A odontopediatria é a área da medicina dentária que se dedica à saúde oral dos bebés, crianças e adolescentes.
A consulta de odontopediatria aposta no tratamento e prevenção dos dentes de leite, com o objetivo de que a criança atinja a idade adulta com uma boca sã, uma boa estética e um correto funcionamento dentário.
Um tratamento dentário precoce permite criar uma atitude positiva e responsável da criança para com a prevenção e manutenção da saúde oral, mantendo com isso as condições necessárias para o seu ótimo crescimento e desenvolvimento.
Os dentes temporários começam a fazer a sua aparição na boca por volta dos seis meses de idade, podendo provocar uma variedade muito grande de sintomas gerais supostamente associados à erupção destes dentes, nomeadamente febre, falta de apetite, erupção cutânea, aumento da salivação, alteração da consistência da saliva e/ou diarreia entre outros. Uma vez completa a erupção de toda a dentição temporária, estabelece-se a oclusão dos 20 dentes de leite.
A salivação excessiva durante a erupção pode estar relacionada diretamente com a dor e o desconforto da criança quando os dentes estão a nascer ou também porque ocorrem mudanças na qualidade da saliva, acompanhadas por aumento da viscosidade e dificuldade a engolir. Outro sintoma frequentemente observado durante a erupção dos dentes de leite é a diarreia acompanhada de febre e irritabilidade. O sono agitado, alterações no hábito de despertar à noite ou mesmo sono diurno são também situações que se podem encontrar.
Poucos dias antes do aparecimento dos dentes na cavidade oral ocorre, em geral, inflamação gengival. Massajar a gengiva, bem como a toma de um analgésico em algumas situações ajudam na diminuição da dor. Se permitimos à criança mastigar um mordedor, o processo de erupção será acelerado. Estes devem ser de material apropriado e colocados no frigorífico pois provocam isquemia na gengiva, diminuindo o desconforto.
Às vezes, são observados dentes nos recém-nascidos, podendo estes estar presentes na cavidade oral logo ao nascer (dente natal) ou aparecer no primeiro mês de vida (dente neonatal).
Normalmente estes dentes têm indicação para serem retirados se estiverem com mobilidade, porque podem ser deglutidos pelo bebé.
Os dentes de leite devem ser mantidos, sempre que possível até á erupção dos dentes definitivos, pois perante a perda de algum dente temporário, há tendência para a inclinação dos dentes adjacentes, criando assim dificuldade para a posterior erupção do dente definitivo.
Quanto mais posterior é a perda do dente, pior. A erupção dos dentes definitivos começa por volta dos 6-7 anos e, nesta altura, deve-se ter especial atenção aos primeiros molares definitivos que nascem atrás dos molares de leite sem nenhum dente ter caído nessa zona. Muitas vezes os pais não se apercebem e estes dentes são descurados, pois são vistos como dentes de leite. Por volta desta idade nascem também os incisivos centrais inferiores.
A mudança dentária ocorre até por volta dos 12-13 anos à exceção dos sisos, que erupcionam entre os 17 e os 30 anos, podendo ainda erupcionar mais tarde, não erupcionar ou mesmo já não se terem desenvolvido. A prevenção começa desde o aparecimento dos dentes de leite e consiste na instrução e motivação para a higiene oral (técnicas de escovagem e escova e pasta mais apropriada para cada idade) e aplicação de flúor (quando necessário e nunca em excesso, pois pode ser prejudicial).
Mas não se fica por aqui. Inclui ainda a aplicação de selantes de fissura (aplicação de um verniz sobre a face mastigatória dos molares de leite e molares e pré-molares definitivos, para evitar que as bactérias e os restos alimentares se acumulem nessa zona de difícil acesso na escovagem, prevenindo assim o aparecimento de cáries). A primeira visita preventiva ao dentista deve ser por volta dos seis meses para aconselhamento aos pais e dos 3-4 anos para aconselhamento da própria criança.
A acumulação de alimentos é maior nos dentes temporários e nos dentes definitivos das crianças, pois os sulcos da parte mastigatória dos dentes são mais pronunciados, ao contrário de um adulto no qual os dentes já sofreram cargas e foram-se desgastando não tendo sulcos tão proeminentes.
Quando as condições desfavoráveis permanecem porque a criança não elimina os alimentos, o que geralmente sucede devido a uma escovagem incorreta, aparecem lesões brancas nas zonas mais afetadas do dente, nomeadamente desmineralizações do dente que levam ao aparecimento de cárie.
Continua a ser frequente que os pais questionem as necessidades de estabelecer medidas, sejam preventivas ou restauradoras nos dentes temporários, argumentando que vão durar poucos anos e serão substituídos por outros sãos. Evitar a dor já seria uma das razões suficientes para manter a saúde dentária e não nos podemos esquecer que a manifestação de um processo infecioso e a sua persistência vai alterar os tecidos envolventes, podendo afetar a formação do dente permanente.
Uma das causas mais importantes da má oclusão em dentição permanente poderia ser evitada, impedindo as perdas dentárias prematuras. Mesmo outras funções como a deglutição ou a fonética podem ser afetadas negativamente no desenvolvimento de uma criança devido as perdas prematuras. A oportunidade do médico dentista realizar um exame oral precoce e fornecer as orientações aos pais durante a infância favorece uma boa saúde oral da criança, sendo por isso aconselhada uma visita regular ao dentista.
Texto: Alexandra Rodrigues (médica dentista)
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