Os cerca de 10 milhões de cidadãos suecos estão entre os seres humanos mais bem cuidados do mundo. Neste país escandinavo a taxa de sobrevivência dos doentes com cancro está entre as mais altas da Europa, segundo a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE).

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Porém, o crescente difícil acesso aos cuidados primários incomoda a população e converteu-se numa das maiores preocupações públicas. Para os suecos, que pagam em média um imposto sobre o rendimento que ronda os 50%, "existe um risco real de perderem pouco a pouco a sua confiança no Estado e no bem-estar social", avisa Lisa Pelling, do gabinete de estudos Arena Idé.

Alguns estudos apontam a imigração como a maior das preocupações dos suecos, mas as duas questões - saúde e imigração - parecem estar relacionadas. Para alguns, a chegada de mais de 400.000 requerentes de asilo desde 2012 agravou os problemas dos hospitais na Suécia, com a escassez de enfermeiros e a falta de médicos especialistas a fazer-se notar cada vez mais. Para outros, a imigração responde ao desafio demográfico de um país cuja população está a envelhecer e que, portanto, necessita de mais pessoas para se manter "ativa".

"Em apenas cinco anos, a população com mais de 75 anos aumentará em 70.000 pessoas, o que também implica mais doenças", adverte o primeiro-ministro social-democrata Stefan Löfven.

Na Suécia, a lei prevê um prazo máximo de 90 dias para uma operação ou consulta com um especialista. Apesar disso, um terço dos pacientes espera mais tempo do que o preconizado.

Dar à luz no carro tornou-se normal

Numa região de baixa densidade demográfica como Jämtland, no noroeste do país, mais de metade dos doentes espera mais de 90 dias para ser operada, face aos 17% de habitantes de Estocolmo a quem acontece o mesmo.

Embora o acesso a um médico de família esteja garantido quase em qualquer parte do país, é quase impossível consultar o mesmo especialista mais do que uma vez, isto porque, para ter mais rendimentos, médicos e enfermeiros preferem recorrer a empresas de trabalho temporário que gerem as suas carreiras de forma eficiente.

Por isso, muitos não ficam nos mesmos hospitais mais do que alguns meses.

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"Isso faz-nos perder muito tempo em matéria de diagnóstico e acompanhamento", lamenta Heidi Stenmyren, presidente da associação de médicos suecos. Para compensar a falta de profissionais, os serviços de consultas à distância, pela Internet por exemplo, ganham força na Suécia.

8 em cada 10 unidades tem falta de enfermeiros

Faltam enfermeiros em cerca de 80% das estruturas de saúde na Suécia, segundo o instituto sueco de estatísticas. Não existem profissionais de saúde qualificados suficientes e os que existem escolhem as melhores opções no mercado, deixando de parte a oferta hospitalar, que implica turnos noturnos, mais stress e urgências.

Cansadas de fazer horas extras em troca de salários medíocres, milhares de enfermeiros deixaram os seus postos de trabalho ao longo do último ano, indica Sineva Ribeiro, chefe da associação sueca de profissionais de saúde. O destino: unidades de assistência personalizada.

Em Solleftea, a cidade natal do primeiro-ministro, a única maternidade que existia fechou portas em 2017. Agora, a maternidade mais próxima, está a 200 quilómetros. Por isso, as parteiras ensinam e preparam as futuras mães para a eventualidade de darem à luz no carro.