Com o aumento da esperança média de vida, as pessoas contribuem de forma crucial para a sociedade e a economia durante mais tempo. Paralelamente, a probabilidade de virem a desenvolver algumas doenças comuns em idades mais avançadas também tem vindo a aumentar, como é o caso da doença valvular cardíaca, que tem sido já descrita como a próxima epidemia cardíaca.
Afeta uma em cada oito pessoas com mais de 75 anos, estando a aumentar rapidamente devido ao envelhecimento da população. Os números globais mostram que este número poderá duplicar até 2040 e triplicar até 2060. Para evitar este desfecho, o melhor é mesmo ouvir o seu coração!
A doença valvular cardíaca é causada por desgaste, doença ou dano de uma ou mais das quatro válvulas do coração, afeta o fluxo de sangue e divide-se em dois tipos principais: a estenose aórtica (estreitamento da válvula aórtica) ou a regurgitação mitral (degenerescência da válvula mitral).
Apesar de estar ligada ao envelhecimento, a verdade é que pode estar presente deste o nascimento, sendo denominada de doença cardíaca congénita. É, portanto, uma condição comum, que pode ser grave, e é tratável.
Os principais sintomas desta doença são comuns em pessoas acima dos 65 anos, sendo muitas vezes desvalorizados, o que acaba por fazer com que esta doença represente uma barreira para o envelhecimento ativo. É, por isso, crucial estar atento a sintomas como aperto ou dor no peito, falta de ar, fadiga, batimentos cardíacos irregulares e desmaios. Além disto, fazer regularmente uma simples auscultação com estetoscópio a partir dos 50 anos poderá evitar desfechos mais graves.
Procurar ajuda especializada facilita assim o diagnóstico precoce e, consequentemente, a adoção do melhor tratamento, que, no caso da estenose aórtica (estreitamento da válvula direita pode passar pelo implante de uma nova válvula cardíaca, que pode ser feito através de uma cirurgia convencional ou de tratamento percutâneo (TAVI).
O procedimento é realizado através de um cateter introduzido por uma artéria (geralmente na virilha), sem necessidade de parar o coração. Esta é uma técnica minimamente invasiva que assinalou este ano o seu vigésimo aniversário e é, para muitos especialistas, o grande avanço da cardiologia do século XXI.
A campanha #OuçaOSeuCoração (#ListenToYourHeart) foi lançada pela Global Heart Hub para assinalar a Semana Europeia de Sensibilização para a Doença da Válvula Cardíaca (12 a 18 de setembro). Conta com o apoio da iniciativa Valve For Life e da campanha “Corações de Amanhã”, da Associação Portuguesa de Intervenção Cardiovascular (APIC). O objetivo passa por aumentar a conscientização da população para a doença valvular cardíaca e os seus sintomas, promovendo a melhoria do diagnóstico, do tratamento e da gestão desta na Europa.
Um artigo de Rui Campante Teles, médico cardiologista e coordenador do Projeto Valve For Life/Corações de Amanhã, da Associação Portuguesa de Intervenção Cardiovascular.
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