Tire os óculos durante 30 segundos e imagine que, após esse desfocado instante, não terá de os voltar a colocar para ver o mundo com bons olhos. É o que acontece a quem recorre à cirurgia refrativa com laser, o tratamento mais avançado e seguro para corrigir a miopia, o astigmatismo e a hipermetropia. «Primeiro faz-se uma incisão superficial no olho, criando uma fina película. Esse retalho é depois repuxado para trás, de modo a expor a córnea ao laser, que irá corrigir a curvatura do olho», explica Luís Gouveia Andrade, oftalmologista.
«Tal é feito eliminando um pequeno conjunto de células. O retalho é recolocado sem pontos, dado que a sua aderência é muito forte e rápida», refere ainda o especialista. A cirurgia é feita aos dois olhos no mesmo dia sob anestesia local e não é dolorosa. A taxa de sucesso ronda os 98% e os riscos são bastante reduzidos. «O laser incorpora uma tecnologia que fixa o centro do olho, com três miras. Mesmo que o doente se mova, o laser acompanha o olho. Se o movimento for mais brusco o laser pára», acrescenta o médico.
Adaptação é gradual
No período pós-operatório é comum sentir algum ardor e terá de aplicar um colírio anti-inflamatório, de duas em duas horas. Ao sair da operação não verá bem durante algum tempo, pelo que deve ir acompanhada e usar óculos escuros. «Ao chegar a casa convém descansar num espaço com pouca luz ou às escuras. Não deve esfregar os olhos e, pelo menos, durante 15 dias, deve evitar ambientes com muito fumo», aconselha Luís Gouveia Andrade.
O dia da independência
Um dia após a operação, a paciente fica com uma visão de cerca de 80 a 90%, que lhe garante uma autonomia completa em relação aos óculos ou às lentes de contacto. «Haverá um período de adaptação, em que a visão terá pequenas flutuações, mas sempre ao nível do bom, muito bom». Esta instabilidade, que não interfere no dia a dia mas pode causar algum cansaço ao fim de algum tempo, dura cerca de dois a três meses.
Alternativa ao laser
A colocação de uma lente intra-ocular na câmara posterior do olho, entre a íris e o cristalino, pode ser indicada, por exemplo, para pacientes com mais de sete dioptrias, o máximo que o laser consegue corrigir. Este procedimento, que implica anestesia geral e a abertura do globo ocular, «permite corrigir totalmente a miopia ou a hipermetropia excessiva, mas não o astigmatismo», refere o oftalmologista.
No caso de uma miopia muito elevada e astigmatismo aplica-se uma técnica combinada. «Primeiro, coloca-se a lente intra-ocular de modo a corrigir a miopia e, após a estabilização, ao fim de cerca de um mês e meio, trata-se o astigmatismo com laser», conclui o médico oftalmologista Luís Gouveia Andrade.
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Os requisitos fundamentais para a cirurgia
Em cinco a 10% dos casos, o paciente mantém cerca de meia dioptria. A partir dos 40 anos, surge uma situação inevitável e intratável com o laser, o cansaço visual para perto (a chamada vista cansada), que obriga ao uso de óculos para ver ao perto.
Para recorrer à cirurgia refrativa com laser é fundamental ter mais de 18 anos, uma boa função lacrimal e a graduação estabilizada há, pelo menos, um ano. Problemas oculares recentes e certas características do próprio olho podem contra-indicar o tratamento.
Texto: Vanda Oliveira com Luís Gouveia Andrade (médico oftalmologista)
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