Aquilo que parecia ser um colossal fracasso revelou-se um dos mais importantes avanços no que poderá vir a ser a cura contra a dengue. A farmacêutica Sanofi Pasteur desenvolveu uma vacina com eficácia parcial, capaz de proteger contra três sub-tipos do vírus. 
Uma eficácia de 30% pode parecer pouco significativa, mas ganha relevância  quando temos em consideração que não existe tratamento para a dengue. 
"A ocorrência da dengue avançou de forma espetacular" nos últimos anos, diz a Organização Mundial de Saúde (OMS), destacando um aumento preocupante das transmissões em áreas urbanas e a expansão para zonas do globo mais temperadas, como a Europa. O objetivo da organização é reduzir para metade as mortes por dengue até 2020.
Anualmente são afetadas 100 milhões de pessoas, das quais meio milhão, sobretudo crianças, desenvolvem a forma hemorrágica. Em 2,5% destes casos a doença é fatal.
A vacina desenvolvida pelo Sanofi Pasteur, cujos resultados foram publicados em setembro pela revista médica The Lancet, mostrou uma eficácia de 30,2% num teste de fase 2, realizado com 4.000 crianças tailandesas.
A procura de uma cura para a dengue tem-se relevado particularmente difícil porque existem quatro subtipos do vírus, que circulam paralelamente. A grande mais valia deste avanço científico, diz Derek Wallace, um dos autores do artigo, é provar “que uma vacina eficaz contra a dengue é possível”.
A vacinação permite que o indivíduo fique imune, porque ao ser introduzido um vírus ainda vivo mas fraco no organismo este reage produzindo anticorpos. 
Depois da desilusão, a vitória
Esta vacina, denominada CYD-TDV, já havia sido testada.  Os resultados, publicados num comunicado da farmacêutica em julho, tinham-se relevado decepcionantes, pois a taxa de eficácia era menor que a projetada inicialmente.
Todavia, num segundo momento, os investigadores perceberam que a vacina tinha sido perfeitamente eficaz contra três dos quatro subtipos de dengue, sendo a taxa de eficácia estabelecida entre os 60% e os 90% para os tipos DEN-1, DEN-3 e DEN-4. Só o tipo DEN-2 se mostrou resistente.
Ainda não é claro qual a eficácia da vacina quando aplicada, tendo em conta que os subtipos de vírus circulam paralelamente, sendo necessário aprofundar a pesquisa.
Por agora, a Sanofi iniciou um teste mais amplo, com 30 mil voluntários, recrutados em dez países da Ásia e da América Latina. O objetivo desta prova é utilizar a vacina em diferentes contextos epidemiológicos, com esperança de se evidenciar um benefício significativo.
Dengue em Portugal
Em Junho de 2011, o então Presidente do Instituto Português do Sangue, Álvaro Beleza, alertou para a possibilidade de a malária e a dengue chegarem a Portugal, consequência da maior circulação de pessoas e das mudanças climáticas que podem favorecer o aparecimento deste tipo de doenças.
"Portugal está a ter um clima cada vez mais tropical e isto é ótimo para os mosquitos: calor e humidade", recordou na altura Álvaro Beleza à margem do XXI Congresso Internacional de Transfusão Sanguínea.
O receio materializou-se na semana passada, quando no dia 3 de outubro chegaram as primeiras confirmações de casos de dengue na Madeira.  Sete dias depois haviam 18 casos confirmados e mais de 190 possíveis. 
Da Direção Geral de Saúde surgiram então várias recomendações para aqueles que decidissem viajar para o arquipélago, com especial enfoque no uso de repelentes que, no entanto, não devem ser usados em crianças com idades inferior a dois anos. 
Os sintomas normalmente associados à doença são de febre de início súbito, dores de cabeça, dores musculares e nas articulações, ou, em casos mais raros, manchas no corpo e hemorragias.
O vetor que transmite dengue apareceu pela primeira vez na Madeira em 2003, altura em que um estudante do Funchal encontrou em casa um mosquito diferente que guardou para mostrar a um especialista. 
@SAPO