Descrita pela primeira vez no século XIX por Jean-Martin Charcot, é uma doença progressiva do sistema músculo-esquelético que se caracteriza por luxações, fraturas patológicas e deformidades debilitantes.

Este distúrbio é uma consequência de lesões dos nervos que impedem a perceção da dor articular. Por conseguinte, as lesões e fraturas insignificantes e repetidas passam despercebidas.

Os seus sintomas são praticamente inexistentes e, geralmente, só se manifestam quando a deterioração acumulada acaba por destruir a articulação de forma permanente, daí a necessidade de uma vigilância atenta.

Causas

A artropatia de Charcot é, muitas vezes, uma complicação da diabetes, que pode surgir de modo súbito, sem causa aparente, com dor, tumefação do membro e alteração da superfície articular. O pé é frequentemente atingido. A lesão articular deste tipo pode estar também associada à lepra, à insensibilidade congénita à dor, ao alcoolismo crónico e a neuropatia periférica. Em qualquer destas situações é a ausência ou a redução da  sensibilidade à dor num indivíduo que mantém a sua atividade física e, como tal, não se defende dos pequenos traumatismos, que causa a lesão articular.

Sintomas

Vários fatores parecem contribuir para o desenvolvimento da destruição osteoarticular, tais como perda da sensibilidade, stress mecânico, redução da sensibilidade vibratória, fraqueza muscular, neuropatia autónoma com alteração da irrigação sanguínea do osso e pequenos traumatismos.

A fragilidade dos ligamentos e a atrofia dos músculos conduzem a instabilidade e sub-luxação da articulação. O joelho, a anca e o pé são as articulações mais afetadas. Surge frequentemente como uma artropatia de desgaste com grande deformação. Os fragmentos ósseos podem flutuar em torno da articulação, produzindo um som áspero quando esta se move.

Diagnóstico

A suspeita surge quando um indivíduo com doença neurológica ou neuropatia periférica, muitas vezes associada a uma alteração metabólica como a diabetes, apresenta uma  lesão articular relativamente indolor. As radiografias revelam a lesão articular bem como depósitos de cálcio e crescimento ósseo anormal.

Tratamento

As articulações da anca e do joelho podem ser tratadas cirurgicamente, sendo substituídas por próteses articulares enquanto a doença neurológica não evoluir.

Para além disso, o tratamento da doença neurológica subjacente pode retardar ou mesmo reverter a destruição articular.

Deve, por isso, após detetada a doença, ser regularmente acompanhado por um especialista.

Fatores de risco

Para além da diabetes não controlada e as doenças metabólicas que enfraquecem os ossos são alguns dos fatores de risco. A transplantação renal, os tratamentos imunossupressores e a osteoporose causada pelo uso prolongado de corticoides são também potenciais fatores de risco de artropatia de Charcot.

Prevenção

Em alguns casos, a artropatia de Charcot pode ser evitada. O diagnóstico, a imobilização de fracturas indolores e o uso de talas para articulações instáveis podem auxiliar na interrupção ou na minimização da lesão articular.

Revisão científica: Catarina Resende de Oliveira (presidente do Centro de Neurociências e Biologia Celular de Coimbra)