Por certo já ouviram falar de alguém que não pode comer favas. Após a ingestão destas sentem arrepios, febre, dores nas costas e barriga, a tensão arterial baixa muito e de seguida ficam ictéricos (amarelos) e a urina é muito escura. Esta doença aguda tem o adequado nome de favismo (de favas) e pertence ao grupo das anemias hemolíticas. Estas têm origens e causas muito diferentes.
A forma aguda da anemia hemolítica não é a mais frequente. Manifestam-se muitas vezes apenas com os clássicos sintomas de anemia (fadiga crónica, fraqueza, falta de ar, cefaleias, etc.) e uma ligeira icterícia (amarelidão) da esclerótica (branco do olho). Na sua origem está a destruição precoce e anormal dos glóbulos vermelhos. Essa destruição tem causas intrínsecas e extrínsecas aos glóbulos vermelhos.
Entre as causas extrínsecas destacam-se os obstáculos mecânicos na circulação do sangue. Em doenças que provocam esplenomegália (baço grande) e paludismo, o baço vai capturar e fragmentar os glóbulos vermelhos. Também as válvulas cardíacas artificiais ou os aneurismas fragmentam os glóbulos vermelhos. Uma grande quantidade destes, o aumento da bilirrubina (substancia amarela derivada da hemoglobina) e sinais laboratoriais de anemia, fazem o diagnóstico de anemia hemolítica microangiopática (microangio = pequeno vaso sanguíneo). A solução é quase sempre cirúrgica.
Além dos obstáculos mecânicos na circulação do sangue, outra das causas que destrói precoce e anormalmente os glóbulos vermelhos é a auto-agressão imunológica do organismo que destrói os glóbulos vermelhos por ter deixado de os reconhecer como seus. É a anemia hemolítica autoimune. A existência dos anticorpos que se unem aos glóbulos vermelhos facilitam a destruição pelo baço. Existem anemias hemolíticas por anticorpos quentes (que se manifestam à temperatura do corpo) e anemias hemolíticas por anticorpos frios ou “ab frigore”.
O laboratório fará um teste de Coombs que se positivo confirma a origem imunológica da anemia. As anemias hemolíticas “ab frigore” surgem no decorrer de infeções agudas, em leucemias e linfomas e na exposição ao frio. As outras aparecem no Lúpus, mas em 50% das situações não se lhes conhece a causa. Em 1/3 dos casos os corticosteroides são a terapeutica, reservando-se a ablação do baço para os casos em que falham. Outra anemia de causa imunológica é a rara hemoglobinúria paroxística noturna em que a destruição súbita (paroxística) de grande quantidade de glóbulos vermelhos, causa intensa hemoglobinúria (sangue na urina) e formação de coágulos nas grandes veias do abdómen e pernas.
A terceira causa responsável pela destruição dos glóbulos vermelhos é a agressão por parasitas do sangue circulante (malária) ou por bactérias várias (septicemia). Quanto ao favismo, explicá-lo-ei no próximo artigo em que abordarei as causas intrínsecas dos glóbulos vermelhos que explicam a anemias hemolíticas.
Por Germano de Sousa
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