Surdez define-se como uma impossibilidade, total ou parcial, para ouvir sons, provocada por uma lesão do sistema auditivo. Mudez é a ausência total de voz, a impossibilidade de falar, a ausência de palavras.
É rara a mudez isolada e está muitas vezes associada à surdez, pois frequentemente as crianças são surdo-mudas, isto é, não falam porque não aprenderam a usar a fala, por não terem ouvido palavras e sons. São os chamados “surdos à nascença”.
Já, o contrário pode acontecer, uma criança surda não significa obrigatoriamente que também seja muda. Existem surdos que falam, percebem o movimento labial dos outros e conseguem responder verbalmente, normalmente com um ritmo mais lento, são os chamados “surdos falantes”.
Quando é que se considera uma criança surda?
Considera-se que uma criança apresenta surdez quando o seu nível de audição é inferior ao considerado normal para identificar e reconhecer os sons, que é por volta dos 20 decibéis. De acordo com o grau, a surdez pode variar entre ligeira, moderada, severa, profunda e total. Perdas auditivos na ordem dos 30 a 40 dB levam a que as crianças ouçam as vozes como um “abichanar” e não percebam bem os sons, pelo que não desenvolvem corretamente a fala. Dependendo do local do ouvido afetado, definem-se três tipos de surdez em termos médicos - de transmissão (ouvido externo ou no ouvido médio), neuro-sensorial (ouvido interno e no nervo auditivo) e mista (ouvido médio).
Existem ainda outros dois tipos de surdez, consoante surja antes do aparecimento da fala e linguagem, ou após a sua aquisição, o que condiciona a associação a mudez.
A surdez é comum?
A perda auditiva é uma deficiência global, estimando-se afectar cerca de meio bilhão de pessoas, quase 8% da população mundial. Um a dois bebés por cada mil nascimentos tem uma surdez de grau severo a profundo, duplicando ou triplicando este valor quando se considera uma perda de audição mais leve. Nos EUA, a perda auditiva infantil permanente é detectada em 1,1 em cada 1.000 recém-nascidos examinados. Esta deficiência é ligeiramente mais comum no sexo masculino, com uma relação de 1,24:1. Em idade escolar a surdez moderada a grave surge em 3 por cada 1.000 crianças.Os adolescentes são um grupo de risco de exposição excessiva ao ruído. Em Portugal as estatísticas apontam para cerca de 150 mil pessoas com deficiência auditiva.
Que causas desencadeiam a surdez?
Há várias causas na origem da surdez infantil, sendo os fatores hereditários os mais frequentes (50%). Podem surgir por alterações durante a gravidez (malformações congénitas, infecções intra-uterinas ou consumos pela mãe), complicações ocorridas durante o parto ou ocorrerem durante a vida das crianças (excesso de cerúmen, presença de líquido no ouvido médio, infecções virais ou bacterianas, traumatismos cranianos, corpos estranhos no canal auditivo, uso de fármacos que causam toxicidade no ouvido, exposição prolongada a ruídos de elevada intensidade).
Quando devemos suspeitar se uma criança tem perda auditiva?
Existem vários sinais que nos devem alertar, uns relacionados com o comportamento da criança, outros referentes ao tipo de linguagem que a criança apresenta. Alguns exemplos são:
- bebé que reage ao tacto mas não aos sons, em que a voz da mãe não é suficiente para o tranquilizar quando chora;
- palrar de forma diferente, sem variabilidade de sons, ou parar de palrar;
- reacção inconsistente aos sons, descrito pelos pais como “uns dias parece ouvir melhor que noutros”;
- susceptibilidade anormal ao ruído;
- criança que está calada e quieta em alturas não habituais;
- criança com linguagem mal organizada, que em idade escolar é referenciada como desatenta, preguiçosa, que adormece facilmente durante o dia, reflectindo-se habitualmente num baixo rendimento escolar.
O que fazer perante a suspeita de défice auditivo?
Deve ser feita uma avaliação multidisciplinar, envolvendo vários especialistas, de modo a se programar o plano mais adequado para a criança, de acordo com as suas características individuais, tipo e grau de surdez. As causas reversíveis devem ser tratadas. Se a perda auditiva é irreversível, o aparelho auditivo ou até mesmo o implante coclear podem estar indicados, em conjunto com uma intervenção adequada à criança e família, para que haja um adequado desenvolvimento da linguagem. O uso da língua gestual, sistemas de comunicação através de símbolos e recurso às novas tecnologias, são meios alternativos para a promoção da comunicação entre os surdos/mudos e os outros, dificultada pela perturbação da fala, assim como a inclusão social.
As explicações são da médica Sandra Afonso, pediatra no Centro da Criança e do Adolescente do Hospital CUF Descobertas.
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