Maria Santos, professora, 47 anos,
tinha 35 quando lhe diagnosticaram
um paragangliona, um tumor
de origem genética, que já tinha
incapacitado o seu irmão.
«Fiquei
um pouco instável, sem saber o que
o futuro me reservava. Fui operada
e durante um ano alimentei-me
através de uma sonda», recorda. Seguiram-se várias cirurgias, mas o seu
rosto ficou para sempre transformado. A voz modificou-se
e perdeu parcialmente a audição.
As coisas más acontecem quando menos se espera. Podemos pensar como reagiríamos à traição, ao diagnóstico de uma doença grave, à perda repentina de alguém querido,
a um despedimento inesperado, no entanto, quando a tragédia acontece, quase nunca agimos da forma que imaginámos. Há quem perante uma fatalidade paralise por completo mas há também quem encontre na tragédia uma oportunidade para ser mais feliz. Os especialistas chamam-lhes resilientes.
Maria Santos foi um desses casos. «Estive três anos em casa. Não
foi fácil, mas tive o apoio do
meu marido. Pensava que ia
recuperar totalmente, mas como os
resultados não eram visíveis acabei
por aceitar. Tive de deixar de
lecionar e percebi que tinha
de fazer algo», refere.
«Hoje sou mais feliz»
Não se deixou, contudo, abalar pela doença. Voltou a estudar e licenciou-se na área da solicitadoria.
«Com a doença
descobri uma nova pessoa
em mim. Diferente e
melhor. A minha fé alargou-
se e sou mais feliz por
isso. Emocionalmente
tornei-me mais forte», desabafa.
«Tomei
a coragem de tentar melhorar
a minha vida e o meu
casamento. Infelizmente
acabei por me divorciar e
sofri muito, mas hoje sou
mais feliz. Acredito que
nada acontece por acaso.
Esta doença foi uma sacudidela
como quem diz deixa
lá a tua vidinha rotineira
porque viver não é isso», explica.
Ser positiva
Estudos científicos indicam
que «um estado depressivo
ou de desesperança
prejudica não só a qualidade
de vida da pessoa, mas
também prolonga o tempo
de recuperação e, em
casos oncológicos
pode
até reduzir o tempo de
sobrevivência», refere a
chefe de equipa do Hospital
de São José, Luzia Travado,
também presidente da
Associação Viva Mulher
Viva.
O que diz a especialista
Luzia Travado, psicóloga clínica e especialista
em psico-oncologia comenta o testemunho de Maria Santos.
«Felizmente
conseguiu adaptar-se,
mas demorou mais tempo e teve um
sofrimento pessoal maior do que se tivesse
recorrido a ajuda psicológica», sublinha esta especialista.
«Este
apoio reduz o sofrimento emocional dos
pacientes que enfrentam perdas significativas
ao nível da autoimagem e facilita
a rápida adaptação, reintegração social
e profissional, melhorando a qualidade
de vida e bem-estar, em tempo útil», explica ainda.
Recuperar a felicidade
«Uma mudança
indesejada é sempre algo difícil de superar, mas
temos a opção de tentar ou de não tentar. Se não
tentar, provavelmente nada alcança, a autoestima
diminui e poderá cair num pessimismo exagerado
relativamente ao tratamento e às perspetivas de
vida. Se enfrentar os problemas poderá descobrir
capacidades antes desconhecidas e encontrar um
novo e mais genuíno significado para a vida», refere Luzia Travado.
Contacto útil
Associação Viva Mulher Viva - Associação para o Bem-estar e Qualidade de Vida das Mulheres com Cancro da Mama
Telefone: 218 841 443
Internet: www.vivamulherviva.org
Texto: Vanda Oliveira com Luzia Travado (psicóloga clínica e especialista em psico-oncologia)
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