Tal significa que realizamos passagens de um estado, forma ou local para outro distinto e não obrigatoriamente pior ou melhor. Dão-se constantes transições a todos os níveis da nossa vida, e inclusivamente, se repararmos bem, nem no próprio universo temos um domicílio fixo: o planeta terra viaja pelo espaço a vários quilómetros por segundo, mudando a sua posição de segundo a segundo, sendo que num segundo estamos ali, e noutro acolá, sem sequer termos consciência disso! As estações do ano seguem-se umas às outras de forma cíclica: Primavera, Verão, Outono e Inverno; e até a o estado da água pode passar por diferentes transformações segundo a temperatura e pressão do contexto, passando de líquido a sólido ou gasoso e vice-versa.
Mas uma das transições mais difíceis de aceitar será quiçá a das etapas do ciclo da vida. Passamos a vida a tentar encontrar a estabilidade nas famílias e relações, na carreira, na localização e até no universo, e muitas vezes não conseguimos digerir as passagens da idade e do tempo, principalmente a nível pessoal e familiar. A nível pessoal é de destacar o quão difícil é, por vezes, passar da fase infantil à adolescência e desta à fase adulta. Em cada nova fase temos que nos readaptar, transformar e reconstruir, passando por metamorfoses como se de borboletas nos tratássemos.
A nível familiar e relacional verificam-se diversos eventos naturais que, necessariamente provocam mudanças na organização do sistema familiar, que podem ser mais previsíveis, como por exemplo o casamento (para alguns) ou imprevisíveis e que alteram o tempo e as funções da família, de forma a modificar o ciclo vital, como por exemplo a morte precoce ou a gravidez na adolescência.
A cada transição de fase do ciclo vital, a família deve enfrentar uma situação nova, que põe em cheque as antigas modalidades de funcionamento, necessitando uma nova ordem familiar. Cada transição pressupõe assim uma certa forma de crise, mais ou menos intensa para cada indivíduo e sistema familiar em que se encontra. O problema está precisamente quando o indivíduo e as suas relações não se conseguem adaptar às crises e mudanças, e quando a razão e a realidade se misturam com frustrações permanentes.
Pode ser muito dura a mudança. Pode ser muito difícil de aceitar, de acomodar uma nova realidade que por vezes pode ir contra os nossos desejos e sair fora do nosso controlo. Buscamos frequentemente a segurança quando o mundo parece estar a desmoronar-se, e isso pode levar-nos a procurar a certeza, às vezes até a dependência ou simplesmente aquilo que nos é conhecido, mesmo que não nos faça bem. Por outro lado, a mudança pode ser muito necessária e até desejada, e mesmo assim nem sempre isto significa que será mais fácil de superar. A cada mudança surge a necessidade de a aceitarmos, de nos reconstruirmos perante uma nova etapa, de irmos ao encontro do que somos e mais o extra da nova realidade e daquilo que seremos mais com ela. A cada mudança temos a oportunidade de crescer e ir mais além, de desenvolvermos novas formas de estar e ser, de nos desafiarmos e de conquistar outras partes de nós.
A cada final há um início, a cada destruição uma reconstrução, a cada mudança uma oportunidade. Precisamos assim tanto de um pólo como de outro, tanto de segurança como de mudança, e uma pode continuamente levar à outra, numa espiral crescente de evolução e de VIDA. A vida talvez não seja mais do que isto, passar de fase em fase, aceitando e buscando a mudança e encontrando a segurança, passo a passo.
Onde está assim o nosso ponto fixo, um “porto seguro” e reconfortante, no meio deste universo de transformação constante? Talvez o possamos encontrar dentro de NÓS.
Vanessa Damásio
Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta Familiar e Conjugal
Psinove - Inovamos a Psicologia
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