Erradamente, os benefícios dos cereais integrais tendem a estar relacionados apenas com as dietas de emagrecimento, mas na verdade – são muito mais amplos.

A evidência científica demonstra o potencial efeito protetor do seu consumo regular face ao desenvolvimento de diversas doenças crónicas, como obesidade, diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e alguns tipos de cancro como o colorretal, do pâncreas e estômago, entre outras.

Estes potenciais benefícios advêm de um consumo de pelo menos 2 a 3 porções de cereais integrais por dia (ref. 1 2).

Consideram-se cereais integrais os grãos são mantidos inteiros ou moídos em forma de farinha e não passam por um processo de refinamento, mantendo todos os seus componentes originais: farelo, gérmen e endosperma. Os cereais integrais contêm, assim, mais nutrientes do que os cereais refinados.

A verdade é que o consumo de cereais integrais permanece preocupantemente baixo a nível global e principalmente nos países desenvolvidos. A bem da saúde pública, é preciso inverter essa tendência.

Em Portugal (como é mencionado no Relatório PNPAS, 1019) em 2017, os hábitos alimentares inadequados dos portugueses foram o terceiro fator de risco que mais contribuiu para a perda de anos de vida saudável, nomeadamente devido a doenças metabólicas, doenças do aparelho circulatório e neoplasias.

De entre os hábitos alimentares, o baixo consumo de cereais integrais, o baixo consumo de fruta e o baixo consumo de frutos oleaginosos e sementes, destacam-se como os 3 principais fatores que contribuem para a perda de anos de vida saudável.

É preciso mudar estes hábitos e introduzir mais cereais integrais na nossa alimentação. A nível mundial, a Whole Grain Initiative (Iniciativa para os Cereais Integrais), uma parceria entre especialistas e organizações dedicadas à promoção dos cereais integrais, está a apelar aos governos para que reconheçam o papel destes na criação de sistemas alimentares saudáveis, sustentáveis e resilientes, promovendo os cereais integrais em campanhas de educação alimentar e saúde.

Pesquisas recentes do fundo World Wildlife sugerem que a mudança para uma "dieta planetária" (uma alimentação equilibrada com muitos cereais integrais, frutas e legumes, e menos açúcar, óleos, gorduras e carne) pode reduzir a perda de vida selvagem em até 46%, travar a desflorestação e reduzir as emissões de gases com efeito de estufa associados à alimentação, principalmente com base nas práticas agrícolas em pelo menos 30%.

Em suma, o consumo de cereais integrais fornece ao organismo um conjunto muito importante de nutrientes que se traduzem em diversos benefícios para a saúde, podendo contribuir para o controlo de peso, diminuição do colesterol, melhoria do trânsito intestinal e na regulação dos níveis de açúcar no sangue.

É, por isso, recomendado o consumo regular de cereais integrais, nomeadamente três porções de 16 gramas / dia.

Precisamos ingerir mais alimentos com cereais integrais. Hoje em dia, eles estão presentes em vários alimentos, tornando mais fácil e saboroso cumprir este objetivo.

Podemos começar logo ao pequeno-almoço, escolhendo cereais cujo primeiro ingrediente sejam cereais integrais, juntando-lhe, por exemplo, leite, iogurte, uma bebida vegetal e fruta fresca. É fácil, saboroso e protegemos a nossa saúde.

Artigo de opinião de Ana Leonor Perdigão, Nutricionista e Nutrition, Health & Wellness Nestlé Portugal

Referências:

1 McRae M. P. (2017). Health Benefits of Dietary Whole Grains: An Umbrella Review of Meta-analyses. Journal of chiropractic medicine, 16(1), 10–18.

2 Maki, K. C., Palacios, O. M., Koecher, K., Sawicki, C. M., Livingston, K. A., Bell, M., Nelson Cortes, H., & McKeown, N. M. (2019). The Relationship between Whole Grain Intake and Body Weight: Results of Meta-Analyses of Observational Studies and Randomized Controlled Trials. Nutrients, 11(6), 1245.