O cancro do cólon e recto (também chamado cancro do intestino) é o tumor que mais mata no nosso país: é responsável por mais de três mil óbitos todos os anos. No entanto, a prevenção pode ser uma arma eficaz para diminuir o número de casos e de mortes.

A propósito do Mês Europeu do Cancro Colo-Rectal que se assinala em Março, damos-lhe quatro conselhos que podem salvar vidas.

Diariamente, morrem em Portugal dez pessoas com cancro do intestino (ou colo-rectal). São estas as contas da Sociedade Portuguesa de Endoscopia Digestiva (SPED).

De acordo com a sua presidente, a gastrenterologista Isabelle Cremers, o cancro colo-rectal constitui a «principal causa de morte por doença oncológica» no nosso país. Isto acontece «apesar de em Portugal estarem disponíveis e serem utilizadas todas as terapêuticas conhecidas e estudadas para a doença».

De acordo com a especialista, «tal significa que o investimento apenas no tratamento do cancro em fase sintomática não será capaz de inverter o aumento que se tem verificado nos últimos anos no número de novos casos e de mortes causadas pela doença». «A arma capaz de diminuir o número de casos e de mortes é a Prevenção», alerta Isabelle Cremers.

Há várias atitudes preventivas que se podem ter em relação ao cancro colo-rectal. Saiba quais são.

1. Tenha hábitos de vida saudáveis

Julga-se que o abandono progressivo da dieta mediterrânica, rica em fibras, entre outras características saudáveis, o recurso cada vez mais frequente à comida rápida e a falta de exercício físico podem ser algumas das principais causas do cancro colo-rectal (talvez por isso a sua incidência tenha aumentado tanto nos últimos anos…).

Assim, um dos mais importantes conselhos para a prevenção deste cancro tem a ver com a adopção de hábitos de vida saudáveis.

Em relação à alimentação, a SPED afirma que «provavelmente, o nosso tipo de alimentação tradicional, sobretudo aquilo a que chamamos dieta mediterrânica (rica em azeite, alho, legumes, lacticínios e peixe) tem efeitos protectores». Por isso, é fundamental:

- praticar uma alimentação rica em fibras, isto é, consumir cereais diariamente, como pão, arroz e massa (de preferência integrais, pela sua riqueza em fibras)

- consumir pelo menos cinco doses diárias de fruta fresca e vegetais («o que equivale aproximadamente a um consumo de 400 gramas por dia»)

- limitar o consumo de gorduras - principalmente de origem animal – e de carnes vermelhas

- evitar o consumo excessivo de calorias

- ingerir bastantes líquidos, sobretudo água

Outro hábito de vida que é necessário cultivar é a prática de exercício físico. A SPED aconselha a que se mantenha «actividade física regular, de preferência, diariamente», (nem que seja uma caminhada de meia hora) que, juntamente com uma alimentação equilibrada, deverá visar o controlo do peso.

Evitar o excesso de peso e a obesidade é uma medida importante para prevenir várias doenças, entre as quais, o cancro do intestino. De acordo com a Europacolon Portugal, Associação de Luta contra o Cancro do Intestino, «estudos clínicos provaram que a obesidade está directamente relacionada com o cancro colo-rectal».

Outros conselhos referentes ao estilo de vida têm a ver com, claro, evitar o tabagismo e o consumo de bebidas alcoólicas. 

2. Conheça os factores de risco

Ninguém sabe, exactamente, quais as causas do cancro colo-rectal. Mas a investigação científica tem demonstrado vários factores de risco para desenvolver a doença.

Para além dos factores relacionados com o estilo de vida, que já verificamos, como uma dieta rica em gorduras, pobre em hortofrutícolas e fibras, o tabagismo e a obesidade, existem vários outros. São os seguintes:

Idade: a probabilidade de ter cancro colorrectal aumenta com a idade. Embora possa ocorrer em qualquer grupo etário, a larga maioria dos diagnósticos desta doença é efectuada em pessoas com mais de 50 anos.

Presença de pólipos no intestino grosso: Sabe-se que a generalidade dos carcinomas colo-rectais tem a sua origem em pólipos benignos (lesões pré-malignas localizadas na parede intestinal, comuns em pessoas com mais de 50 anos), que, ao evoluírem e aumentarem de tamanho, podem tornar-se cancerígenos. Detectar e remover os pólipos pode reduzir o risco de cancro colo-rectal.

História familiar: os familiares próximos de uma pessoa com história de cancro colo-rectal têm maior probabilidade de desenvolver a doença, especialmente se o familiar teve a doença ainda jovem.

Alterações genéticas: os familiares de pessoas com cancro do cólon não-polipoide hereditário ou com polipose adenomatosa familiar deverão fazer testes genéticos para detectar quaisquer alterações genéticas específicas. Nas pessoas que tenham alterações nos seus genes, o médico pode sugerir formas de tentar reduzir o risco ou melhorar a detecção de cancro colorrectal.

Antecedentes clínicos: uma pessoa que já teve cancro colo-rectal pode voltar a desenvolver o mesmo tipo de cancro. Também as mulheres que tenham história de cancro dos ovários, do útero (endométrio) ou da mama apresentam, de alguma forma, risco aumentado de desenvolver cancro colo-rectal.

Doença inflamatória do intestino: uma pessoa que teve, durante muitos anos, uma doença que provoca inflamação do cólon, como a colite ulcerosa ou doença de Crohn, tem risco aumentado de desenvolver cancro.

Se pensa que pode apresentar risco aumentado para ter cancro, deverá discutir essa preocupação com o médico. Poderá saber como reduzir o risco e qual será o calendário ideal para fazer exames regulares.

3. Faça exames de rastreio

Quando o tumor é detectado num estádio precoce, ainda localizado exclusivamente no intestino, a taxa de sucesso dos tratamentos é superior a 95 por cento. Por isso, a realização de exames de rastreio assume uma importância inegável.

Os especialistas aconselham que o rastreio seja iniciado em pessoas com idade igual ou superior a 50 anos, mesmo que não apresentem factores de risco.

Por outro lado, se apresentar risco mais elevado do que a média para ter cancro colo-rectal, deve falar com o médico sobre a possibilidade de dever fazer exames de rastreio mais cedo.

Para além dos exames físicos e clínicos habituais, deverão realizar-se, de forma mais ou menos periódica, isolados ou em conjunto, sempre sob orientação clínica, o toque rectal, a pesquisa de sangue oculto nas fezes e/ou outros exames que permitem a visualização directa ou indirecta do cólon e do recto, como sejam a sigmoidoscopia e a colonoscopia.

De referir que a sigmoidoscopia e/ou a colonoscopia têm a virtualidade de serem exames simultaneamente diagnósticos e terapêuticos: se detectarem eventuais lesões pré-malignas (pólipos), estes serão removidos pelo médico, o que é um aspecto de medicina preventiva comprovadamente eficaz.

«Inúmeros trabalhos científicos demonstram que o rastreio e o tratamento das lesões detectadas se traduzem quer na diminuição do número de casos da doença quer na mortalidade determinada por ela», afirma a presidente da Sociedade Portuguesa de Endoscopia Digestiva, a gastrenterologista Isabelle Cremers.

4. Esteja atento(a) aos sinais de alarme

O carcinoma colo-rectal é uma doença «silenciosa», com uma evolução lenta e arrastada, sendo que a manifestação clínica só se torna aparente quando a cura é mais difícil de conseguir.

Por isso, mais do que atentar em eventuais sintomas, deve ter uma atitude pró-activa, realizando, por exemplo, exames regulares de rastreio, como já vimos. No entanto, é importante saber quais os principais sinais da doença. De acordo com a Europacolon Portugal, são os seguintes:

- alteração nos hábitos intestinais, com episódios repetidos de diarreia ou prisão de ventre que não tinha antes e/ou fezes muito escuras

- perda de sangue pelo recto/ânus ou misturado nas fezes sem irritação, dor ou prurido

- sensação de que o intestino não esvazia completamente

- desconforto abdominal

- falta de apetite e perda de peso inexplicadas

- cansaço sem razão aparente

Repare que, geralmente, as fases iniciais do cancro não causam dor. Se tem estes sintomas, não espere até ter dor para consultar o médico.

É importante reter, explica a Europacolon Portugal, que a maioria dos sintomas acaba por não ser sinal de um cancro. Podem ser provocados por tumores benignos ou outros problemas (como hemorróidas).

Só o médico poderá confirmar. Não obstante, qualquer pessoa com estes sintomas ou quaisquer outras alterações de saúde relevantes, deve consultar o médico, para diagnosticar e tratar o problema tão cedo quanto possível.

Texto: Ana João Fernandes

Revisão científica: Dr.ª Isabelle Cremers, Presidente da Sociedade Portuguesa de Endoscopia Digestiva (SPED).