O perigo dos telemóveis para a saúde é uma polémica que se arrasta há já alguns anos. Mas só recentemente a Organização Mundial de Saúde (OMS) classificou, pela primeira vez, estes dispositivos como possíveis cancerígenos.
Esta conclusão foi baseada numa série de estudos sobre a exposição aos campos eletromagnéticos de radiofrequência.
A investigação foi levada a cabo por 31 cientistas de 14 países reunidos na International Agency for Reserch on Cancer (IARC) da OMS. Fomos questionar um dos investigadores envolvidos neste processo.
Energia negativa
Sabia-se já que as maiores fontes de exposição aos campos eletromagnéticos de radiofrequência para a população em geral são os transmissores próximos do corpo, como os telemóveis. Um dos estudos que mais peso teve na advertência da OMS, o Interphone Study (publicado em 2010) «menciona que nos utilizadores de telemóveis o risco de vir a ter um glioma (tumor maligno do cérebro) aumenta em 30 a 40 por cento», revela Robert Bann, cientista da IARC.
No entanto, o investigador salienta que «se deve ter em conta que o estudo foi feito há alguns anos, quando os telemóveis emitiam mais energia do que os usados atualmente». As pessoas analisadas usavam os aparelhos entre 1600 a 2000 horas durante dez anos, o que perfaz em média 25 a 30 minutos por dia, contudo, é difícil calcular quanto tempo de uso diário contribui para esse aumento. «Depende do tipo de telefone, da forma como é usado e da qualidade da ligação», diz Robert Bann.
Crianças em risco
Quando questionado sobre se o perigo é ainda maior nas crianças, Robert
Bann não tem dúvidas.
«Os órgãos e tecidos em desenvolvimento, nos quais
a divisão e a diferenciação celular está muito ativa, são mais
suscetíveis aos danos», adverte o especialista. «Logo, é plausível que o cérebro dos mais jovens
corra um risco maior quando exposto aos campos eletromagnéticos de
radiofrequência gerados pelo uso dos telemóveis», explica o investigador.
«Os tecidos cerebrais e
medula óssea das crianças também absorvem mais energia devido às
diferenças na sua composição. Existe menos mielinização nos tecidos
cerebrais, menos gordura muscular e um maior conteúdo de água nos
ossos», constata ainda.
À semelhança do que aconteceu durante muitos anos com o tabaco, o
perigo do uso dos telemóveis para a saúde continua «a dividir a
comunidade científica. Mesmo no seio da IARC há quem não concorde com a
advertência que estamos a fazer», diz Robert Bann. A solução está em
continuar a estudar esta ligação, «até porque o cancro é uma doença que
demora anos a desenvolver-se e a manifestar-se, especialmente no
cérebro», conclui o especialista.
Os riscos são diferentes de acordo com a forma de exposição.
O risco aumenta quando:
- O telefone está perto do corpo
- Está a falar
- A ligação é má
O risco diminui quando:
- Mantém o telefone longe do corpo
- Usa auriculares e kits de mãos livres
- Envia mensagens
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