A pílula é o método contracetivo favorito das mulheres, sendo mesmo o único usado por muitas delas.

De acordo com os especialistas, em média, cerca de 70 por cento opta por este contracetivo hormonal e há quem o use por razões terapêuticas, como a necessidade de controlo de doenças como a acne ou de problemas como a síndrome pré-menstrual.

No entanto, apesar das suas vantagens, o seu uso não pode ser feito de forma indiscriminada. «Há que respeitar as contraindicações e reservas e perceber os casos em que a sua toma é desaconselhada» ou se é necessário ter cuidados adicionais, sublinha mesmo o ginecologista Daniel Pereira da Silva.

A questão coloca-se, sobretudo, em relação à pílula com estrogénio (a chamada pílula combinada) que interfere na saúde dos vasos sanguíneos e que, combinada com outros fatores (como o tabaco ou o peso excessivo), aumenta o risco de doença cardiovascular. Mas há outras situações. O estado da sua saúde deve ser avaliado antes de decidir se vai optar por este método contracetivo. Aconselhe-se com o seu médico antes de o fazer.

Não pode fumar

«Mulheres que fumam e usam contracetivos orais aumentam muito o seu risco de doença cardiovascular e de acidente vascular cerebral face a mulheres que não fumam e usam esse método contracetivo», alerta a American Heart Association. Já a Organização Mundial de Saúde desaconselha o uso de pílula com estrogénio (pílula combinada) às mulheres com mais de 30 anos que fumem dez ou mais cigarros por dia», sublinha o ginecologista.

«Contudo, a pílula progestativa (sem estrogénio) não está contraindicada, revela Daniel Pereira da Silva. Tal como o tabaco, o estrogénio, explica o especialista, «potencia o processo da aterosclerose, doença provocada pela acumulação de gordura nas paredes dos vasos sanguíneos», acrescenta ainda o especialista.

Não pode tomar certos medicamentos

«É preciso ter atenção aos anticonvulsivantes, usados no tratamento da epilepsia, uma vez que a pílula tende a agravar os episódios epiléticos, tornando-os mais frequentes», esclarece Daniel Pereira da Silva. «O neurologista que acompanha a mulher terá de ajustar a dose da medicação, mas o ideal será não usar este método, pois há interação a nível cerebral», realça ainda.

Quem está a tomar antidepressivos também deve optar por outro método. «Este medicamento compete com a pílula para a produção de uma enzima, o que faz com que haja uma maior toxicidade ao nível do fígado, afetando o seu funcionamento», esclarece Daniel Pereira da Silva.

Não deve expor-se ao sol sem protetor solar

O alerta estende-se a todas as pessoas, claro, mas mais ainda a mulheres que têm os recetores de melanina (um pigmento da pele) mais ativos, como é o caso de quem toma a pílula. O estrogénio, explica Daniel Pereira da Silva, «potencia a deposição da melanina e o sol vai acentuar a pigmentação». Isto não significa que «quem toma a pílula não deve apanhar sol, mas antes que terá de usar um protetor solar adequado ao seu tipo de pele e respeitar o horário da exposição ao sol recomendado», alerta.

Não deve ter níveis elevados de colestrerol

Neste caso, a pílula tomada por via oral pode não ser a melhor opção. O especialista considera preferível o anel vaginal e a via transdérmica (adesivo ou patch). «A pílula administrada por via oral vai ter uma dupla passagem hepática, ou seja, vai ser metabolizada duas vezes a nível do fígado e isso terá um maior impacto a nível da síntese do colesterol. Por via vaginal ou transdérmica só terá uma, atua e passa pelo fígado para ser eliminada. É uma questão de metabolismo», refere.

Não deve ter peso a mais

«Uma mulher com excesso de peso ou obesidade que toma a pílula tem risco acrescido de doença cardiovascular», explica o ginecologista. Paralelamente, o peso pode também condicionar a eficácia da pílula. «Caso o índice de massa corporal da mulher seja alto, é preciso ter atenção redobrada no caso de tomar contracetivo de baixa dosagem, uma vez que a dose hormonal pode não ser suficiente para evitar uma gravidez», diz. O ideal «é controlar o peso e manter uma atividade física regular», afirma ainda Daniel Pereira da Silva.

Não pode tomar hipericão

Esta planta usada em casos de depressão, «se tomada em doses elevadas, pode ser tóxica para o fígado», alerta o ginecologista. «A sua toma por quem usa o contracetivo oral (composto por hormonas que, para serem eficazes, têm de passar pelo fígado) vai afetar ainda mais o funcionamento deste órgão, uma vez que vamos estar a induzir toxicidade», resume.

A pílula não é uma opção para si se… for hipertensa!

«O risco de doença cardiovascular que existe em quem tem hipertensão é potenciado pela pílula», afirma o ginecologista. «Nestes casos, a pílula nunca é a primeira opção, sendo preferível o dispositivo intrauterino (DIU). Se a mulher escolher o contracetivo oral, terá de ser vigiada com muita atenção pelo médico e medir a tensão com regularidade para perceber se a toma da pílula provoca alterações» nos níveis de tensão arterial.

Texto: Paula Barroso com Daniel Pereira da Silva (médico ginecologista e secretário-geral da Federação das Sociedades Portuguesas de Obstetrícia e Ginecologia)