desfrutar do aqui e agora. Ao conseguirmos prestar mais atenção às nossas emoções e sensações físicas no momento presente, conseguimos dar uma resposta mais adaptativa às nossas necessidades físicas e emocionais, reduzindo assim os níveis de ansiedade e depressão e melhorando o sistema imunitário», afirma Filipa Jardim da Silva, psicóloga.
«Ative os cinco sentidos em várias tarefas diárias tão simples, como lavar os dentes, tomar banho ou comer. A cada hora de trabalho, pare durante 60 segundos, levando o foco à respiração e procurando identificar pensamentos, emoções e sensações físicas presentes. Esta tentativa de desaceleração ao longo do dia e de maior atenção a nós mesmos e no aqui e agora, tenderá a traduzir-se em níveis superiores de saúde e bem-estar em todas as dimensões da nossa vida», afirma a psicóloga.
- Faça uma pausa todos os dias
«No dia a dia, fora do tempo de férias, tendemos a mergulhar demasiado e a ficar embrulhados num quotidiano por vezes monótono, reduzido a coisas tidas como essenciais sem o serem forçosamente. É importante parar para dar atenção a coisas interessantes, novas, excitantes, prazerosas e bonitas», refere Vítor Rodrigues, psicólogo e psicoterapeuta.
«Esta atitude ajuda-nos a conservar a mente viva, potencia em nós um senso de descoberta e bem-estar, quebra rotinas e aumenta a sensação de felicidade», afirma o especialista. Para aprofundar este assunto e encontrar outras recomendações a ter em conta, veja também Sinta-se de férias… todo o ano!.
- Saboreie as refeições sem pensar no que irá fazer depois
Faça-o como se tivesse todo o tempo do mundo. «A refeição é um momento importante, seja em termos sociais ou fisiológicos, e, nas férias, pode ser desfrutada com tempo, resultando numa melhor mastigação, melhor digestão, maior prazer e com mais convívio. Se adotarmos esta atitude durante todo o ano, teremos mais prazer, melhor saúde física e mental e mais felicidade», afirma Vítor Rodrigues.
Veja na página seguinte: O que fazer quando se tem (muito) pouco tempo
Quanto tempo tem?
Se a sua agenda não lhe deixa margem de manobra, saiba, contudo, que nem sempre precisa de muito tempo para conseguir aligeirar a sua vida. Veja o que pode fazer para usar melhor o tempo que (não) tem:
- 15 minutos
Planeie o fim de semana, introduzindo várias ideias acerca do que pretende fazer.
- 5 minutos
Reflita sobre o que vai fazer mais logo, ao sair do emprego.
- 3 minutos
Recorde os melhores momentos das últimas férias e pense em maneiras de fazer algo parecido em tempo de trabalho.
Texto: Sofia Santos Cardoso com Filipa Jardim da Silva (psicóloga clínica na Oficina da Psicologia), Vítor Rodrigues (psicólogo clínico e psicoterapeuta) e Vítor Viegas Cotovio (psiquiatra e psicoterapeuta)
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