Nunca antes se viram tantos artigos sobre psicopatas, sociopatas e narcísicos a circular na Internet como agora. Alguns apresentam um rigor científico duvidoso, mas, em geral, não deixam de apontar para uma questão curiosa. Porque será que as pessoas andam mais interessadas por estes temas tão densos que, antes, estavam circunscritos a profissionais da área criminal ou a curiosos? Talvez porque exista um aumento dos mesmos na nossa sociedade.

É isso que, de resto, me apercebo na prática clínica e organizacional. Chamo-lhes psicopatas socializados e constituem um problema de saúde mental e física. Muitas pessoas tóxicas não o mostram diretamente e aparentam ser pessoas de princípios humanos, morais e éticos inquestionáveis. Por isso, são de difícil identificação. Para além disso, vivemos num mundo onde tudo acontece depressa.

Por vezes, demasiado depressa. E, nesse ritmo alucinante, podemos não ter tempo para cuidar das relações no trabalho e na vida pessoal. Vivemos em piloto automático, sem tempo para sentir, até que, um dia, começamos a sentir que algo não está bem connosco, que temos alguém a querer prejudicar-nos mas também podemos achar que estamos a ver coisas. Que será apenas cansaço ou uma mera casualidade.

Sem nos apercebermos, podemos estar vulneráveis, com uma sensação de baixo valor próprio, perda de vitalidade e imunidade física, culpa, incapacidade e incompetência. Este estado pode estar a ser provocado por alguém tóxico. A conjugação de muitos traços comportamentais como os 13 que se apresentam, de seguida, configuram o perfil de uma pessoa tóxica e, potencialmente, negativa para nós e para as pessoas de quem gostamos.

1. Põem-no num pedestal e depois fazem-no sentir a pior pessoa

Idealizam-no, fazem-no sentir especial, único, atraente e o melhor, como se fosse o seu melhor amigo ou companheiro, muitas vezes, em público e, depois de conhecerem e preencherem os seus gostos, fraquezas e necessidades, desvalorizam-no e fazem-no sentir em permanente falta. Como se estivesse a tornar -se uma deceção para eles e nada que faça os deixe satisfeitos consigo.

2. Projetam em si característcas que são dele

Se são pouco pontuais, dizem que é você que não consegue ser pontual. Se não são éticos (e a maioria dos perfis tóxicos não o são, de facto), acusam-no a si de quebrar a ética. Se não revelam emoções (alguns têm uma incapacidade a nível cerebral de o fazer, mas fingem-nas só para conseguir dos outros o que pretendem), dizem que você é que é insensível. Logo, apresentam uma hipocrisia revoltante e desconcertante.

3. Manipulam através da comparação subliminar

Quando estão numa relação amorosa consigo, falam várias vezes das coisas boas do ex-companheiro ou de uma pessoa nova que conheceram. Isso vai fazer com que se sinta em competição com eles e dê o seu melhor para agradar ao seu companheiro ou colega. Muito rapidamente, vai começar a depender da atenção e validação da pessoa tóxica.

4. Tendem a isolar-nos

Fazem-no através de boatos que servem o propósito de o afastar e entrar em conflito com pessoas que, de facto, gostam de si e o podem ajudar e alertar para o que se está a passar consigo. Podem também levá-lo a deixar os seus hobbies e formas de cuidar de si mesma, sempre de forma mais ou menos subtil.

5. Negam o que fazem de errado

Quando são confrontados com os seus comportamentos negativos, tendem a negar e a pôr as responsabilidades em si ou noutras pessoas. Parece que não pretendem melhorar a sua conduta, sendo incapazes de aprender com os erros.

O que isto promove é um aumento das nossas emoções, levando a que ele nos acuse de sermos loucos, de estarmos doentes e tentando tirar-nos credibilidade perante outros familiares e colegas. Apenas quando se sentem encurralados assumem responsabilidades e sempre na perspetiva de ganharem vantagem nisso.

6. Saltam de vítima em vítima

Vivem por impulso e com grande dificuldade em estar parados e usufruir de lazer. Daí que saltem, muitas vezes, de vítima para vítima, quando a pessoa já se encontra completamente vulnerabilizada, se constitui um obstáculo difícil ou quando alguém os percebeu e lhes tirou a máscara. Tendem a sentir tédio e, para eles, a vida é um jogo com regras que eles próprios criam.

7. Têm de ter o controlo

Podem apresentar uma grande vigilância sobre tudo em seu redor, procurando obter o máximo de informação. Daí que as redes sociais e um mundo da Internet seja um local muito frequentado por este tipo de predadores.

Procuram ter informadores e seguidores que executam as suas ordens e lhes dão os dados de que precisam, e isto pode acontecer tanto a nível familiar como laboral. Este tipo de manipulação é de tal forma eficaz que pode contribuir para o aparecimento de psicopatas secundários, muito comuns em seitas religiosas e em organizações do mesmo tipo.

8. Mentem frequentemente

Gostam de criar uma fachada à sua volta, que lhes permita perseguir, abusar e controlar. Mais em detalhe, muitos psicopatas mostram ao mundo que são esmerados pais e mães de família e que ajudam todos os que precisam. Existe um dado sinistro aqui.

Os psicopatas homens tendem a evidenciar características de pais (proteção, poder, confiança e força) e as mulheres mostram características mais maternais, nomeadamente cuidado, preocupação, sustento e compreensão. Mas, por trás, fazem precisamente o oposto. E como as mentiras são tantas, podem criar as suas próprias dificuldades quando se enredam em todas elas.

9. Não sentem empatia

Não conseguem vestir a pele das outras pessoas e sentir o que elas sentem. Na verdade, a sua capacidade emocional é extremamente reduzida e podem oscilar apenas entre estados ligados a zanga, inveja e vitimização. Nesta sequência, não olham a meios para chegar aos seus fins e que são, na maior parte das vezes, poder financeiro, controlo e visibilidade social e mediática.

10. Confundem-nos

Isto é, uma parte de nós começa a achar que esta pessoa nos faz mal, mas outra acha que não deve ser assim tão negativa e que poderemos estar a exagerar na avaliação que estamos a fazer. Isto acontece porque o seu comportamento não é totalmente mau. É bom e mau alternadamente, e muda conforme as pessoas e contextos onde se encontram.

Esta aparente imprevisibilidade leva a vítima a procurar, obsessivamente, a razão destes comportamentos e, mais tarde, a tentar provar que o seu comportamento é que é o adequado. Algumas vezes, sem o conseguir e sem que as pessoas percebam o tipo de abuso que está a sofrer, aumentando a sua sensação de desamparo e solidão.

11. Fazem-se de vítimas

Criam boatos, intrigas, conflitos e agridem quem lhes faz frente ou quem tem princípios morais e humanos. Logo a seguir, adotam uma postura de fragilidade que ativa automaticamente a nossa humanidade e que nos faz ter pena. Logo que recuperem o controlo, voltam a atacar sem misericórdia.

12. Adoram provocar emoções nos outros

É disso que vivem, das emoções que eles não são capazes de sentir e é assim que controlam as pessoas que os rodeiam. Se o contacto for frequente, ficamos esgotados, vazios e deixamos de sentir prazer pelas coisas boas da vida. Em casos de maior gravidade, podemos até pôr em causa a nossa própria existência.

13. Alternar afeto com agressão

É um dos comportamentos tipo dos psicopatas socializados. A agressão é verbal mas pode chegar a ser física. A pessoa tóxica faz o outro sentir-se mal mas age como se fosse, ao mesmo tempo, a solução.

Como agir perante um psicopata

A melhor forma é prosseguirmos o nosso caminho, aceitarmo-nos incondicionalmente, usufruirmos da vida, dos amigos, familiares e colegas e não olhar para trás. O bem-estar também resulta de abrirmos mão do que não podemos mudar. E de quem não muda. Se não conseguir lidar com o problema sozinho, peça ajuda, não tenha medo.

Texto: Luís Gonçalves (psicólogo clínico e psicoterapeuta na  clínica de psicologia, psicoterapia, neuropsicologia, supervisão clínica, orientação vocacional e formação empresarial Psinove)

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