Tendo em conta que a definição de saúde engloba um conjunto de fatores tais como: bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença ou de enfermidade pode afirmar-se que quando se fala em saúde da mulher isso está intimamente relacionada com a saúde sexual e reprodutiva nas suas diferentes vertentes. Numa perspetiva de prevenção e transversal a todas as faixas etárias está a obtenção de um estilo de vida saudável: alimentação equilibrada, prática de exercício físico regular e ausência de hábitos aditivos nomeadamente o consumo de álcool, tabaco e outras drogas. Também faz parte deste estilo de vida saudável uma vigilância médica regular e a realização de alguns rastreios com especial enfoque para os oncológicos.
Vamos então dividir as diferentes fases do ciclo de vida da mulher bem como os exames e rastreio mais apropriados a cada uma delas:
Adolescência: a adolescência, cujo início está marcado pela primeira menstruação (menarca) e que termina pelos 19 anos caracteriza-se pelas transformações do corpo e pelo aparecimento dos caracteres sexuais, pela definição da orientação sexual, pelo início das relações sexuais e pela ausência da procura dos cuidados de saúde!
Mas trata-se de uma fase crucial na descoberta da sexualidade e dos relacionamentos amorosos.
À primeira vista poder-se-ia pensar, “mas que cuidados de saúde são necessários nesta altura?”
O aconselhamento e a escolha de um método contracetivo são cruciais, bem como o rastreio das infeções de transmissão sexual para as jovens que já iniciaram as relações sexuais. Este rastreio deve ser realizado anualmente até aos 25 anos de idade e sempre que haja um novo parceiro sexual. Consiste na pesquisa do VIH (vírus da imunodeficiência humana) no sangue e da Chlamydia trachomatis e Gonococcus na urina ou no exsudado cervico vaginal.
Para as raparigas que não iniciaram as relações sexuais é também importante a realização da primeira consulta de ginecologia da adolescência para avaliar o ciclo menstrual.
Idade adulta: compreende o período que vai desde a adolescência até à menopausa.
A grande maioria das mulheres nesta faixa etária não procura os cuidados de saúde a não ser por problemas específicos! Mas, mais uma vez é fundamental a avaliação (em consulta), na área da saúde sexual e reprodutiva, do aconselhamento e escolha do método contracetivo adequado a cada situação e a cada fase da vida, da preparação da gravidez, da vigilância da gravidez e as a realização de consultas de ginecologia de rotina.
Em termos de rastreios deve continuar o rastreio das infeções sexualmente transmissíveis e inicia-se também o rastreio do cancro do colo do útero independentemente de ter sido (ou não) feita a vacina do HPV (vírus do papiloma humano).
O rastreio do cancro do colo do útero compreende a realização da citologia cervical ou da pesquisa da presença do HPV no colo do útero entre os 25 e os 65 anos de idade. A sua periodicidade é de 3 em 3 anos se for realizada a citologia e de 5 em 5 anos se for feita a pesquisa do vírus ou sempre que se tenha um novo parceiro sexual.
Menopausa e pós-menopausa: a menopausa acontece por volta dos 50 anos para a maioria das mulheres, fase que representa já mais de um terço da vida mulher. A menopausa significa que os ovários diminuem a produção das hormonas sexuais (estrogénios e progesterona) e acaba o ciclo menstrual, ou seja, as menstruações. Também podem surgir outros sinais e sintomas relacionados com a falta de estrogénios noutros orgãos como o osso, o aparelho cardio vascular, o sistema nervoso e até a própria pele, pelo que é muito importante um acompanhamento médico multidisciplinar, para que as mulheres possam viver esta fase da vida em pleno.
Em termos de saúde nesta fase há a destacar a necessidade de avaliação da necessidade, ou não da terapia hormonal da menopausa, do aconselhamento alimentar e nutricional para uma alimentação saudável e adequada a esta nova etapa da vida. Em termos de rastreios deve manter-se o do cancro do colo do útero até aos 65 anos e inicia-se o rastreio do cancro da mama e colorretal.
O rastreio do cancro da mama inicia-se por volta dos 50 anos e deve ser realizado de 2 em 2 anos até aos 69 anos segundo a Direção Geral de Saúde para as mulheres sem fatores de risco. Faz-se através da realização de uma mamografia e permite o diagnóstico precoce do cancro da mama aproximadamente 4 anos antes do início dos sintomas.
Já o rastreio do cancro colorretal faz-se através da pesquisa de sangue oculto nas fezes ou da colonoscopia dos 50 aos 74 anos.
Há, portanto, cuidados de saúde a ter em conta dependendo da fase da vida em que se encontra a mulher e nunca é demais relembrá-los. E, neste dia em que se celebra o Dia Mundial da Saúde Feminina, as mulheres podem contar com uma nova plataforma- Tempo de Fortalecer- que contém inúmeros conteúdos didáticos, validados pela comunidade médica, sobre os mais diversos temas que impactam a saúde feminina como a gravidez, cancro, menopausa, entre muitos outros.
Um artigo da médica Fátima Palma, especialista em Ginecologia/Obstetrícia e Presidente Sociedade Portuguesa de Medicina Reprodutiva e Contracepção.
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