![Ligamentoplastia](/assets/img/blank.png)
Se sempre teve medo das operações à coluna, vai gostar de conhecer a ligamentoplastia. Rápida e minimamente invasiva, reforça os ligamentos naturais que unem as vértebras, sem agredir a estrutura óssea. E com resultados (quase) imediatos.
Maria Lopes começou por sentir muitas dores nas costas e numa perna. Os sintomas eram tão fortes que a obrigaram a deixar de caminhar. Por esse motivo, há cerca de nove meses, por indicação de um familiar, foi a uma consulta com o cirurgião Manuel Enes.
Com 57 anos, submeteu-se a uma ligamentoplastia, sem qualquer tipo de receio, muito optimista e com muita vontade de voltar a fazer o que antigamente não conseguia. «Depois da cirurgia, senti-me bem. As duas primeiras semanas foram de recuperação mas voltei a caminhar e os resultados foram imediatos», afirma.
Para comprová-lo recorda a caminhada de sete horas realizada há poucotempo «sem qualquer dor», algo que seria impensável antes da realização da ligamentoplastia. «Senti-me mesmo muito bem!», reforça. Actualmente a frequentar consultas regulares de acompanhamento e satisfeita por ter avançado para a cirurgia, aconselha outras pessoas com as mesmas queixas a não hesitarem em procurar ajuda.
O que é a ligamentoplastia?
A ligamentoplastia é um acto cirúrgico que pretende reforçar e estabilizar os ligamentos da coluna vertebral, nomeadamente os que estão enfraquecidos e que se vão tornando insuficientes e demasiado fracos com o passar dos anos. «O enfraquecimento desses ligamentos leva a uma instabilidade segmentar entre os elos da coluna, que originam a formação dos osteófitos, vulgarmente conhecidos como "bicos-de-papagaio", que vão, aos poucos, crescendo para os canais dos nervos, comprimindo e dificultando a passagem dos nervos para as pernas», explica Manuel Enes, director da Clínica Praxis e cirurgião especializado em Ortopedia.
Quando esta realidade vai incomodando os pacientes e se pode actuar a tempo, a ligamentoplastia pode ser uma solução adequada. Manuel Enes é o grande responsável pela introdução desta técnica em Portugal. Desenvolvida, há cerca de 10 anos, pelo próprio e por alguns colegas na Alemanha e na Coreia do Sul, ainda são poucos os locais onde é realizada.
Em Portugal, a clínica que representa é a única a fazer esta cirurgia. «Trata-se de uma alternativa para os processos clássicos de implantação de metais (como as placas de titânio)», adianta o especialista. «Os sistemas tradicionais são óptimos», na sua opinião, «mas não o suficiente para pacientes com idades a partir dos 65, 70 anos», adverte. Para além disso, Manuel Enes também tem desenvolvido esta cirurgia em pessoas mais jovens, de 30, 40 e 50 anos para tratamento das hérnias discais.
Como se realiza?
Esta cirurgia permite reforçar os ligamentos naturais que unem as
vértebras nos casos de instabilidade já existente ou provocadas por
intervenções cirúrgicas de descompressão neurológica, ou ainda quando
estas articulações são dolorosas, como na espondilartrose.
A duração da cirurgia depende dos casos mas, em média, demora entre uma
hora e uma hora e meia. «Utiliza-se uma anestesia geral leve e, em casos
excepcionais, é administrada apenas uma anestesia local, sobretudo em
pessoas muito frágeis e mais idosas».
A cirurgia realiza-se de manhã e,
da parte da tarde, o doente já caminha. Tem alta no dia seguinte, mesmo
que seja um paciente com idade avançada. Após a realização da ligamentoplastia, recomenda-se cautela no que
respeita aos esforços físicos durante um mês. «O paciente não deve
conduzir mas deve ser incentivado a subir e descer escadas e a sair de
casa», reforça Manuel Enes. O objectivo é que as pessoas se possam
movimentar rapidamente e que os músculos sejam solicitados. «Ao fim de
um mês, os pacientes podem voltar a trabalhar».
Existem riscos?
Qualquer cirurgia que envolva anestesia envolve sempre riscos. No entanto, há que fazer uma análise antes de se avançar com a intervenção. «A mesma só é proposta a doentes que estejam em condições. A segurança da cirurgia propriamente dita é avaliada através de exames pré-operatórios», sublinha Manuel Enes. Saliente-se ainda que estamos perante uma “micro-cirurgia”, em que não há necessidade de corte de músculos.
O que previne?
Esta cirurgia previne que se chegue à situação extrema do aperto dos nervos no canal raquidiano. «Conseguimos, através da ligamentoplastia, reforçar que aquele disco se continue a desgastar e que se vá transformar numa espondilartrose». Actualmente, já se consegue prevenir, com este acto cirúrgico, o aparecimento de uma hérnia discal. «Actuamos quando estamos perante o desgaste do disco, o que é considerada uma prevenção absoluta», explica Manuel Enes.
Quando se notam os primeiros resultados?
Depende da patologia e da doença que estiver associada. «Quando há uma
componente mecânica de compressão dos nervos, as melhorias são
imediatas», defende o cirurgião. Depois da realização da
ligamentoplastia, «os pacientes vão notar, com a passagem das semanas e
dos meses, que não existe a dor lombar que tinham, conforme vão
adquirindo um movimento mais fluído e normal e começam a usar as costas
normalmente».
Os resultados vão sendo cada vez melhores após o tratamento adequado.
Não é comum haver necessidade de repetir a cirurgia, conforme indica
Manuel Enes: «Nunca aconteceu ter de operar novamente um doente pelo
mesmo problema mas sim por um outro, como, por exemplo, uma cirurgia a
uma hérnia discal a posteriori».
Tratamento complementar
Depois da cirurgia, o cirurgião deve fazer uma avaliação no primeiro mês, nos dois meses seguintes e passados três meses, altura em que se pode indicar o tipo de exercício físico que o paciente poderá realizar, além da marcha (o mais comum). No Centro de Fortalecimento Muscular da Clínica Praxis, os doentes podem submeter-se ainda a um tratamento inovador: o programa de reabilitação MedX.
A primeira fase deste programa consiste na elaboração de um diagnóstico para avaliar a força e a mobilidade (amplitude articular) dos músculos da coluna do paciente em pontos diferenciados. «Neste momento, somos o único centro em Portugal que utiliza o sistema MedX», adianta Manuel Enes. Consiste em promover o fortalecimento muscular, através de máquinas que são construídas de forma a serem adaptadas na sua geometria a pessoas mais frágeis e com dores. Pode ser utilizado para complementar os resultados da cirurgia ou como tratamento principal.
Depois de ministrado o teste de diagnóstico, e salvo quaisquer contra-indicações, é elaborado um programa de terapia, que se estende por 16 sessões, uma ou duas vezes por semana. A intensidade do tratamento é definida individualmente para cada doente, que é seguido durante todo o processo por uma equipa de terapeutas especializados.
Operar: sim ou não?
As cirurgias à coluna estão muito associadas a mitos que surgiram sobretudo devido a métodos primitivos que foram inicialmente utilizados. «Os mitos não surgiram do nada. De facto, as cirurgias à coluna eram muito complicadas mas os instrumentos evoluíram de uma maneira extraordinária», diz-nos o cirurgião.
Os próprios exames, as ressonâncias magnéticas actuais, têm uma perfeição de imagem
que nos permitem fazer diagnósticos exactos e saber onde é preciso actuar. «A realidade actual é completamente diferente. É preciso dizer que nenhuma pessoa é operada à coluna para ficar curada mas sim para melhorar o seu estado de saúde», acrescenta Manuel Enes, que defende, acima de tudo, o claro esclarecimento dos potenciais candidatos a esta cirurgia.
Assim, começa por esclarecer que «o processo não é doloroso» e que «os pacientes podem realizar pequenas tarefas, mexer-se e ter uma boa qualidade de vida depois da cirurgia». E acrescenta: «Os fantasmas da cirurgia associados à ideia que se ficará incapacitado ou numa cadeira de rodas surgem como uma barreira à realização da ligamentoplastia e de outras cirurgias. É preciso ter-se noção que a realidade é absolutamente contrária».
Para mais informações, aceda ao site www.clinicapraxis.pt
Texto: Cláudia Pinto com Manuel Enes (cirurgião da coluna, director da Clínica Praxis)
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