Foi assim que crentes e não crentes vibraram com a visita do Papa. Perante a sua presença,  conseguimos trazer ao de cima o lado espiritual que todos temos e permitiu-nos mostrá-lo. Era visível nas conversas o sentimento de paz  e fraternidade, de apaziguamento do nosso interior, de respeito por quem se restaura através da oração, quem sabe, até de um certo desejo oculto de conseguir fazer o mesmo.

O Papa, homem de fé,  não se valoriza a ponto de parecer perfeito, porque ninguém o é; sendo um dos, senão, o líder religioso mais importante, usa o seu lugar de autoridade com humildade a favor da paz e da justiça, ele que reconhece que a Igreja que representa nem sempre cumpriu essa missão. Mostra-nos, pela ação e pela palavra, que é pela paz em democracia que podemos evoluir, com uma mensagem que nos leva a acreditar na vida, a ter consciência dos nossos limites, a usar  humildade para connosco e para com os outros, a saber que muito do que acontece nem sempre é compreensível. O que nos aproxima  uns dos outros.

Em Fátima, o Papa trouxe ao de cima outra coisa de que somos capazes: fazer silêncio. Tão notado por ser tão pouco provável com uma multidão imensa de peregrinos. A emoção enchia a alma, os corações vibravam, a palavra não cabia ali. Só se ouviam os passarinhos , dizia alguém. O silêncio, esse  que tem vindo a perder valor,  tão afastado de nós no tipo de vida que se foi criando, ausente das cidades, ausente das famílias que se deixam dominar pela rainha televisão e outras tecnologias. O silêncio como um valor aliado da paz, não da paz podre, mas da paz interventiva nas famílias, nas empresas, nas escolas; um valor que permite que cada um ouça o que diz o seu coração para se conhecer melhor, que permite escutar os outros sem os atropelar, que permite contemplar a beleza e descobri-la onde ela parece ausente. O que nos aproxima uns dos outros.

E chegou a vitória dos irmãos Sobral. A força de Salvador, uma voz portuguesa, um piano, uma melodia que embala, um músico singular, doce, comprometido com o seu e nosso tempo. A cantar sobre a grandiosidade e sobre a generosidade do amor. O amor que espera e respeita o tempo de cada um, a esperança de que o amor se possa aprender, ainda que devagarinho, a aceitação de que tal possa não acontecer  “o meu coração pode amar pelos dois”. A música e o amor, universais, sentidos e cantados sem fronteiras. O que nos aproxima uns dos outros.

Maria de Lurdes Monteiro

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