A dermatite atópica, também chamada eczema atópico, é a doença inflamatória crónica da pele mais comum na infância, podendo afetar 1 em cada 10 bebés. A grande maioria apresenta sintomas antes dos 5 anos de idade.
É uma doença multifatorial, ou seja, não é causada por um único fator. São importantes fatores genéticos e ambientais que interagem levando o sistema imunológico a reagir de uma forma exagerada, causando inflamação crónica na pele. Trata-se, assim, de uma doença inflamatória de tipo 2. Essa inflamação é responsável pelos sintomas característicos da dermatite atópica, como a pele seca, lesões cutâneas com vermelhidão, descamação e prurido (comichão). Em alguns casos, podem surgir fissuras, dor e ardor, crostas e exsudação, podendo aumentar o risco de infeções na pele.
As lesões cutâneas tendem a ter uma distribuição característica, até cerca dos 2 anos de idade com um envolvimento mais frequente da face, pescoço e superfícies extensoras dos membros e, mais tarde, as superfícies flexoras (dobras dos cotovelos, joelhos, tornozelos). No entanto, qualquer área pode estar envolvida e, em alguns casos, o envolvimento pode ser generalizado.
Na maioria dos casos, a doença é leve e evolui por períodos de recidiva e remissão (períodos em que está pior e outros em que está controlada), no entanto, em casos mais graves, não tratados, pode-se tornar persistente.
A dermatite atópica, sobretudo as formas mais graves, pode ter um impacto importante no dia a dia das crianças e dos seus cuidadores. O prurido pode ser intenso, prejudicando o sono e bem-estar emocional das crianças, as lesões cutâneas podem dificultar a realização de atividades diárias e, sobretudo quando há envolvimento das áreas expostas, podem influenciar de forma negativa a autoestima, provocando sensação de vergonha e interferência nas amizades.
Para os pais, cuidar de uma criança com dermatite atópica pode ser desafiador, não só pelo impacto psicológico, como também pelo desgaste de tempo, modificação das rotinas diárias e desgaste financeiro associado aos tratamentos e absentismo laboral. Além disso, uma vez que se trata de uma doença crónica, recorrente, é frequente a desmotivação, que pode contribuir para o stress e ansiedade na família.
O tratamento da dermatite atópica depende da gravidade da doença e deve ter em conta, não só as lesões cutâneas e sintomas associados, mas também o impacto na vida da criança e dos seus cuidadores.
A maioria das formas pode ser controlada com cuidados gerais, emolientes e medicamentos tópicos, sendo que as formas mais graves, necessitam de outro tipo de tratamento. Em idade pediátrica, estas opções de tratamento são mais limitadas, podendo estar associadas a riscos de segurança, quando utilizados a longo prazo. No entanto, existem, atualmente, opções mais seguras que se podem utilizar, tendo sido recentemente aprovado um medicamento para as formas mais graves, mesmo em bebés.
É importante perceber que, embora a dermatite atópica seja uma doença crónica, não significa que as crianças e bebés tenham de sofrer. Não é uma doença curável, mas é tratável. É possível ajudar estas crianças a viver com melhor qualidade de vida, o que irá contribuir não só para o bem-estar da própria criança, como também do agregado familiar.
Um artigo de Francisca Morgado, Assistente Hospitalar de Dermatologia e Venereologia no Centro Hospitalar de Leiria.
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