O que é incontinência urinária (IU)? Será que tenho incontinência urinária? Podem parecer perguntas fáceis de responder, mas na realidade encontramos na prática clínica do dia a dia, quem não consiga responder a estas questões.

Então o que é? É a perda involuntária de urina, ou seja, a incapacidade de controlar o esvaziamento da bexiga ou de aguardar pelo momento e o local adequado para o fazer.

A incontinência urinária é uma realidade que afeta grande parte da população, mais de 1 milhão de portugueses, sendo transversal a todas as faixas etárias e é mais frequente no sexo feminino.

A incidência tem vindo a aumentar devido ao envelhecimento da população e é inibidora de uma vida social normal, um fator de exclusão familiar e de diminuição da autoestima. Consequentemente leva a um potencial agravamento das situações de depressão e paralelamente a um aumento do risco de infeções urinárias e de dermatites.

É importante informar e cultivar o conhecimento sobre esta patologia, que é ao mesmo tempo um sintoma, pois é referida pelo doente. É um sinal, porque é demonstrável objetivamente, e uma condição que é um problema de saúde, social e de higiene.

Apesar do aumento das campanhas de sensibilização quer de associações médicas, quer da sociedade civil, ainda há muita ignorância relativamente a este tema e sobretudo continua a existir um tabu na sociedade que se caracteriza por vergonha, resignação, desinvestimento em si próprio por estes pacientes, medo da cirurgia e mitos sobre a ausência de tratamentos eficazes ou dos seus efeitos secundários. O impacto negativo na qualidade de vida é tremendo e os custos económicos diretos e indiretos são elevadíssimos.

Os fatores de risco que se devem ter em conta são a idade, obesidade, antecedentes de gravidez, parto vaginal, e cirurgia prostática ou pélvica, obstipação crónica, tabagismo e antecedentes familiares de incontinência urinária, que revela uma herança genética desfavorável.

Existem vários tipos de IU:

Incontinência urinária de esforço – perda de urina relacionada com o esforço, sem sensação de vontade de urinar ou de bexiga cheia.

Incontinência urinária de urgência – perda de urina acompanhada ou imediatamente antecedida por uma vontade súbita ou urgência miccional. Esta incontinência urinária de urgência ocorre na sequência de contrações involuntárias da bexiga ou por diminuição da capacidade normal da bexiga e é provocada maioritariamente por uma bexiga hiperativa de etiologia idiopática, ou seja, de causa desconhecida ou por bexiga neurogénica quando tem por base uma doença neurológica

A bexiga hiperativa é uma síndrome que se caracteriza por um aumento da frequência urinária, uma urgência em urinar, muitas vezes acompanhada de noctúria - necessidade de se levantar durante a noite para esvaziar a bexiga, interrompendo assim o sono - e também associada a incontinência urinária.

O diagnóstico é feito com base no quadro clínico e nos sintomas, sendo que podem ser feitos exames complementares para excluir outras situações que podem mimetizar os sintomas da bexiga hiperativa.

Na bexiga hiperativa estão indicadas algumas alterações do estilo de vida como micção programada, controle da ingestão de líquidos, evitar consumir estimulantes da bexiga, como o café e o chá preto, realizar exercício físico regular e fazer a reabilitação do pavimento pélvico.

O tratamento farmacológico neste tipo de incontinência urinária é a opção terapêutica de 1º linha e com excelentes resultados, podendo contar essencialmente com 2 classes de fármacos: os anticolinérgicos, que inibem o sistema nervoso parassimpático, responsável pela contração do músculo da bexiga e uma nova classe de fármacos que são os simpaticomiméticos, que vão mimetizar o efeito do sistema nervoso simpático. Ao estimular o simpático vai-se relaxar a bexiga, aumentando a sua capacidade volumétrica e fazendo com que o paciente tenha menos urgência urinária.

Assim temos grandes armas para tratar a incontinência urinária e a bexiga hiperativa, basta para isso que as pessoas que apresentam esta condição procurem ajuda e relatem ao seu médico assistente que estão a sofrer desta enfermidade.

Um artigo de Frederico Ferronha, assistente graduado de Urologia e coordenador do departamento de Uroginecologia do Hospital de São José.