Sente-se infeliz com o seu corpo? Vive presa a dietas mas não consegue reconciliar-se com a imagem que vê refletida no espelho? Não desanime! Preocupe-se, isso sim, em ter um peso saudável e, sobretudo, aprenda a valorizar a sua personalidade. Quando a autoestima está em baixo, «há uma tendência para avaliar de forma muito crítica o próprio corpo e acreditar que ele é a causa de insucessos afetivos», alerta Fernando Lima Magalhães, psicólogo clínico do Centro Clínico e Educacional da Boavista, no Porto.

Mas o corpo não é culpado pelos nossos revezes afetivos. O que costuma falhar, na realidade, é o apreço por nós próprios, a autoestima. Quando sentimos que estamos presos a um físico que não encaixa nos actuais padrões de beleza, ficamos ansiosos e ganhamos peso, que nos custa imenso a perder. Ao sentirmo-nos insatisfeitos com a nossa imagem, isolamo-nos, comemos mais para nos castigarmos por termos comido e acabamos, assim, por nos converter no nosso pior inimigo.

Onde nasce a autoestima?

A criança vai formando-a desde a gestação e durante a infância, recolhendo no ambiente aquilo que recebe dele. Apreciações do género, nomeadamente se é bom, preguiçoso, gordo, inteligente, valente, mal-criado e por aí fora... E isto servir-lhe-à depois como base para ter sucesso na saúde, qualidade das relações, aceitação de nós próprios, do nosso corpo...

Espelho meu, espelho meu...

A forma como vive uma pessoa que gosta de si é muito diferente da forma como vive alguém que não se tem em grande conta. Muitas vezes, o espelho não reflete a imagem que queremos mostrar e aquilo que vemos é uma perceção distorcida de nós mesmos, que vai de um extremo a outro e que define em que grau se encontra a nossa autoestima. O perfil de beleza dos nossos dias é, em grande medida, «um modelo irrealista, negativo e bastante raro de encontrar nas pessoas reais», reconhece Fernando Magalhães.

«O problema surge quando as pessoas passam a julgar o seu valor e qualidades pessoais em função desse modelo estético, com pensamentos como «Se tivesse aquele corpo, iriam gostar mais de mim!», esquecendo que as qualidades humanas não têm a ver com corpo, são internas», aponta o psicólogo. De facto, segundo sondagens levadas a cabo por uma conhecida marca de cosmética, seis em cada 10 mulheres pensam que seriam mais felizes se fossem mais magras.

O esforço para atingir a perfeição física

Pior, mesmo que inconscientemente, damos connosco a julgar o interior das pessoas em função do seu exterior, pelo que nos esforçamos por conseguir uma perfeição física irreal e inatingível, que nos tortura e baixa a autoestima, quando não está na origem de distúrbios mais graves, como a anorexia e a bulimia. E esta cultura da beleza exterior começa cedo.

Nos EUA, 90% das meninas entre os 3 e os 11 anos têm uma boneca Barbie, que representa um dos seus primeiros modelos de imagem a seguir e, evidentemente, impossível de alcançar. As pernas são demasiado longas e desproporcionadas em relação ao resto da anatomia. Ignorar estes cânones sociais e ser feliz, aceitando-nos como somos, apesar da nossa silhueta poder estar longe de uma suposta perfeição, requer, assim, acima de tudo segurança em nós próprios.

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A ditadura das dietas

Nos casos de obesidade real ou de outra doença que se manifeste também externamente, é compreensível que a autoestima diminua não por efeito direto da dita doença mas pela sua interacção com o meio. O obeso, por exemplo, para além da sua parte física, vê beliscada a sua auto-estima sobretudo devido à discriminação social. Nota os olhares, a troça e, até, o desprezo por parte dos outros, que apenas faz com que se sinta mais inseguro.

Se isto acontece na infância, o problema agrava-se. Os mais pequenos vêem-se forçados a lidar com sentimentos de inferioridade e rejeição, o que pode marcá-los na idade adulta. A infância é uma etapa em que é possível modificar condutaas, por isso é tão importante actuar atempadamente no diagnóstico e tratamento e incutir-lhes hábitos alimentares adequados desde muito pequenos.

Sabe do que é capaz?

A autoestima compõe-se de vários aspectos que ocupam diferentes graus de importância na nossa escala de valores. Cada um, como a imagem corporal, as relações sociais ou os êxitos pessoais, varia segundo o ambiente e a própria pessoa. Sentir-se bem consigo própria começa a partir de dentro. Habitualmente, tanto o êxito como o fracasso desembocam no corpo ou na imagem que dele temos. E a partir daqui agimos com segurança e firmeza ou vergonha e vulnerabilidade.

A autoestima elevada é um recurso que conduz as pessoas mais facilmente à tomada de decisão e posterior concretização. Pelo contrário, quem não a possui tende a desenvolver condutas que se centram na autocrítica constante, o que pode funcionar como um travão em termos de concretização de projectos. E, no final, o corpo é que paga. Converte-se num alvo perfeito para se autocriticar.

Perfeição ou aceitação?

A autoestima não tem nada a ver com perfeição, mas sim com aceitação. Não tem melhor auto-estima aquele que se considera perfeito, mas sim aquele que se ama e se respeita, apesar de admitir as suas falhas. Segundo Fernando Magalhães, «aquelas pessoas que se consideram bonitas são, com frequência, as que mais se comparam com os padrões de beleza actuais, o que pode refletir-se numa pior autoestima, porque não se perdoam não estar o tempo todo no auge da beleza».

Martirizam-se para conservá-la e quando se acaba sofrem muito com esta perda. «Uma boa autoestima depende de condições psicológicas internas», indica o psicólogo. «É a forma como pensamos de nós próprios que determina a forma como nos vamos sentir. O corpo é algo de variável, pelo que não faz sentido que a auto-estima dependa dele nem nunca vamos controlar o que os outros pensam de nós», acrescenta.

A fórmula para ter uma boa autoestima não passa, contudo, pelo extremo oposto, isto é, acreditar ser aquilo que não se é. Há que aceitar os nossos defeitos, tentar melhorá-los e não nos enganarmos a nós próprios nem aos outros. O melhor é saber que somos seres completos, com luzes e sombras. E ter claro que os outros deverão aprender a conviver com os nossos pontos negativos e positivos.

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O valor do sorriso

Pode-se transmitir muito através do corpo, mesmo que este não seja perfeito. Não é preciso ter uma super figura, basta apenas que se sinta bem consigo mesma. Se considera que o seu corpo não é perfeito porque lhe sobram alguns quilos ou porque não o acha harmonioso, mesmo que seja magra, esforce-se por realçar outros aspectos como, por exemplo, o seu olhar, que irradia energia, vitalidade e segurança.

Pode explorar um sorriso franco e natural. Se for sincero e transbordar humor já conta com duas armas de sedução infalíveis. Usadas com frequência, estas reforçam uma sólida auto-estima. Sem dúvida, as pessoas que se aceitam a si próprias sentem-se contentes por ser tal como são, vivem com alegria as vissicitudes da vida e geram muito mais admiração e interesse nos outros do que as de corpo escultural.

Apesar de a imagem influenciar as relações pessoais, especialmente na primeira impressão, o que fica depois e serve para erguer pilares fortes entre as pessoas é um conjunto de outras características diferentes das meramente físicas. No fundo, tudo se resume a uma velha e famosa fórmula. Aceitarmo-nos como somos, com tudo o que temos e não temos física e emocionalmente.

Abandone já estas condutas:

- Deixar-se levar pelas circunstâncias adversas e problemas

- Autocriticar-se de forma constante e destrutiva

- Culpar os outros pelas suas frustrações

- Acreditar que não pode mudar

- Ter medo de enfrentar situações quotidianas

- Ser incapaz de abordar pequenos desafios, como manter uma dieta

Texto: Fernanda Soares com revisão científica de Fernando Lima Magalhães (psicólogo clínico no Centro Clínico e Educacional da Boavista no Porto)