As dores no ombro são sintomas bastante frequentes em pessoas que praticam desporto, seja uma modalidade em específico ou, de forma mais genérica, num ginásio. Mas se, por um lado, estas podem ser apenas indicadoras de que o treino foi mais intenso, se se mantiverem prolongadas no tempo, i.e., mais do que 3-4 dias, e em determinados movimentos específicos, então algo pode não estar bem.
Existem inúmeros problemas que podem produzir dor no ombro. A situação mais frequente, é o Conflicto Subacromial.
O que é?
Como o nome indica, há um conflito, ou seja, uma compressão de estruturas do ombro, nomeadamente dos tendões da Coifa dos Rotadores (mas não só), contra uma estrutura óssea chamada acrómio e por vezes um ligamento, chamado Córaco-Acromial. O músculo mais frequentemente afetado é o supra-espinhoso e, em particular, o seu tendão. O resultado é a presença de dor em determinadas amplitudes ao levantar o braço. Por vezes também na face externa e/ou posterior do braço, e edema (inchaço) no ombro que pode, ou não, estar visível.
Pode existir inflamação, ou não, dependendo da(s) estrutura(s) afectada(s). Por vezes pode estar associado uma sensação de “click”.
Como acontece?
O ombro é um complexo articular, ou seja, é constituído por 5 articulações ao todo. Com efeito, quando levantamos o braço não há apenas movimento no sítio mais óbvio, mas sim em 5 locais distintos. Por isto mesmo, é fácil perceber que há muito que pode dar errado. Numa situação de Conflicto Subacromial o que está a suceder é uma disfunção do movimento nalguma, em várias ou todas estas articulações.
Dos mais de 15 músculos que intervêm diretamente no ombro como um todo, alguns estabilizam as “peças”, enquanto outros as movem. Quando, por alguma razão, estes músculos contraem com um timing errado (i.e. muito tarde ou muito cedo) as articulações movem-se incorretamente. Pode existir também uma sobreposição de determinados músculos face a outros, ou seja, certos músculos terem tanta força que anulam outros. E este último cenário verifica-se bastante em pessoas que treinam predominantemente em máquinas e que seguem sistematicamente treinos de isolamento muscular.
E o que fazer?
Pois bem, se os músculos têm determinado momento para começar a contrair, e cada um tem o seu papel específico para permitir que movamos o braço, é isso mesmo que se tem de readquirir. Após uma análise do movimento, corrige-se a disfunção através de exercícios específicos, e tendo o cuidado de adereçar (grandes) pormenores como a posição da cabeça e da coluna ao realizá-los. Não esquecendo o fortalecimento da musculatura local, a correção do movimento é a parte mais importante, uma vez que se corrigem os mecanismos lesivos, e tem de ser executada corretamente, porque há a possibilidade de piorar a situação.
Pode também ser necessário colocar uma ligadura específica para reduzir a dor e facilitar o movimento e, naturalmente trabalhar manualmente os tendões lesados. A eletroterapia será também uma opção quer para reduzir a dor, quer para estimular a musculatura que está “adormecida”, e a terapia por luz, uma das melhores formas de estimular a cicatrização dos tendões afetados. O gelo e pomadas anti-inflamatórias podem também fazer sentido, mas não sempre, e nunca indiscriminadamente.
Ricardo Cotrim
Fisioterapeuta Holmes Place
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