O cancro do pâncreas é um problema das sociedades modernas e a sua incidência aumenta com a idade. Em Portugal estima-se que surjam cerca de 1300 novos caso por ano, sendo cerca de 50% diagnosticados em estádio IV (com doença disseminada). A sobrevivência aos 5 anos é de 5% para todos os estádios. É, normalmente, um tumor silencioso até fases avançadas da doença.
O único tratamento potencialmente curativo é a remoção cirúrgica completa do tumor. No entanto, 80 a 90% dos doentes quando são diagnosticados não têm doença ressecável.
O conhecimento sobre os fatores de risco, assim como sobre as alterações moleculares e biologia tumoral, tem permitido alguma evolução no controlo desses fatores, e evolução na terapêutica. A redução do consumo de álcool, de tabaco, de gorduras animais e do excesso de peso poderão contrariar a tendência para o crescimento da sua incidência.
As terapêuticas dirigidas a alvos moleculares, dos quais as células tumorais dependem para o seu desenvolvimento, já se efetuam hoje em dia para a maioria dos tumores. No entanto, para o carcinoma do pâncreas o tratamento administrado, fora de estudos clínicos, ainda é a quimioterapia. A utilização da imunoterapia, assim com das terapêuticas dirigidas, são administradas em contexto de ensaio clínico.
Um dos investimentos que é necessário reforçar é o aumento de estudos clínicos. Apesar de ser um dos tumores com maior taxa de mortalidade, tem um nível de investimento bastante inferior a outros tumores. Os ganhos têm sido modestos, e há uma necessidade cada vez maior, da existência de investigação nesta área. A aposta na investigação e no desenvolvimento de novas terapêuticas irá permitir um aumento da sobrevivência global, aliada a uma melhor qualidade de vida.
Onde poderão surgir as novidades?
A resposta é: no diagnóstico mais precoce com a utilização de análises de ADN ou ARN em pequenas lesões suspeitas e identificação de biomarcadores fiáveis para diagnóstico e tratamento.
A Medicina de Precisão para o seu tratamento poderá ser uma promessa. Significa tratar cada doente de acordo com o perfil molecular do seu tumor, adequando-se o tratamento mais eficaz às alterações detetadas.
Existem em curso diversos projetos em larga escala onde clínicos, investigadores da ciência básica, investigadores de técnicas de diagnóstico e de desenvolvimento de novas drogas trabalham em conjunto. Desenvolvem novas abordagens, nomeadamente, na área da imunoterapia, disrupção do estroma tumoral, e nas alterações da reparação do material genético do tumor. É uma intervenção bastante complexa, tendo em consideração que estamos perante um tumor também muito complexo e de grande resistência aos tratamentos habitualmente utilizados.
Em conclusão, podemos dizer que ainda muito há a fazer no diagnóstico e tratamento deste tipo de tumor. Felizmente, a sociedade está também mais alerta e mais focada no desenvolvimento de novas estratégias para melhorar os resultados e sobrevivência destes doentes.
As explicações são da médica Ana Raimundo, especialista em Oncologia na CUF Infante Santo.
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