Desde a introdução do laser, a cirurgia ocular transformou-se radicalmente. A técnica Lasik com Excimer é a mais utilizada e a que melhores resultados oferece em geral, embora hajam outras opções, como poderá ver mais à frente. Saiba como se processa. Antes da intervenção, será realizado um scanner do olho para determinar a curvatura e a espessura da córnea e outros dados relevantes. Com base nestes dados, o especialista programa o laser, calculando o tratamento a seguir na intervenção.
Os cuidados pré-operatórios, «envolvem, nalguns casos, a realização de uma medicação profiláctica para evitar a infecção pré-operatória, e não usar lentes de contacto uma a duas semanas antes da intervenção», explica Nuno Campos, médico oftalmologista. Não obstante os bons resultados, os doentes são informados dos eventuais riscos. «Mesmo havendo uma avaliação prévia, as pessoas têm de estar conscientes de que se trata de uma técnica cirúrgica que tem os seus riscos», sublinha ainda o especialista.
Cronologia da intervenção
Primeiro, aplica-se um colírio antibiótico e umas gotas de anestesia. De seguida, o micro-queratótomo realiza o flap na camada mais superficial da córnea, sem despegá-la totalmente do olho. Depois, levanta-se o flap e o laser é realizado no estroma da córnea. Calcula-se que, para três dioptrias, são necessários 600 impactos de laser, que vão vaporizando o tecido de forma doseada. Finalizada a sessão, limpa-se a córnea com soro e é recolocado o flap que adere e se fixa imediatamente.
Aplicam-se umas gotas de colírio anti-inflamatório e antibiótico. O paciente deverá permanecer com os olhos fechados durante aproximadamente 15 minutos. A intervenção em si não é dolorosa. No entanto, algumas pessoas podem sentir um ligeiro desconforto. A intervenção é ambulatória e é utilizada anestesia local. Uma a duas horas depois, o paciente abandona a clínica. Há que aplicar lágrimas artificiais, bem como umas gotas de anti-inflamatório e de antibiótico, em cada olho, durante alguns dias.
No próprio dia, o paciente tem a visão turva e uma sensação de incómodo. «No dia seguinte, já tem 70 a 80% da visão final definitiva e mantém a terapêutica tópica durante três a quatro semanas», salienta Nuno Campos. Ainda que a estabilização definitiva só ocorra após uns dias, no dia seguinte à intervenção, o paciente pode fazer uma vida absolutamente normal, embora sem trabalhar.
Os resultados da cirurgia
Ao modificar-se a curvatura da córnea, os problemas refractivos são corrigidos. De uma forma geral, permite prescindir do uso de óculos e lentes. Só em alguns casos específicos, pode ser necessário o recurso às mesmas para ver televisão ou ler. «Ao final de um mês, cerca de 90% da refracção já é definitiva, sendo a refracção final obtida ao fim de seis meses», diz Nuno Campos. Quem decidir fazer esta operação, pagará, em média, cerca de 2.200 euros pela cirurgia nos dois olhos.
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Os possíveis efeitos adversos desta cirurgia
Apesar de seguro, o procedimento cirúrgico pode ter consequências imediatas. «Podem surgir alterações do flap e da própria cicatrização. A própria realização do flap pode ter algumas complicações que tentam ser minoradas ou previstas por todo o tipo de exames feitos anteriormente», salienta Nuno Campos. «A realização de uma cirurgia destas é uma responsabilidade dividida e compartilhada entre o médico e o doente», refere ainda.
Dois em cada 100 olhos operados necessitam de uma segunda cirurgia. Esta necessidade ocorre, fundamentalmente, em pacientes com muitas dioptrias. «Na realidade, cerca de 2% dos doentes podem ter de fazer um retoque adicional para reduzir a graduação. Isto normalmente só se faz a partir dos seis meses da estabilização dos resultados da primeira cirurgia», diz-nos o médico oftalmologista.
Nas primeira semanas depois da intervenção, as lágrimas são em menor quantidade e é conveniente aplicar lágrimas artificiais. A visão nocturna pode apresentar, nalguns casos, algumas limitações «nos primeiros meses», adverte ainda o especialista.
Outras opções a que pode recorrer
Existem outras técnicas disponíveis nos casos em que o Lasik não é viável. No entanto, algumas delas ainda não são muito aplicadas em Portugal, conforme indica Nuno Campos:
- Queratotomia radiária
«Esta foi a primeira técnica utilizada na realização de cirurgia refractiva», avança Nuno Campos. Esta intervenção é levada a cabo através da realização de cortes radiários na córnea que produzem uma melhoria da visão em 90% das miopias que têm entre uma a sete dioptrias. A recuperação é razoavelmente rápida. A intervenção tem o inconveniente dos resultados serem menos previsíveis, porque têm de se realizar cortes profundos, podendo haver complicações.
As mais comuns são as que alteram temporariamente a visão ao longe. O médico oftalmologista Nuno Campos acrescenta que «esta técnica pode ser utilizada em circunstâncias muito específicas como, por exemplo, para corrigir os astigmatismos residuais pós-cirúrgicos de catarata. Na Europa, é muito pouco utilizada com intuitos puramente refrativos, neste momento», sublinha.
- Lentes fáquicas intra-oculares
Ainda que esta técnica se possa combinar com o laser, também pode aplicar-se por si só. Consiste na implantação de uma lente especial e permanente entre a córnea e o cristalino, com recurso apenas a uma pequena incisão na córnea para introduzir a lente. «É uma técnica utilizada em doentes que, pela sua alta miopia ou por terem a córnea muito fina, não podem recorrer ao Lasik. No entanto, o número de casos é menor», fundamenta Nuno Campos.
Como se faz? Coloca-se uma câmara no interior do olho. Uma vez dentro, a lente expande-se. Esta intervenção realiza-se sob anestesia geral ou local, durando, no máximo, 40 minutos e o paciente pode ir para casa passadas umas horas. A recuperação é bastante rápida, embora mais lenta do que com o Lasik.
- Terapia refrativa da córnea (turno da noite)
Consiste na colocação de umas lentes especiais para a noite, sobretudo enquanto dorme, para que se moldem progressivamente às córneas. Os resultados são pouco previsíveis. Em Portugal, é muito pouco utilizada, porque «mal se deixa de usar a lente, a córnea volta ao seu estado normal e o paciente volta a ver mal», indica Nuno Campos.
Texto: Cláudia Pinto
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