A diarreia do viajante atinge, dependendo do destino, até 50% das pessoas que viajam para o estrangeiro, segundo dados da Direção-Geral da Saúde. Este problema de saúde ocorre normalmente durante a viagem, 12 a 72 horas após a ingestão de água ou alimentos contaminados, podendo prolongar-se no regresso ao país de origem. Ásia, Médio Oriente, África, América Latina são os destinos onde a probabilidade de ter este problema é maior.
De acordo com Vitória Rodrigues, microbiologista clínica do grupo Synlab, "esta é uma infeção intestinal que altera temporariamente e desequilibra a microbiota intestinal, um conjunto de microrganismos que coloniza o nosso intestino e que tem um papel fundamental na nossa saúde e no nosso bem-estar, protegendo-nos de infeções". Está, sobretudo, associada a culturas gastronómicas e a técnicas culinárias diferentes das nossas.
Os espaços de restauração que apresentem condições sanitárias e higiénicas que aparentem ser menos rigorosas na manipulação e preparação dos alimentos são de evitar a todo o custo.
"A diarreia do viajante ocorre quando as pessoas são expostas a bactérias ou, com menor frequência, a vírus ou parasitas contra os quais não desenvolveram imunidade porque nunca tiveram contato com eles. Por isso, as pessoas originárias de países mais desenvolvidos têm um risco mais elevado", sublinha a especialista portuguesa.
Além da Ásia, do Médio Oriente, de África e da América Latina, onde a probabilidade de ocorrência é mais elevada, Europa de Leste, Europa do Sul e algumas ilhas das Caraíbas são países onde, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o risco é moderado, sendo também necessário ter alguma precaução. "Pode ocorrer mesmo no nosso país", sublinha Vitória Rodrigues. Os sintomas começam geralmente de forma súbita.
Iniciam-se com o aumento da frequência de idas à casa de banho, com fezes líquidas, por vezes com sangue e/ou acompanhadas de febre, de cólicas abdominais, náuseas e vómitos. O maior risco associado a este problema é a desidratação, em particular nos grupos mais vulneráveis, como é o caso de crianças, grávidas, idosos e doentes crónicos. "A maior parte dos casos de diarreia do viajante não são graves", refere.
"Os sintomas desaparecem num curto espaço de tempo, três a cinco dias em média, sem ser necessário tratamento. No entanto, devem ser realizados exames laboratoriais ao sangue e às fezes nos casos de diarreia persistente ou aguda acompanhada de febre e/ou fezes com sangue e ainda em indivíduos mais suscetíveis ou que estiveram numa região geográfica onde se verificou a presença de cólera", realça Vitória Rodrigues.
"Os exames laboratoriais permitem a identificação do agente infetante conduzindo ao tratamento específico e dirigido, ao mesmo tempo que permitem identificar os agentes infeciosos circulantes em determinado local e ainda a presença de surtos", aconselha a especialista. "Para prevenir este tipo de situações, são necessários cuidados de higiene pessoal, que passam por lavar as mãos antes de comer", esclarece.
80% dos casos de diarreia do viajante são causados por bactérias
Segundo a microbiologista clínica, é preciso cuidado na escolha dos alimentos e das bebidas, evitando o gelo e locais que suscitem dúvidas. "Prevenir significa nem sempre comer quando, onde e o que se quer. Mesmo os viajantes que evitam beber a água local, podem-se infetar ao escovar os dentes com a água da torneira, sendo recomendado utilizar água engarrafada para esse efeito", sublinha Vitória Rodrigues.
"Colocar gelo feito com água local em qualquer bebida ou ingerir alimentos crus, que podem ter sido manuseados incorretamente ou lavados com a água local, também constitui um risco", adverte a microbiologista clínica. De acordo com a Universidade de Coimbra, esta "é a doença mais comum dos que se deslocam, podendo atingir 30 a 70% das pessoas que o fazem". Em mais de 80% dos casos, é causada por bactérias.
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