Esta alteração do sistema imunológico é caracterizada pelo excesso de coagulação e/ou por complicações que ocorrem durante a gravidez e pela presença, no sangue, de autoanticorpos dirigidos para os fosfolípidos ou proteínas plasmáticas aderentes aos fosfolípidos (anticorpos anti-cardiolipina, anti-beta-2 glicoproteína I e anticoagulante lúpico).

É importante o recurso à Medicina Laboratorial, de forma a diagnosticar o Síndrome Antifosfolipídico e distingui-lo de outras causas ou complicações. O diagnóstico é realizado a partir de dados clínicos e pela deteção dos autoanticorpos através de testes sanguíneos.

Critérios clínicos

  • Um ou mais episódios confirmados de trombose vascular (arterial, venosa, de pequenos vasos) em qualquer tecido ou órgão;
  • Um ou mais episódios de morte fetal em fetos morfologicamente normais ou para além da 10ª semana gestacional;
  • Um ou mais partos pré-termo de recém-nascidos morfologicamente normais, antes das 34 semanas gestacionais, por pré-eclâmpsia grave;
  • Três ou mais abortos de repetição espontâneos consecutivos e sem explicação antes das 10 semanas de gestação.

Critérios laboratoriais

Um teste positivo para Síndrome Antifosfolipídico requer a:

  • Presença de anticoagulante lúpico, no plasma, em duas ou mais ocasiões com pelo menos 12 semanas entre as determinações;
  • Anticorpo anti-cardiolipina (IgG ou IgM), no soro ou no plasma, presente em título médio ou elevado (>40 GPL ou MPL), em duas ou mais ocasiões, com 12 semanas de intervalo entre as determinações;
  • Anticorpo Anti-ß2GPI (IgG ou IgM), no soro ou plasma, presente em título médio ou elevado, em duas ou mais ocasiões com 12 semanas de intervalo entre as determinações.

Os resultados laboratoriais só podem ser valorizados a partir da 12ª semana após o evento clínico (e nunca mais de 5 anos depois) caso contrário o evento pode produzir um resultado falso positivo.

Os autoanticorpos antifosfolípidos podem ser detetados, embora transitoriamente, no sangue de doentes em associação com determinadas patologias, tais como, infeções bacterianas, virais (hepatites, HIV) e infeções a parasitas.

Os anticoagulantes lúpicos são autoanticorpos produzidos pelo sistema imunológico contra fosfolipídios e proteínas associadas a eles e aumentam o risco de tromboses e de abortos recorrentes.

Os testes para anticorpos IgG e IgM anti-cardiolipina são solicitados para ajudar a determinar a causa de episódio trombótico sem explicação, situações de aborto recorrente ou trombocitopenia.

Podem ser solicitados conjuntamente com o teste para anticoagulante lúpico para auxiliar na investigação da causa de prolongamento do tempo de tromboplastina parcial ativada, especialmente se o quadro clínico sugerir a possibilidade de diagnóstico de lúpus eritematoso sistémico ou outra doença autoimune.

As explicações são de Maria José Rego de Sousa, Médica, Doutorada em Medicina, Especialista em Patologia Clínica.  

Maria José Rego de Sousa, Médica, Doutorada em Medicina, Especialista em Patologia Clínica