Um estudo recente (e muito curioso, por sinal) comprovou que os humanos comportam-se de forma mais altruísta e honesta quando estão a ser observados. Nada que intuitivamente já não soubéssemos, mas e se lhe dissermos que este tipo de comportamento tem lugar quando os olhos que (nos) observam não pertencem a uma pessoa, mas tratam-se apenas de uma fotografia afixada na parede? Espantado? Há muito mais que o pode surpreender sobre este tema do que à partida poderia pensar.

Os olhos têm sido alvo de inúmeros estudos, nomeadamente a nível comportamental. Sabe-se, por exemplo, que quando estamos entusiasmadas a dimensão das nossas pupilas quadruplica e se estamos furiosas elas contraem-se. Está também provado que registamos mais de 80 por cento de informação visual que recebemos, mas apenas 11 por cento daquela que nos chega através da audição. E sabia que somos os únicos primatas com uma área branca no olho, o que nos permite percecionar a direção do olhar do outro e, assim, interpretar emoções?

Esta interação com o mundo não será, contudo, possível se os nossos olhos não estiverem saudáveis. Defenda-os, seguindo os conselhos do médico oftalmologista Luís Gouveia Andrade para prevenir e tratar as principais patologias que podem afetar a sua visão. Estas são as que exigem maiores cuidados:

- Cataratas

As cataratas não são mais do que a perda de transparência da estrutura dos olhos responsável pela focagem de tudo aquilo que vemos, o cristalino. Com a idade, torna-se progressivamente mais opaco e, por isso, não permite a entrada da luz exterior nem a focagem correta das imagens. «As cataratas resultam fundamentalmente do envelhecimento dos olhos, sendo portanto consideradas uma doença degenerativa. Podem também ocorrer cataratas congénitas, mas geralmente o seu diagnóstico é feito precocemente, tendo-se verificado um importante avanço no seu tratamento», refere o especialista.

«Algumas profissões, com forte exposição a radiações ou ao calor, podem levar ao desenvolvimento mais prematuro», alerta Luís Gouveia Andrade. «Admite-se que a poluição e as radiações ultravioletas podem contribuir para esta doença. Embora não exista forma de prevenir, a perda de visão causada pela catarata não é irreversível, o que significa que a cirurgia permite, quase sempre, uma boa recuperação visual», refere ainda o médico oftalmologista.

Existem vários sinais de alarme a ter em conta. «Visão progressivamente mais enevoada, mais amarelada, mais desfocada», sublinha o especialista. Estes são alguns dos principais sinais de alarme apontados pelo médico oftalmologista Luís Gouveia Andrade. No que se refere a tratamentos, «a utilização de alguns colírios pode retardar a progressão da catarata, mas esse efeito é irregular e nem sempre se verifica. Assim, o tratamento é quase sempre cirúrgico. A sua realização não implica internamento e a recuperação é muito rápida», assegura o especialista.

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- Glaucoma

Esta doença lesa a camada mais importante dos nossos olhos, a retina. Ao fazê-lo afeta de forma permanente a visão, primeiro a periférica e depois a central. Resulta de um aumento da pressão nos olhos, habitualmente provocado por um envelhecimento das estruturas responsáveis pela drenagem dos líquidos intraoculares. Quando não tratado, determina a morte gradual das células que compõem a retina. As alterações na circulação contribuem com frequência para esta doença.

A existência de casos na família, diabetes ou miopia e a idade são alguns dos fatores de risco para o glaucoma que se torna mais comum a partir dos 45 anos. «Contudo, podem também ocorrer formas congénitas e juvenis de glaucoma», adverte o especialista. Os sinais de alarme não são de manifestação regular. «Só no caso do glaucoma agudo, em que a pressão intraocular se eleva de forma súbita e intensa, ocorre dor intensa acompanhada por um importante mal-estar e perda de visão. O glaucoma crónico, o mais comum, evolui de modo silencioso, sem dor ou qualquer outro sinal», refere o médico oftalmologista Luís Gouveia Andrade.

«Como a perda de visão neste tipo de glaucoma se desenvolve da periferia para o centro, os pacientes não se apercebem a não ser quando a sua visão central é afetada. Nessa fase, já está francamente instalado e as opções terapêuticas estão mais limitadas. É, portanto, uma doença muito traiçoeira», alerta ainda o especialista, que chama especial atenção para uma ação preventiva da doença à medida que os anos vão passando.

«A consulta regular ao médico oftalmologista é fundamental, uma vez que a qualidade da visão é avaliada, a pressão intraocular é medida, a retina é estudada. É recomendável uma consulta anual, a não ser que o médico indique outro intervalo de tempo. O recurso ao médico oftalmologista ganha particular relevo nos casos em que a suspeita de glaucoma seja mais forte, quer seja pela presença de antecedentes familiares, de casos de diabetes ou miopia», sublinha Luís Gouveia Andrade.

Esta doença tem tratamento. «É altamente eficaz e permite, na maioria dos casos, uma visão de excelente qualidade durante toda a vida. O tratamento inicial consiste na aplicação de um ou mais tipos de colírios, cujo efeito é reduzir a pressão intraocular. Como alternativa, ou caso os colírios se revelem ineficazes, o recurso ao tratamento laser é uma possibilidade. A cirurgia está reservada para os casos em que as opções anteriores se revelaram ineficazes ou foram mal toleradas», acrescenta ainda o especialista

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Degenerescência macular

Caracteriza-se por uma progressiva alteração da zona mais sensível e importante da retina, a mácula. É através dela que observamos o mundo exterior e é aí que se concentra o maior número de células recetoras responsáveis pela excelência da nossa visão. «A mácula pode ser afetada por uma exposição solar direta, por alterações circulatórias associadas à hipertensão, colesterol ou diabetes, pode sofrer um processo degenerativo dependente da idade ou ser afetada por inúmeras doenças inflamatórias», diz o especialista.

«A forma mais comum resulta de um envelhecimento da retina. Esta doença é, de facto, grave e com frequência progressiva, afetando a visão central de forma permanente e irreversível», afirma o médico. Perturbações da visão central, sob a forma de distorção das imagens, alteração da sua dimensão ou pela formação de autênticas manchas cegas, áreas do campo visual onde não se projeta nenhuma imagem, são sinais de alarme. «A degenerescência macular permite um diagnóstico mais prematuro, porque as perturbações visuais afetam a visão central o que as torna imediatamente reconhecíveis, ao contrário das alterações periféricas verificadas no glaucoma», adverte.

«Portanto, qualquer alteração permanente na nossa visão central deve merecer uma consulta ao médico oftalmologista», recomenda Luís Gouveia Andrade. «Não existe uma forma de prevenir a ocorrência desta doença», lamenta ainda o especialista. «Têm sido referidos os suplementos vitamínicos ricos em luteína. A utilização de óculos escuros é importante. Mas, infelizmente, a degenerescência macular pode sempre ocorrer... É, pois, fundamental que, face a qualquer perturbação visual persistente, recorra a um médico oftalmologista para que o diagnóstico e tratamento ocorram o mais rapidamente possível», alerta.

«Regra geral, os tratamentos disponíveis são complexos, caros e nem sempre eficazes. São variáveis e podem consistir na administração por via injetável ou intraocular de determinadas substâncias que impedem ou retardam a progressão da doença. O recurso ao tratamento com laser e a cirurgia são opções também disponíveis. A seleção do tratamento é complexa e deverá ser feita por um médico oftalmologista com uma especial diferenciação em doenças da retina», conclui Luís Gouveia Andrade.

Texto: Nazaré Tocha com Luís Gouveia Andrade (médico oftalmologista)