Atravessou o oceano à procura de uma oportunidade de trabalho no Brasil, onde viria a confrontar-se com um cancro da mama. A doença mudaria a forma como Vânia Castanheira olha hoje para os desafios mais difíceis.

«Ninguém está preparado para receber a notícia de que tem um cancro. Muito menos uma mulher de 31 anos que já queria ter filhos… ontem!», recorda a bloguer.

A 14 de janeiro de 2013, o marido, que tinha ido buscar os resultados dos exames que tinha feito, ligou-lhe a dar a notícia. «Tens um carcinoma de ductos mamários», disse o companheiro marital da autora do blogue Minhavida-comigo.com. «A expressão era feia, mas eu não conhecia o significado», recorda Vânia Castanheira. «Amor, espera um segundo, vou perguntar ao Dr. Google», respondeu. «Pausa longa, respirei fundo e disse: É cancro! Senti-me perdida. Se estivesse de pé, julgo que teria ficado sem equilíbrio», diz a ex-diretora de uma empresa de tradução no Brasil.

«Parece que perdemos a capacidade de sentir o corpo», refere ainda. Naquela altura, enviou uma mensagem à ginecologista que a acompanhava. «Tenho um cancro. Resolva-me isto, por favor», pediu. «A médica pediu-me para ir ter com ela de imediato. Confirmou o diagnóstico e disse que, provavelmente, a doença estava numa fase inicial. Fui com urgência a um médico especialista da mama. A partir daí, começou uma nova vida», desabafa Vânia Castanheira.

O confronto com as cirurgias

O senologista tranquilizou-a e pediu-lhe mais exames. «Depois da angústia da incerteza de qual seria o melhor tratamento, marcou uma cirurgia na semana seguinte. Deu-me duas possibilidades: A opção mais radical seria retirar o peito e fazer a reconstrução na mesma cirurgia (uma mama) ou a opção conservadora eliminar um quadrante da mama. Escolhi a segunda por ser menos agressiva psicologicamente e por não haver necessidade clínica», confessa Vânia Castanheira.

A cirurgia a que se submeteu iria demorar três a seis horas. «Disseram-me que não precisaria de quimioterapia, apenas de radioterapia. Seis dias depois da cirurgia, recebi a chamada do médico. A margem de segurança estava comprometida. Tinha outro carcinoma in situ no mesmo peito (outro tumor, mas que ainda não saiu da célula). Voltei ao bloco operatório, mas recuperei bem», afiança a bloguer.

O pior dia

«Sou uma mulher forte mas, na consulta de 21 de fevereiro, desabei, perdi o chão, o teto e o sentido da vida. Seria necessário eliminar algo que restasse no organismo para diminuir as probabilidades de vir a ter uma recidiva, pois alguma célula do tumor podia ter entrado na corrente sanguínea ou no sistema linfático. Saber que tinha de ser submetida a quimioterapia dentro de 15 dias, que ficaria sem cabelo, pestanas, sem força para nada, foi o pior momento da minha vida», recorda Vânia Castanheira.

«Foi pior do que os enjoos do tratamento. Na minha cabeça, a quimioterapia sempre foi a vilã das vilãs. Cheguei a pensar que a Vânia enérgica, trabalhadora, independente e cheia de vontade de viver cada segundo iria tornar-se um ser dependente e definhante», confessa a autora do livro «O Cancro Foi a Minha Cura», publicado em 2014 pela Matéria-Prima Edições.

O início da luta

«E quer ter filhos?», perguntou o médico. «Após a quimioterapia, pode ficar infértil ou viver uma menopausa precoce. Então se quer ter filhos, vá ontem a um médico especialista em fertilidade. Foi horrível», lamenta Vânia Castanheira. «Estava desesperada. Eu, que nunca choro, não parava de chorar. Agendei uma consulta de fertilidade. Desde que descobri o cancro, pesquisei muito sobre a doença. Falei com médicos, nutricionistas, li muitos livros. Queria respostas», assume.

«Apercebi-me que, afinal, o cancro não é o fim do mundo. As pessoas precisam de saber disso! Precisam de saber que, embora seja difícil, não estive morta durante este ano. Foi a minha pior fase de vida e, de facto, há momentos em que não nos sentimos bem, mas é possível continuar a trabalhar e temos de tentar. Em junho, criei o blogue e um projeto de solidariedade», revela Vânia Castanheira.

Atitude positiva

Passado o impacto inicial, rapidamente arregaçou as mãos. «Decidi que não me deixaria abater. Iria enfrentar tudo e todos. Jamais pensei que ia morrer e nunca questionei o porquê de tal estar a acontecigo comigo», assegura a bloguer. «Não existe resposta objetiva e eu não ia ser uma vítima psicológica do cancro. Queria entendê-lo, mas nunca iria encontrar uma resposta definitiva. Era uma paciente oncológica, não uma vítima», assume.

«Tinha de dar luta. Se não fosse por mim, pelo menos, pelas pessoas que me amavam. Não podia deixar que a minha mente me derrubasse. Tinha de a usar a meu favor. Enfrentar os problemas olhos nos olhos, com soluções, oportunidades, desafios. Era a única opção. Era isso ou definhar, entrar numa espiral negativa cuja saída seria demasiado complicada. Eu queria era viver», desabafa Vânia Castanheira.

A importância do amor

Dar a notícia aos progenitores mais tarde foi complicado. «Quando falei, via Skype [programa informático de comunicação telefónica gratuito], com os meus pais que estavam em Portugal, tentei transmitir-lhes este otimismo. Sempre e desde o início. A minha família ficou admirada. Trabalhei até à véspera da cirurgia. Tinha de deixar tudo preparado. Tinha um cancro, mas a minha vida não parou. Não era a minha hora de morrer», assegura Vânia Castanheira.

«Para quê ir para casa chorar desesperadamente? Não adianta nada. Pensei aproveitar enquanto me sentia bem. Depois da cirurgia, não sabia como ia ficar. A minha mãe foi ao Brasil várias vezes. O meu pai também, mas na verdade estavam sempre lá, mesmo sem estarem fisicamente presentes. E, graças a Deus, o meu marido é um super parceiro», elogia Vânia Castanheira.

«Ele esteve sempre comigo, foi a todas as consultas e respeitou as minhas decisões. São tantas as que temos de tomar e, às vezes, já não sabemos por que caminho optar. Foi muito importante», assegura a ex-diretora de uma empresa de tradução no Brasil, que hoje pretende ajudar mulheres na mesma situação a encarar o problema com outra perseverança.

Mudar a alimentação

A cura passou também pela mudança dos hábitos alimentares. «Pesquisei tudo sobre os alimentos que podem prevenir e ajudar a combater a doença. Até então devorava chocolates como se não houvesse amanhã. Comia sempre o meu docinho diário até descobrir livros que defendem que o açúcar branco alimenta o cancro. Hoje, substituo-o, em 70 por cento das vezes, por agave ou mel e não consumo alimentos de farinha branca (pão, massas) ou arroz. Comer, durante a quimioterapia, era uma obrigação para ter forças para poder fazer o maldito tratamento», diz.

A maior lição

«Hoje sinto-me bem. Plena. Terminei os tratamentos há cerca de cinco meses [início de 2014]. Há muito tempo que não me sentia assim. Há tanta informação que ainda quero descobrir e transmitir, torná-la mais acessível aos outros», esclarece Vânia Castanheira. O livro «O Cancro Foi a Minha Cura» é, simplesmente, «sobre um problema e a forma como foi ultrapassado», assegura.

«Seja um divórcio, perder o emprego, um cancro... Tudo pode ter a mesma proporção. Somos nós que definimos a dimensão do problema. Tenho 32 anos e irão aparecer muitas mais pedras no meu caminho. Não sei como vou lidar com elas, mas espero que sempre bem e cada vez melhor. É preciso viver o agora e o momento. A forma como encarei o cancro foi das maiores aprendizagens da minha vida», considera a bloguer.

Perseverança e positivismo

O que Vânia Castanheira fez para não se deixar derrotar mentalmente pelo cancro:

- «É importante procurar estar informada sobre a doença», começa por aconselhar.

- «A perspetiva que adotamos é fundamental. Não é fácil, mas importa tentar encontrar sempre o lado positivo. Por exemplo, em vez de a pessoa se martirizar com a queda do cabelo, deve pensar antes que pode usar um lenço bonito», sugere Vânia Castanheira.

- «Usar produtos de beleza e maquilhagem também ajuda a preservar a autoestima», recomenda a bloguer.

- «Não adianta responsabilizar os outros pela nossa felicidade. O médico tem o trabalho de indicar o melhor tratamento e dar-nos a qualidade de vida possível, mas cabe-nos a nós decidir como queremos viver. Por exemplo, mesmo que seja difícil, durante a quimioterapia é importante comer bem para reforçar o sistema imunitário», elucida.

5 truques ara ajudar o cabelo a crescer:

1. Ingerir proteína de boa qualidade, nomeadamente ovo, frango, peixe e carne.

2. Adotar alimentos ricos em vitamina A, C, ferro e zinco, como a laranja, a cenoura e a abóbora.

3. Privilegiar o consumo de cereais integrais.

4. Coma feijão com vegetais verdes ou fruta rica em vitamina C, para otimizar a absorção de ferro.

5. Oleaginosas, como amêndoas ou nozes, devem fazer parte do seu regime alimentar diário.

Texto: Fátima Lopes Cardoso com Luis Batista Gonçalves (edição online) e Artur (fotografia)