Este fenómeno acontece, não pela supressão dos sintomas, mas pela tradução e entendimento das manifestações corporais e pelo caminhar constante dentro de um processo evolutivo.
Na visão da Leitura Corporal, o corpo – veículo da expressão – vive, regista, reage, reflecte e revela as experiências e as aprendizagens do Ser, na sua grande viagem no mundo físico.
Quando surgem desvios na nossa trajectória, impedindo a movimentação livre, a manifestação genuína ou o exercício da escolha, o corpo emite sinais, gera sensações ou produz sintomas que activam a capacidade da auto-percepção, permitindo a identificação do que incomoda e a revisão do percurso.
Com as suas manifestações, o corpo convida-nos a rever o momento ou toda a história, a perceber onde e quando nos desviámos da rota principal, o porquê de darmos voltas ao invés de nos dirigirmos ao nosso ponto de destino.
Fazendo a leitura do nosso corpo, podemos entender que os sinais, chamados de incómodos ou de doenças, não representam um momento de fraqueza ou punição, mas a oportunidade de identificação do que precisa ser reavaliado e trabalhado ao nível da emoção e do comportamento.
Essa leitura faz com que, percebendo o que está a acontecer, possamos retomar o estado de coerência entre o que desejamos e o que procuramos, entre o que queremos e o que fazemos, entre o que sentimos e o que expressamos.
Manifestações físicas
Assim, as manifestações do corpo físico exercem a função de sinalizadoras dos processos de autoconhecimento e evolução. Quando acolhidas, compreendidas e validadas, indicam-nos o caminho que devemos percorrer para que haja uma melhoria e um bom aproveitamento das experiências e da vida.
À luz da Leitura Corporal, o corpo físico manifesta doenças quando o indivíduo já está em processo de construção da cura, de revisão do percurso, de localização e reorganização daquilo que não está adequado, daquilo que falta ou que já não satisfaz as necessidades internas.
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A leitura interpreta as formas do corpo e as suas associações, as suas manifestações e as suas doenças. De forma especial, observa a associação das sensações e dos sintomas com os processos emocionais, com as dificuldades e os conflitos vividos antes e durante o adoecer.
Por entender que o sofrimento físico acontece para libertar impulsos e fluxos de energia estagnados ou viciados, vê a saúde como o estado de harmonia e coerência entre o ser e o estar, entre o sentir e o expressar, e a doença como um instrumento de purificação e de reconquista da saúde.
As manifestações do corpo físico são como mecanismos de procura da cura interior, da alma, do ser na sua aprendizagem e evolução. A dor, a doença e o sofrimento nascem, principalmente, da acção de mecanismos externos, transformando-nos em vítimas passivas e sem recursos próprios e eficientes no desenvolvimento dos processos de cura.
O corpo caracteriza os níveis de compromisso da saúde de forma precisa. O acometimento de estruturas mais superficiais ou mais profundas classifica a distância entre o que é sentido e o que é expresso, revelando o grau de inadequação do caminho que escolhemos.
Se acolhemos a ideia de que somos nós que geramos os nossos distúrbios e doenças ou que somos nós que permitimos a evolução dos processos que levam ao adoecimento, somos levados a concluir que só o processo interno de compreensão nos pode proporcionar a cura, que a saúde se instala na integração entre o ser e o expressar.
Não existe aqui a apologia ao sofrimento, à dor ou à manutenção de doenças como forma de crescimento. O que a Leitura Corporal preconiza é que deveríamos aliar-nos à doença antes de combatê-la. Esta aliança permite a compreensão de todos os aspectos que envolvem a sua manifestação, facilitando a sua descoberta e cura.
Resgate da auto-estima na menopausa
Cada sensação, manifestação ou sintoma físico resulta num ajustamento, recuperação, revitalização ou instalação de novos valores emocionais e psíquicos. Influenciam o comportamento, a reconstrução do sistema de crenças, a redefinição de condutas, a execução das escolhas e cada ciclo da vida.
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Por exemplo, a menopausa marca o fim da fase reprodutiva plena da mulher, que então entra num novo momento da sua vida. Ocorrem várias mudanças corporais, onde a função de reprodução já não predomina, embora não esteja obrigatoriamente ausente.
Há um arranjo no eixo hormonal, que até então era modulado pela função de reprodução. Antes, a meta fisiológica era a libertação de óvulos e a reprodução; agora, a feminilidade na menopausa passa pela manutenção e harmonia do equilíbrio de novas funções.
Mulheres que passam por esta fase em conflito muito intenso, estão a criar uma resistência à sua vivência do feminino, por se condicionarem a um estereótipo de "mulher jovem" do qual não se querem desapegar.
A não-aceitação deste processo, consciente ou inconscientemente, restringe o fluir da energia do feminino, levando à diminuição do número de receptores hormonais na membrana celular.
A captação de estrogénio fica então reduzida e, por conseguinte, há perda da sua acção, com o surgimento dos sintomas característicos, principalmente nas suas fases iniciais, uma tentativa da pessoa estimular a personalidade a aceitar o processo e corrigir o equívoco cometido.
A fisiologia tradicional demonstra que os factores que determinarão os sintomas na menopausa começam a ocorrer bem antes dela, e atribui tudo a um processo de envelhecimento que seria natural do corpo.
A Leitura Corporal concorda com a afirmação de início precoce do processo, mas entende-o e justifica-o a partir de outras bases: a relação é directa com a função da medula óssea, tecido linfóide que produz células sanguíneas e que activa e mobiliza a essência do ser.
Portanto, o foco na abordagem da menopausa deve ser, sempre, o de que é fundamental para a mulher, principalmente neste momento da vida, o resgate da sua auto-estima, o reencontro com o seu desejo íntimo de fazer e realizar, de forma pessoal, diferente e criativa.
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Manifestação do feminino
Na realidade, quando a mulher deixa o período reprodutivo, ela tem o potencial de passar a viver todo o seu poder de manifestação do feminino, por todo o corpo, de forma universal e solta.
As hormonas que mediam o processo e que eram produzidas pelos ovários, passam a ser produzidas também pelas suprarenais e, na periferia, pelo tecido adiposo, que se distribui por todo o corpo.
Com isto, mantém-se o registo do feminino e da força criativa e, com a vibração das suprarenais, activa-se a coragem e o impulso de viver, numa nova perspectiva de plenitude que se descortina quando não há mais a necessidade da função reprodutiva.
Assim, a menopausa é um período em que a auto-estima feminina pode na verdade estar em alta, tanto em termos pessoais como sociais. Agora, livre das obrigações de manter e continuar a espécie, a mulher pode ir ao encontro do pleno aproveitamento do viver, juntando a sua capacidade feminina com a sua experiência e disponibilidade.
O corpo não foi feito para o sofrimento. Foi concebido para nos dar prazer, nos conduzir numa trajectória de aprendizagem através da experiência, ser o nosso veículo de comunicação e de realização.
Existe para nos sinalizar sempre que se faça necessária a retomada do caminho, o reencontro consigo e com o universo do sentir, o reaprender da vibração do prazer na experiência da vida...
Resumindo, a leitura corporal:
- Descreve as funções emocionais dos segmentos e das estruturas corporais e estuda as associações que existem entre as manifestações do corpo físico e os processos psíquicos e sensoriais do ser humano.
- Relaciona as formas e a funcionalidade do corpo, os traços fisionómicos, as posturas, as sensações e os sintomas físicos aos conteúdos mentais e às particularidades comportamentais.
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- Estabelece um paralelo entre a linguagem do corpo, o estado de saúde, as disfunções orgânicas e o auto-conhecimento.
- Concebe as manifestações corporais como traduções do desejo e como orientadoras do agir e do actuar.
- Vê nos desconfortos e doenças, a sinalização de que existe insatisfação e do como satisfazer-se.
- A avalia os desequilíbrios energéticos e as doenças como reflexos da contenção, da limitação dada à experiência do prazer e das distâncias criadas entre o ser e o estar e entre o sentir e o expressar.
- Identifica a doença como um mecanismo que ajuda na localização dos conflitos emocionais, facilita o entendimento dos processos pessoais, estimula a auto-aceitação e a reorganização do pensamento e da actuação.
- Mostra que a aprendizagem e o exercício do conhecimento e do convívio com o corpo, a leitura e a compreensão das suas manifestações, são instrumentos para a prevenção e evolução da saúde nos planos físico e mentais.
- A leitura corporal confia que cada sinal físico tem um significado e permite a percepção do saudável e do adoecido, apontando o caminho para o reequilíbrio e para a clareza, para a assimilação e aproveitamento de cada experiência vivida.
- Entende que relacionar estados internos, aceitar viver as emoções e os sentimentos, tornar-se consciente, assumindo e evoluindo, suscita o poder da auto-cura.
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Núcleo de terapia corporal
Núcleo constituído por profissionais de saúde - fisioterapeutas, massoterapeutas, médicos, psicólogos e terapeutas ocupacionais - reunidos no propósito de oferecer e desenvolver assistência à saúde sob a visão filosófica e terapêutica da Leitura Corporal.
Neste núcelo aprofundam-se e desenvolvem-se pesquisas para compreender e descrever as relações entre as manifestações corporais e os processos emocionais. Este é o alicerce e a estrutura da Leitura Corporal, um instrumento para a compreensão de si mesmo e de tradução do que se expressa no adoecer.
A prática de ajuda e cuidado aqui desenvolvida incentiva a percepção dos comportamentos e posturas que levam ao bem-estar e à saúde e conduzem ao entendimento dos conflitos, sinais e sintomas que limitam a experiência do prazer de viver.
A massoterapia – massagem com toques intencionados - e as técnicas com exercícios físicos e sensoriais estimulam a reestruturação corporal consciente e orientam a livre movimentação dos impulsos internos.
O Núcleo de terapia corporal colectiviza e divulga o conhecimento e experiências desenvolvidas, ministrando cursos e palestras sobre os princípios e fundamentos da leitura corporal.
Fotografia: © Mitarart – Fotolia.com
Agradecimentos: Nereida Fontes Vilela, formada em Fisioterapia, pela Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais. Fundou o Núcleo de Terapia Corporal em 1988. Pesquisa, desenvolve e aplica a Leitura Corporal há 18 anos
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